terça-feira, 8 de abril de 2025

São Cristóvão pela Europa (305).

 

 

 

Entre 1 e 4 de Fevereiro últimos estive na Alemanha mais propriamente no Estado de Schleswig- Holstein que, em grande parte, pertenceu em tempos ao Reino da Dinamarca.

Cheguei à Alemanha, ao porto de Heiligenhafen, por via marítima, vindo da Dinamarca num trajecto muito calmo, numa tarde tranquila de Inverno no Mar Báltico.

 


 

Heilgenhafen situa-se na ponta da península de Wagrien.

Na cidade sobressai a igreja de São Nicolau, construída no Século XIII num estilo de transição entre o românico e o gótico e depois sofrendo múltiplas transformações ao longo da História. É hoje uma igreja luterana. No seu interior, uma imagem de São Cristóvão do início do Século XVI. É em madeira e mede quase três metros de altura.

 



Rendsburg é uma cidade fortificada que se situou durante séculos na fronteira Sul da Dinamarca.

A igreja de Santa Maria foi erigida por volta de 1300 num estilo gótico tardio depois de a anterior igreja ter ardido em 1286. Mantem o aspecto de uma igreja católica apesar de estar entregue ao culto luterano desde que o Duque de Schleswig-Holstein, e depois rei da Dinamarca e da Noruega, Frederico I ter aderido à Reforma.

O tecto é ornamentado com frescos do Século XIV. O nosso Santo está representado.

 



A cidade de Schleswig, sede do ducado do mesmo nome, situa-se no extremo do fiorde de Schlei. A sua existência está documentada desde o Século IX, tendo sido povoada por comunidades viking.

Foi e é sede episcopal.

A catedral, hoje luterana, de São Pedro é mencionada pela primeira vez em 1134, é um dos principais monumentos do Estado de Schleswig- Holstein e ocupa um lugar especial na História partilhada entre a Alemanha e a Dinamarca.

No interior, uma bela estátua da oficina Hans Brüggemann, já anteriormente aqui citado. Tem cerca de quatro metros e meio de altura e foi realizada no primeiro quartel do Século XVI, imediatamente antes da Reforma.

Outra peça importante é o chamado Altar de Bordesholm, da autoria de Hans Brüggemann, esculpido em madeira de carvalho e contendo cerca de 400 figuras.

 




                                                    Fotografias de 1 e 2 de Fevereiro de 2025

                                                                                         José Liberato



segunda-feira, 7 de abril de 2025

Os direitos que fazem mover a cidadania no quadro do desenvolvimento humano.

 


Partindo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pedra angular do mundo pós-Segunda Guerra Mundial, padrão referencial para todos os povos e nações, Francisco Bethencourt elabora um admirável ensaio onde irá pôr em ecrã gigante as diferentes peças do motor em que arrancou o funcionamento das liberdades, direitos e garantias que são a matriz das democracias – Fundação Francisco Manuel dos Santos, maio de 2003.

Em jeito de preâmbulo, dirá que o debate sobre os Direitos Humanos e a sua história pode ser abordado em torno de quatro perguntas: existia uma base anterior universal de respeito por estes direitos?, que contexto histórico permitiu a emergência do conceito de tais direitos?, e como é que eles têm sido contestados ou utilizados pelos diversos poderes mundiais? e, por último, como são eles apropriados, defendidos e alargados?

Entrando na problemática da cidadania e direitos cívicos, recorda-nos que esta noção aparece ligada ao reconhecimento de pertença a uma comunidade urbana, era uma noção predominantemente local. Para apreciar a sua evolução, é de pôr o acento tónico no sistema político europeu do século XIX, como da colonização se passou para a condenação da escravatura, como se foi gradualmente caminhando para o direito à liberdade de opinião, de expressão e de associação. Em sequência, vai pôr em revista o tema da colonização, os valores imperiais preponderantes, e observa que o colonialismo teve um enorme impacto em direitos básicos que não estavam formalizados ao nível internacional, mas que eram compreendidos e praticados. “A crescente mercantilização do ser humano, enquanto objeto do sistema de plantação criado no Atlântico, é um dos resultados da colonização. As consequências da expansão europeia são visíveis nas teorias das raças e na divisão internacional do trabalho, que deixaram traços até aos dias de hoje, com enorme impacto nos direitos civis.”

