Em
Dezembro de 2013 – há precisamente seis anos, portanto –, uma criança de quatro
anos brincava num jardim perto de sua casa, na Guiné. Como é próprio das
crianças, foi espreitar o tronco oco de uma árvore que estava por perto, ali à
mão, convidativa e apetecível. Em resultado da deflorestação, os morcegos da
fruta tinham agora poucas árvores para se agruparem. O menino teve a
infelicidade de inalar vírus dos dejectos dos morcegos – morcegos que tiveram
de se deslocar devido à escassez de árvores, árvores que agora tinham de
abrigar morcegos numa quantidade tal que os seus dejectos passaram a ser
perigosos.
É
hoje perfeitamente sabido que foi assim, através daquela criança, que o terrível
vírus do Ébola se transmitiu aos humanos.
Já
em 2008, os investigadores tinham identificado 335 doenças humanas surgidas
entre 1960 e 2004, a maioria das quais de origem animal. Mais de 300 doenças
surgidas em quatro décadas.
Em
2019, a OMS produziu um relatório a chamar a atenção para os perigos. Chamava-se,
expressivamente, Um Mundo em Perigo.
Ninguém ligou.
Pior
ainda, desde há muito que os governantes subestimavam o perigo. Espantoso,
terrífico: no próprio dia em que a epidemia de Ébola começou na República Democrática
do Congo, o presidente Donald Trump despediu o presidente do Conselho de
Segurança da Saúde Nacional e dissolveu a equipa.
Não
sei o que dirão disto os apoiantes de Donald Trump, mas factos são factos – e este
livro está cheio deles. Esmagador.