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- Eis-me. E eis os estores... |
É que se o homem não vem naquele dia , nunca mais , só depois do Natal . Pára tudo no Natal . À senhora de Manuel Assunção oferecem os colegas , todos os benditos anos , na troca de prendas da festa de Natal , a mesma caixinha de Ferrero Rocher, que ela dá à Madalena, que diz : “Ah, é verdade , vocês são Testemunhas de Jeová , não celebram o Natal !”.
O homem dos estores viera há quinze dias e deixara tudo na mesma . Ficara parado a meio do quarto , com uma espécie de indignação , mista de desânimo , a olhar para as ripas encravadas em diagonal . Diagnosticou, desdramatizou. “Isto quase nem vale a pena a deslocação!”. “Mas é que nos faz imensa diferença !”, disse a senhora de Manuel Assunção . “Pois virei na quarta-feira!”, disse o homem dos estores .
E era sexta , hora de almoço , e a Sarinha lia a passagem dedicada ao Segundo Advento , tocaram à campainha , a família imobilizou-se. Seria ele ? Poderiam essa noite dormir sem a ameaça da precoce madrugada ? A Sarinha foi devagar (era mesmo assim , lenta ) abrir a porta . Manuel e Senhora sorriram, por cima de cavalas e batatas . “Aqui estou!”, disse o homem . E assim foi.
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Luísa Costa Gomes
(in Setembro e outros contos)
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