São essas as visões sociais que porá em análise, destacando a escravidão. “A abolição da escravatura pode ser considerada o primeiro grande desafio de construção de direitos humanos ao nível do globo. O abolicionismo colocou a noção de dignidade humana no centro do debate político, noção que permitiu dar voz ao descontentamento de camadas sociais oprimidas em todo o mundo, tendo alimentado poderosas revoltas na China e no Sudeste Asiático, bem como os movimentos anticoloniais que se sucederam na Ásia e em África ao longo dos séculos XIX e XX.” Da escravidão passamos para a barbárie, recorde-se que as potências colonizadoras conferiam-se ao direito de se autoproclamarem civilizadoras de outros povos. Quem fala em barbárie fala em doutrinas raciais, discriminação com base em supremacia do branco, de determinado credo religioso, de supostos atributos culturais étnicos, daí haver um compêndio de raças humanas que tinha no seu topo uma unidade social de cariz étnico que podia marginalizar, perseguir e até mesmo exterminar minorias racializadas, o autor recorda que continua a haver grupos de excluídos, particularmente na Ásia e África.

Continuam a pesar as divisões no género, o peso preponderante vai para as mulheres, sujeitas a subordinação ao homem, até salário inferior ao do homem, tudo produto de uma milenária divisão homem/mulher; no quadro democrático tem havido uma evolução para o direito ao voto feminino, ganharam direito as minorias de comportamento sexual alternativo.

Os Direitos Humanos deram um salto com o processo da descolonização, que tem conhecido várias etapas desde as independências no Novo Mundo e da Revolução Americana, a fragmentação do império otomano, o ciclo de independências na Europa durante e a seguir à Primeira Guerra Mundial, o colapso dos impérios europeus e japonês na sequência da Segunda Guerra Mundial e a desagregação do Império Soviético. “Estes processos de descolonização permitiram a criação de mais de cem novos países, que passaram a fazer parte das Nações Unidas, respondendo ao princípio de autodeterminação dos povos.” É neste contexto que se pode e deve apreciar os efeitos da desintegração da União Soviética e a invasão da Ucrânia pela Federação Russa e acontecimentos asiáticos como o Tibete que proclamou a independência em 1911, mas acabou por ser anexado em 1950 pela China.

Há ainda outros três domínios dos Direitos Humanos abordados pelo autor: as migrações internacionais, os direitos económicos e sociais e os direitos ambientais. As migrações podem reportar-nos à imigração e ao quadro ideológico da contestação da imigração poder pôr em causa valores soberanos e culturas nacionais, de um modo geral uma bandeira contestatária de ultranacionalistas e apoiantes do racismo. Como observa o autor, “a livre circulação de pessoas no mundo é um ideal que está longe de ser partilhado por um grande número de pessoas dos países desenvolvidos. Contudo, o bloqueio à imigração conhece limites, pois, se existe necessidade económica, o movimento de pessoas não tende a diminuir. O respeito pelos Direitos Humanos é confrontado pelo tráfico de migrantes, pelas máfias locais de exploração de trabalho clandestino e por políticas de Estado que se tornam cada vez mais perversas.

O largo espetro de direitos económicos e sociais prende-se com a intervenção do Estado, sensível aos direitos sindicais, da alimentação ou habitação, de cuidados médicos e assistenciais, à livre escolha de emprego, na repressão das violências, a começar pela doméstica, bem como o respeito pelo direito de decisão individual e controlo do próprio corpo. Temos, enfim, os direitos ambientais, já que nas últimas décadas se agravaram as formas de poluição acompanhadas de alterações climáticas e contaminações da natureza. “A perceção de uma natureza em alto risco, com danos já irreparáveis, é agora aceite pela maior parte da população depois de uma guerra ideológica suscitada pelos interesses económicos estabelecidos, baseados num modelo de desenvolvimento, de exaustão e contaminação dos recursos.” E recorda-se que este direito ao ambiente tem vindo a ser impulsionado depois da década de 1970. Este direito “resulta de uma nova sensibilidade face à destruição da natureza que coloca em risco a espécie humana. O modelo de desenvolvimento extrativista – que transforma a natureza num mero recurso para a produção e o consumo maciço, com uma manipulação química que altera o metabolismo dos animais – reduz de forma radical a diversidade biológica, destrói os ecossistemas e torna o planeta inabitável. Estes direitos visam criar um novo modelo de desenvolvimento sustentado, que recuse a energia dos combustíveis fósseis, bem como a contaminação dos mares e das águas, do solo e do subsolo, ou seja, de toda a cadeia alimentar.”

Como mensagem final, Francisco Bethencourt observa que “É o caráter interligado e aberto dos diferentes direitos que vai certamente prevalecer no futuro, como suporte das mudanças necessárias para a redução das desigualdades e a afirmação da justiça social no seio de cada sociedade e entre sociedades.”

