terça-feira, 10 de novembro de 2015

Os manuais escolares.

 
 

Fotografia de Ângela Camila Castelo-Branco


 
 
Uma família de dois filhos gastou, em Setembro deste ano, 685,68 euros em livros obrigatórios e material. O do 5.º ano, 473,68 euros. O do 3.º ano, 212,00euros.
Outra mãe de dois filhos deu-me informação pormenorizada sobre alguns manuais dos 7.º e 10.º anos. O mais barato custa 23,28 euros e o mais caro 39,79euro. No total, uma verba acima dos 600,00 euros.
Pensando no rendimento das famílias portuguesas, na necessidade de desenvolver a educação e no custo real da produção de livros, estes são preços absurdos.
Ao fim de trinta ou quarenta anos de leis, umas de direita, favoráveis à liberdade, outras de esquerda, orientados pela igualdade, temos preços de manuais obscenos. Mais caros do que livros de autores famosos com direitos de autor elevados...
Vejamos o que nos diz a teoria. Com a direita, a liberdade de escolha preside à nossa vida. A concorrência beneficia o consumidor. A mão invisível faz com que as distorções do mercado não desempenhem um pérfido papel. Na sua impiedade, o mercado eliminará a corrupção e a especulação. Com a liberdade, sei quais são os melhores manuais escolares para os meus filhos.
Com a esquerda, o Estado protector preside à nossa vida. O Estado regula o mercado e a minha escolha é informada. A autoridade democrática impõe preços razoáveis, zela pela igualdade, proíbe a corrupção e fomenta a qualidade técnica. Com o Estado, sei quais são os melhores manuais escolares para os meus filhos.
O que temos, num e noutro caso, são os manuais mais caros da Europa, pesados, luxuosos e efémeros. Não transitam de irmão para irmão, são impressos em papel muito caro e têm páginas inúteis em papel couché. Abundam em exercícios fúteis e fotografias ridículas. Muitos são de medíocre qualidade técnica e científica.
A produção de manuais escolares está nas mãos de um racket com mais poder do que o Estado e as famílias. Com mais força do que a esquerda e a direita.
 
 
António Barreto
 
(publicado no Diário de Notícias, aqui; reproduzido no Malomil com autorização de António Barreto – um abraço grato, António!)

 

 

3 comentários:

  1. Lanço aqui um desafio aos Antónios (Araújo e Barreto e outros): são pessoas instruídas e que conhecem os meandros do poder; AJUDEM-NOS a lutar contra isto. Digam-nos o que fazer! Petições (servirão para alguma coisa?), que tipo de pressões e junto de quem? Precisamos literalmente de um manual de instruções. Não servem as instruções de outros sítios (Reino Unido , EUA, Escandinávia, etc, etc). Precisamos de instruções em português, feitas por portugueses e para aplicar em Portugal. Mais uma vez agradeço o que já estão a fazer. Divulgar é o primeiro passo.

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    Respostas
    1. Nada, não se pode fazer nada.
      Nem Santo António podia ajudar.
      Há poderes em Portugal intocáveis, por exemplo RTP, Fundações, Clubes de Futebol, Casa do Douro etc.
      O Ministério da Educação (só o nome é logo tenebroso) uma monstro de burocracia que nem Kafka podia ter imaginado nos seus melhores delírios, será, porventura, a cereja.
      Venha que governo vier nada mudará.

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    2. Não perca a esperança:

      http://www.reutilizar.org/REUTILIZAR.ORG/REUTILIZAR.html

      Um abraço

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