tag:blogger.com,1999:blog-8531448258230043912.post8443806124948466167..comments2024-03-27T12:21:55.527+00:00Comments on Malomil: Um mês no Luberon: extractos dum diário provençal (13). Malomilhttp://www.blogger.com/profile/09087381765119326048noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-8531448258230043912.post-31983144139776266382013-06-26T18:48:24.626+01:002013-06-26T18:48:24.626+01:00Há trinta anos havia em Lisboa dois ou três alfarr...Há trinta anos havia em Lisboa dois ou três alfarrabistas trombudos, entre as dezenas que tinham porta aberta. Um deles era meu vizinho, mas nem esse facto o impedia de me responder sistematicamente a qualquer pergunta com o antipático monossílabo que indica negação. Nunca ergueu o traseiro da cadeira para me mostrar alguma coisa ou para confirmar se tinha ou não tinha o que eu procurava. E não me deixava entrar na 'sala de dentro', aonde tinham livre acesso, ao fim do dia, os seus compinchas de tertúlia.<br /> <br />Outro alfarrabista lisboeta, um senhor todo bem-posto e altaneiro, olhava-me sempre desconfiado. Na minha presença queixou-se várias vezes de que lhe desapareciam coisas expostas na livraria. Fazia-me sentir como um potencial ladrão! Para meu gáudio, quem parece que o roubou mesmo foi um fulano catita que por lá aparecia e com quem ele mantinha amenas cavaqueiras. Também este livreiro me vedava a entrada à sua 'sala de dentro', coisa só permitida a alguns sortudos. Ele tinha um real desprezo por quem lhe entrasse na loja com ar de ‘pechincheiro’ – ou seja, aquilo que qualquer cliente gosta de ser. O homem não era nada careiro, justiça lhe seja feita, mas odiava saber que tinha vendido algo por um preço estupidamente baixo. Isso aconteceu uma vez com uma edição raríssima, talvez a primeira, de Das Kapital, que ele, antimarxista ferrenho, despachou por 100 escudos. Uma coisa de bradar aos céus, pois essa edição vende-se hoje por 10 ou 20 mil euros. Também eu ‘explorei’ uma vez este livreiro, mas sem ele perceber, nem eu... Um dia comprei-lhe por 90 escudos um livreco antigo, sem especial valor, que só em casa descobri ter no seu interior uma faquinha de abrir estilo arte nova, toda em marfim, com o cabo magnificamente decorado. Coisa para valer na altura três ou quatro contos e que hoje não compraria por menos de 150 euros. Como o livreco em causa era da década de 1890 e estava aberto até ao sítio da faquinha, depreendi que o objecto deve ter ficado ali escondido durante cem anos. O livreiro nunca soube que foi dono daquela belíssima faca. Poupei-lhe esse desgosto... <br />JB<br />Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8531448258230043912.post-262060513932761982013-06-26T15:01:57.808+01:002013-06-26T15:01:57.808+01:00Discordo da generalização. Se encontrei alguns alf...Discordo da generalização. Se encontrei alguns alfarrabistas desse tipo, foram exceção. Em vários países por ande andei, encontrei-os em sua maioria simpáticos e comunicativos, e houve até quem me confiasse a chave de seu armazém para eu mexer à vontade. Com alguns fiz mesmo boas amizades.Anonymousnoreply@blogger.com