A
Teresa corre o mundo inteiro e até consta que, de vez em quando, faz escala em Lisboa.
De muito longe, dos lugares mais exóticos do planeta, manda postais, que é um
hábito que se perdeu – e perdeu mal. Uma vez, quando esteve cá, passeámos pela
Feira do Livro, subindo e descendo o Parque Eduardo VII debaixo de uma chuva
miudinha (chove sempre na Feira do Livro, sempre). Acho que não olhámos sequer para
um único livro, entretidos que estávamos a matar saudades e nas conversas que
temos desde há trinta anos – o que, por ser muito tempo, agora torna já pouco o
tempo que nos resta para conversarmos juntos. Na altura, confesso, eu andava interessadíssimo
pela Mãe de Brejnev, devendo esclarecer que estamos a falar de uma ucraniana escultural, sem dúvida, mas que tem 62 metros de altura e pesa, em média, 560 toneladas. Para agravar as
coisas, dizem que possui um feitio instável, por defeito nos fundamentos. Qualquer dia vem abaixo, como a semana passada fizeram a uma estátua também em Kiev, capital
da Ucrânia. Tendo vagar e paciência, ainda falarei aqui com calma da Mãe de
Brejnev, o nome que, na gíria dos ucranianos, chamam ao monumento Mãe da Pátria.
Nessa época, a Teresa vivia em Kiev e falámos da beleza brutalista daquele portento,
que fica num parque grande e bonito. Fez-me então a promessa de que iria fotografar o
Museu da Grande Guerra Patriótica, que é como na língua oficial da Ucrânia chamam
à Segunda Mundial. Há uns tempos, cumpriu a promessa e trouxe-me uma pen branca, e de plástico, com centenas de fotografias
do parque onde está o Museu da Grande Guerra Patriótica, com a Mãe de Brejnev
por cima. Preparem-se, por isso, porque nos próximos meses vamos ter aqui muitas
e muitas imagens do Museu da Grande Guerra Patriótica. As fotografias são minhas
porque foram da Teresa – deu-mas no dia em que mais precisava delas.
António Araújo
Muito bom. Um dos raros momentos em que o realismo jdanovista teve vida.
ResponderEliminar