sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Carta de Séneca a Lucílio.

 
 
 
{Carta IX}
 
Para que me esforço para obter um amigo? Para que eu tenha por quem eu possa morrer, para que eu tenha a quem seguir no exílio, à morte de quem eu me oponha e impeça. Isso que tu descreves, do que se aproxima em vista do que é vantajoso, do que se espera que haja algo a ganhar, é comércio, não amizade. Não duvides que o amor possui algo similar à amizade: que se possa dizer aquele afecto [ser] uma amizade enlouquecida. Acaso alguém ama por causa do lucro? Acaso alguém ama por causa da ambição ou da glória? O próprio amor, por si mesmo indiferente a todas as outras coisas, inflama os espíritos para o desejo da Beleza não sem esperança de ternura mútua. E então? A causa do que é digno forma aliança com um afecto torpe?
«Não se trata», dizes tu, «agora [de discutir] isto, se a amizade deve ser buscada em razão de si mesma». Pelo contrário, nada é mais necessário. Com efeito, se deve ser procurada em razão dela mesma, só pode atingi-la quem se basta. «De que modo então a atinge?» Do mesmo modo que atinge a coisa mais bela, não [sendo] atraído pelo lucro nem atemorizado pela inconstância da fortuna. Trai a majestade da amizade quem a procura em vista da circunstância favorável.
 


3 comentários:

  1. Trata-se, ao contrário do que diz o título, de carta de Sêneca a Lucílio.

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    1. Já corrigido, muito obrigado.
      Cordialmente,
      António Araújo

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  2. Cartas de Séneca a Lucílio


    “Dos Filósofos”


    SENECA LVCILIO SVO SALVTEM

    Eu aplaudo e alegro-me com o facto de que tú persistires nos teus estudos e que, pondo de lado tudo o resto, fazeres o objectivo de cada dia o tornares-te um Homem melhor. Eu não te exorto simplesmente a continuares ; Eu súplico-te que o faças. No entanto aviso-te que não procedas como aqueles que buscam a notoriedade ao provocarem comentários pela sua indumentária ou, de uma maneira geral, pelo seu modo de vida. Vestes sujas, uma cabeleira desgrenhada, uma barba hisurta, o proclamar abertamente desprezo pelas baixelas de prata, e o de se preferir dormir no chão nú, ou outras formas de exibicionismo, devem ser evitadas. A dedicação à Filosofia já causa por si bastante escárnio para que pioremos as coisas ao rejeitarmos abertamente o modo de vida dos outros cidadãos.
    Interiormente devemos ser diferentes em todos os aspectos, mas exteriormente devemos conformarmos-nos com os usos da Sociedade. Não uses uma toga demasiado rica ou vistosa. Não é necessário comer em louça de prata com incrustações de ouro; mas não devemos pensar que a ausencia de prata e ouro é prova de uma vida simples. Mantenhamos portanto padrões mais elevados que os das multidões, mais elevados mas não contrários, de outro modo estaríamos a repelir aqueles que tentamos ajudar. O resultado seria a sua recusa em imitar-nos em algumas coisas com o receio de terem de nos imitar em todas as coisas. A primeira regra que a filosofia ensina é o sentimento de irmandade com todos os Homens; por outras palavras, simpatia e sociabilidade. Estaríamos a afastar-nos dos nossos objectivos se não fizessemos assim. Como sabes o nosso lema é “Vive de acordo com a Natureza” mas seria contrário à própria Natureza torturar o corpo, odiar a elegancia simples, ser propósitadamente sujo, comer coisas repelentes. Tal como é sinal de luxo usar coisas ricas e delicadas, é sinal de fraco juízo rejeitar o que é habitual e que pode ser adquirido por pouco. A filosofia demanda uma vida simples mas não uma penitência, e pode-se perfeitamente ser simples e limpo ao mesmo tempo.
    Este é a vida que defendo: Um equilibrio entre as dos sábios e as do mundo em geral. As pessoas deverão admirá-la, mas compreende-la também. Deveremos portanto agir como toda a gente ? Deverão não existir diferenças entre nós e o mundo? “Sim, e uma bem grande”, mas que sejam os outros a perceber, se olharem bem, que somos diferentes do rebanho e quando nos visitarem que seja por nós e não pela nossa riqueza. Grande é um homem que usa louça de barro como se fosse de prata, mas é igualmente grande aquele que usa prata como se fosse barro. Instavel é a mente que não suporta a ideia de riqueza.
    Mas, por hoje, gostaria de partilhar contigo os ensinamentos de Hecato, que aconselham a limitar os nossos desejos para curarmos os nossos medos.
    “Deixa de ter esperança”, diz ele, “e deixarás de ter medo”. Mas, perguntarás: “Como sentimentos tão diferentes podem estar lado a lado?”. Desta maneira, meu caro Lucílio: Embora pareçam opostos estão na realidade ligados. Assim como as mesmas correntes prendem o prisioneiro e o seu guarda, a esperança e o medo andam juntos:À esperança segue-se o medo. Ambos são sinal de um espirito que se deixa perturbar na tentativa de conhecer o futuro, não se adaptando ao presente. E desta maneira a capacidade humana de fazer previsões em vez de ser útil torna-se uma desgraça. Os animais fogem dos perigos que os ameaçam, e uma vez livres deles regressam a uma existencia tranquila . Ao contário, nós homens atormentamos-nos igualmente com o que já aconteceu e com o que poderá vir a acontecer. A nossa memória recorda os infortunios passados enquanto que, tentando advinhar o futuro, os antecipamos. O presente somente não torna ninguém infeliz. Até sempre.

    (tradução livre)

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