De leitura mais do que obrigatória. 


                                                                        Mário Beja Santos




domingo, 6 de abril de 2025

Elon.

 

Busto de Elon Musk,
 inagurado em 2024 na autoestrada 4 junto a Starbase em Boca Chica, no Texas




sábado, 5 de abril de 2025

A Brown University e os cortes de fundos federais.

 




Tenho sido bombardeado com perguntas sobre as notícias divulgadas pela imprensa sobre as ameaças de cortes de fundos federais à minha alma mater, a Brown University. O primeiro alvo foi a Columbia University, depois Harvard e agora Brown. Como o New York Times é só para assinantes, vai aqui a notícia publicada no jornal diário da Brown, o Brown Daily Herald, 

As razões apresentadas são simplesmente ridículas e seguem as regras do costume: dar a volta à realidade e noticiar como convém, usando a linguagem que a gente do MAGA gosta e aplaude.

Em 53 anos de vida na Brown, nunca vi nenhum anti-semintismo. O que sempre presenciei foi uma notoriamente larga presença de professores e alunos judeus, bem como de administradores. É assim em todas as Ivy Leagues e na maioria das grandes universidades americanas. Claro que há um grupo ativo anti-Netanyahu e pró-palestiniano, mas isso não significa anti-semitismo. De qualquer modo, no ano passado os 100 alunos (100 apenas entre 10 mil) que acamparam no Brown Green, a praça central da universidade diante do edifífico da reitoria, exigindo que a Brown retirasse os investimentos nalgumas firmas israelitas, acabaram negociando um acordo. Se se recordam, contei aqui como me reuni com cinco alunos do grupo de liderança (eram meus alunos no University Course) e como lhes recomendei calma, diálogo e busca de uma situação de compromisso (compromising em inglês é diferente, significa "ambas as partes chegarem a um acordo").

No fundo, do que se trata é de um ataque às melhores universidades acusando-as de elitismo, uma maneira de atacar a investigação científica nas áreas em que Trump não está interessado, inclusive as áreas da saúde.

Se quiserem ver a reação da corporação (o órgão que supervisiona  o governo da universidade, formada por gente eleita mas que não trabalha na universidade), aqui vai:

https://mail.google.com/mail/u/0/#search/Brown+freedom/FMfcgzQZTzXvHcqzrPnfvfTBTHJVScXw

 

Tal como disse há tempos, a procissão ainda vai no adro.

 

                                                                    Onésimo Teotónio de Almeida





sexta-feira, 4 de abril de 2025

Usbequistão, encruzilhada de civilizações (22).

 

 

 

A exemplo de Boukhara, um dos monumentos mais importantes de Khiva é a fortaleza.

Denominada de Koukhna Ark na língua usbeque, tem fundações do Século V e muralhas acrescentadas ao longo dos séculos.

Foi a residência principal dos khans de Khiva, um refúgio fortificado para tempos de incerteza.

 







 

 

A antiga religião de Zaratustra, o Zoroastrismo, foi predominante na Região e, em especial na Pérsia, até às invasões árabes. Aqui acredita-se que o profeta teria nascido em Khiva no Século VII antes de Cristo. Zaratustra foi um percursor lançando conceitos como o monoteísmo, o Céu e o Inferno ou o livre arbítrio.

Ainda hoje permanecem vestígios dessa influência como é o caso de uns azulejos verdes em forma de laço muito presentes na arquitectura de Khiva. Representam o lema fundamental do zoroastrismo: Bons pensamentos, boas palavras, boas acções.

 




                                 Fotografias de 2 e3 de Outubro de 2024

                                                                        José Liberato



quinta-feira, 3 de abril de 2025

Um comandante do PAIGC, o homem dos mísseis Strela e de Guidaje, vem depor para a História.

 



 

Tirando o acervo documental, felizmente e em grande parte conservado e tratado, de Amílcar Cabral, para além das suas obras de cariz ideológico na luta anticolonial e como líder revolucionário, restam-nos poucos depoimentos de responsáveis do PAIGC, tanto no que se refere ao período da luta armada como nos tempos posteriores. Há uma primeira obra de Aristides Pereira, para a qual concorreu Leopoldo Amado, uma segunda também deste alto dirigente entrevistado pelo jornalista José Vicente Lopes, desta feita mais disponível e quebrando sigilos do passado; há o testemunho de Luís Cabral sobre a obra do irmão, a par do seu percurso dentro do PAIGC, biografia e hagiografia; temos igualmente testemunhos de dirigentes ou quadros do PAIGC de origem cabo-verdiana ou guineense, mas o cabal esclarecimento que comportam é diminuto, alguns deles  têm até a particularidade de serem de pura vanglória ou procurarem trazer justificação às tragédias de governação a partir de 1974 (das quais eles não têm qualquer responsabilidade).

