sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O que é uma escritora marginal?

 
 
 
 
 
 
 
Maria Gabriela Llansol, em Numerosas Linhas – Livro de Horas III (Jodoigne-Herbais, 1979-1980), Lisboa, Assírio & Alvim, 2013: «Destituo-me da literatura portuguesa e passo para o lado da língua; abandonei o meu papel equívoco de mundanamente e mudamente pedir reconhecimento, e constatei que, para lá do campo da literatura vigente, há o campo inundado da língua, sempre a evoluir na fenomenologia do tempo; não peço mais ser o que não poderei ser, pois tomei deliberadamente outro caminho em que escrever faz parte dos amores íntimos, intimamente» (p. 81).
 
«Eu sou uma mulher pobre porque trabalho pobremente, isto é, por causa do cansaço múltiplo destes dias, nem sempre posso escrever. Por ser, independente o mais possível, por causa de um texto em si mesmo» (p. 85).
 
 
Garry Winogrand, 1964
 
 
 
 
Diz-nos depois o crítico António Guerreiro, hoje no Público, p. 36 do suplemento Ipsilon: «Mas há, no entanto, algo novo neste diário, que não conhecíamos dos anteriores: momentos de desalento, de crise, de desânimo perante as dificuldades. Trata-se de um momento em que Maria Gabriela Llansol não tem editor e não consegue publicar. E é também um momento, com a mudança para o ‘cativeiro de Herbais’, em que o trabalho pesa e as dificuldades — inclusivamente, ou sobretudo, as financeiras — são muitas. Percebemos aqui claramente que Maria Gabriela Llansol não teve uma vida fácil na Bélgica, não gozou de um exílio dourado, e que a pobreza, nos seus livros, não é apenas uma metáfora ou uma entidade ‘figural’.»

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Apetece perguntar (sem ironia): não haverá aqui uma contradição (que o crítico não quis ver) entre Llansol ter decidido abandonar o «papel equívoco de mundanamente e mudamente pedir reconhecimento» e o «desânimo» de não ter editor e não conseguir publicar? Entre a decisão de colocar-se «para lá do campo da literatura vigente», entre declarar «não peço mais ser o que não poderei ser, pois tomei deliberadamente outro caminho em que escrever faz parte dos amores íntimos, intimamente» e o desalento e a crise por não conseguir o reconhecimento de se ver editada?
 
 
João Pedro George






1 comentário:

  1. Há aqui uma grave pecha em todo este raciocínio baseado no texto do António Guerreiro: o autor não cita nenhuma passagem que ilustre este suposto desânimo da Llansol. Ou seja, custa-me sequer começar a elaborar seja o que for quando se pede para articular duas citações de uma autor com um comentário vago de um jornalista sobre essa autora que nem sequer chega a ser paráfrase.

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