quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Archivio Luce.



A Rita Carvalho mostrou-me este arquivo maravilhoso, aqui. Filmes, milhares de imagens, a não perder por nada deste mondo.




terça-feira, 30 de outubro de 2012

Verano porteño.

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Fotografias de João Cortes
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Se soubesse o que iria ser, meses depois, a cegueira dos seus dias, nunca se teria sequer aproximado de Buenos Aires. E, no entanto, foi. Se o não tivesse feito na altura, jamais lá iria – o que, reconheça-se, não seria grande perda para a humanidade, a sua e a dos outros. Será ridículo perguntar se gostou da cidade e das suas mulheres, dos machos com tatuagens, dos velhos dementes nos jardins. Nem o questionem sobre os cheiros dos cafés antigos ou o bulício das avenidas, clichés de qualquer guia turístico. Não foi como turista, ainda que obviamente o fosse. Não aspirou a ser viajante, categoria pedante que nunca esteve nas suas intenções mais íntimas, nem no horizonte escasso das suas possibilidades materiais. Não desejou ser porteño. Em boa verdade, não soube o que o levara ali. No entanto, foi. E viu, como se macho fosse, as mulheres que os machos miravam nas tardes de ociosidade. Enquanto lá esteve, nas avenidas travestidas de Paris, julgou-se um tigre ardente ou um punhal de Borges. Em suma: percorreu milhares de quilómetros mas não conseguiu livrar-se dos lugares-comuns sobre Buenos Aires. Nunca seria  um de lá, constatação que o encheu de júbilo e, por breves instantes, o reconciliou com a pátria. As imagens que ora se publicam dão uma pálida ideia da tensão latente no calor das ruas.