O que Rosário Luz vem procurar neste trabalho biográfico (ou autobiográfico?) sobre Manecas Santos é procurar revisitar a viagem de uma sigla, revelada efémera, sobre a unidade Guiné-Cabo Verde, contando com um ator de eleição, o então jovem cabo-verdiano Manuel Maria Monteiro Santos, nascido na cidade de Mindelo, em ambiente burguês, tendo estudado em Lisboa e daqui partido para a luta, preparando-se em Cuba, e depois, degrau a degrau, galgando a hierarquia e assumindo responsabilidades nomeadamente no período histórico de 1973, quando o aparecimento dos mísseis Strela abanaram fortemente a última supremacia que restava às Forças Armadas na Guiné; viagem que se prolonga com o seu desempenho no poder do Estado, como chegou a ministro da Economia e das Finanças e vem agora depor sobre o colapso do Estado. Temos, pois, Manecas Santos na primeira pessoa, em jeito de prólogo fala da sua chegada à Guiné em 1968, como fez a tarimba, com quem combateu e aonde, em 1971 passa a ser comandante de um corpo de Exército e no ano seguinte, tendo voltado de treinos em antiaéreos na Crimeia, irá assumir o comando militar na frente norte.

Fala-nos do Mindelo, da família e do meio; concluído o liceu em S. Vicente, vem para Lisboa, estuda na Faculdade de Ciências, refere-nos os estudantes africanos, em 1964 parte para Paris, daqui segue para Argel, depois Havana, confessa que a intensidade do treinamento físico foi implacável e que, fisicamente, a guerra na Guiné não foi mais do que um passeio. Descreve o Exército de Libertação e como ele foi concebido por Amílcar Cabral. “Cabral cuidava pessoalmente da formação de todas as unidades do Exército. Era ele quem escolhia o comandante, o segundo oficial e organizava toda a estrutura. Apesar da sua baixa estatura, emanava autoridade, e quando era necessário impor-se, fazia-o sem titubear. No entanto, possuía uma natureza afável e um trato agradável. Mantinha uma relação de extrema proximidade com os soldados, chamando cada um pelo nome e visitando frequentemente as bases para verificar o andamento das operações.” Menciona o recrutamento dos guerrilheiros, como o trabalho de mobilização foi encetado no Sul. Alude à organização tanto do Exército como o papel das milícias, o apoio dado pela União Soviética, observa a importância da medida tomada no I Congresso em que o poder miliar ficou subordinado ao poder político. E deixa-nos uma descrição detalhada de como se processou a guerrilha na Guiné, esta foi o palco das mais violentas das guerras coloniais. É neste preciso instante que Manecas Santos nos traz a primeira inverdade: em meados de 1968, cerca de dois terços do território já estavam sob a administração do PAIGC.

Há cerca de 18 anos à porfia no que concerne a História da Guiné Portuguesa e a História da Guiné-Bissau, tenho-me deparado com mitologias e mentiras cujos autores teimam em franco despudor reincidir. O doutor Carlos Lopes, a quem devemos estudos de alto significado, escreveu que na Operação Tridente o PAIGC tinha abatido 500 militares portugueses; o historiador português Rui Ramos veio dizer que em 1970 o PAIGC tinha sido sustido, já não tinha bases na Guiné, vinha do exterior, flagelava e retirava – pergunta-se como é que é possível uma tirada destas quando possuímos a história das campanhas da Guiné que demonstram inequivocamente que nesse ano de 1970 íamos aos mesmo santuários em que PAIGC estava instalado há anos, e com pouco sucesso.

Inevitavelmente, falará da operação de cerco a Guidaje e da resposta das tropas portuguesas enviando um batalhão de comandos africanos até uma base do PAIGC em Cumbamory. Dirá: “Sofremos baixas absolutamente negligenciadas: cinco feridos e nenhum homem morto. O exército colonial sofreu baixas pesadas. O adversário deixou 16 cadáveres em campo, todos de comandos africanos.” Desse-se Manecas Santos ao cuidado de investigar o que sabemos sobre tal operação, teria ido ao Arquivo da Defesa Nacional, onde existe um registo das transmissões portuguesas que interferiram nas transmissões de Cumbamory para Conacri, onde se diz abertamente que as forças do PAIGC tiveram um número de mortos superior a 60…

Quanto ao assassinato de Cabral, é contido, não fala nem na PIDE nem em Spínola, dirá que foi praticado por ilustres desconhecidos, está certamente esquecido que o embaixador de Cuba em Conacri, Oscar Oramas, chegou pouco depois ao local do crime, e escreveu mais tarde que viu Osvaldo Vieira, entre outros, a esconder-se atrás da vegetação; acontece que esses ilustres desconhecidos ameaçaram todo o grupo cabo-verdiano de morte, deram-lhes ordem de prisão, enquanto se dirigiam para Sékou Turé. Acontece que não existe nenhum documento que comprove qualquer propósito de Spínola ou da PIDE para induzir tal assassinato. Mas convém deixar sempre no ar de que o complô tinha o braço longo de Spínola e dos seus infiltrados.

Reconheça-se a importância do seu depoimento na época do pós-Cabral, dá-nos um retrato da multiplicidade de contradições dentro do PAIGC e da sua ocupação do Estado, relata o definhamento ideológico, fala da sua atividade como ministro e quantos aos fuzilamentos praticados pelo PAIGC, dirá algo de surpreendente, que talvez por volta de 1976 Luís Cabral jantou com Ramalho Eanes em Belém, e este ter-lhe-á pedido que fossem devolvidos a Portugal antigos efetivos do exército colonial, Cabral Terá concordado, convocou altos responsáveis, entre eles António Alcântara Buscardini, chefe dos Serviços de Segurança do Estado e este, com toda a desfaçatez informou Cabral que os soldados não podiam ser devolvidos porque já tinham sido executados, tinha tomado individualmente tal decisão, Cabral engoliu a afronta. A história seguramente estará na desmemória de Manecas, haverá fuzilamentos, que estão devidamente registados até dezembro de 1977, e há que perguntar como é que é possível um chefe de segurança andar a praticar matanças sem o presidente saber. Nino Vieira será uma rábula parecida depois de 14 de novembro de 1980, manda abrir as valas de gente executada, ele que era primeiro-ministro, também não sabia…

Um testemunho para juntar ao de outros líderes do PAIGC, impõe-se como um retrato fiel do desmoronamento do Estado, onde Manecas Santos foi elemento preponderante. 


                                                        Mário Beja Santos




terça-feira, 1 de abril de 2025

São Cristóvão pela Europa (304).

 

 

 

Prossegui o périplo dinamarquês na ilha da Zelândia, a maior da Dinamarca se não considerarmos a agora tão falada Gronelândia.

Primeiro, estive no Mosteiro de Sorø.

O mosteiro foi instituído em 1140, tendo passado à importante Ordem de Cister em 1162.

Muito foi destruído desde então. Mas muito resta para ser visto, nomeadamente a Igreja construída em tijolo e no modelo seguido pela Ordem em toda a Europa.

No interior, para além de um magnífico fresco representando São Cristóvão, encontram-se vários túmulos reais. Entre eles o de Valdemar IV, bisneto da Infanta de Portugal D. Berengária, filha do nosso rei D. Sancho I, que foi rainha da Dinamarca ao casar-se em 1213 com o rei Valdemar II.

 




No Norte da ilha da Zelândia, visitei a igreja de Egebjerg, existente pelo menos desde 1295. É uma das mais antigas igrejas da Dinamarca construída em pedra.

Tem um único fresco que mostra um São Cristóvão lutando com as águas revoltas de um rio onde um peixe salta.  O Menino Jesus senta-se na sua mão direita enquanto, com a mão esquerda, o Santo se apoia no cajado que já floresce abundantemente.

A imagem, de três metros de altura, data da segunda metade do Século XIV e caracteriza-se por o Santo ter um aspecto franzino quase de Madonna, o que é invulgar.

 



A igreja de Egebjerg situa-se junto ao litoral e constituía ponto de referência dos navegadores. Por isso talvez a presença do nosso Santo.

Muito próximo, a praia de Lommestenen com uma beleza invernal muito própria destas costas do Mar do Norte:




 

                                        Fotografias de 4 e 5 de Fevereiro de 2025

                                                                        José Liberato



Usbequistão, encruzilhada de civilizações (21).

 

 

 

Se as imagens diurnas da cidade de Khiva, antigo oásis, são lindíssimas, as noturnas não ficam atrás.

Não precisam aliás de palavras.

 



 




 

                                Fotografias de 2 e 3 de Outubro de 2024

                                                             José Liberato