Ao publicar
estas imagens da exposição Penteados e Adornos Femininos das Indígenas
de Angola, promovida em 1951 pela Agência Geral das Colónias, sob o
patrocínio do Ministro das Colónias, e muitas outras do mesmo teor que tenho
divulgado aqui, há uma interrogação que me assaltou: até que ponto aquilo a que assistimos, um novo
interesse pelo tempo colonial (sobretudo no que se refere ao seu imaginário), não
significa uma nova forma de colonialismo? Ou, pelo menos, um revisitar da
atracção pelo «exótico» que marcou o século XIX e se prolongou até meados do
século XX?
Em si mesmo, isso nada tem de
censurável. Por exemplo, na publicação das imagens destas mulheres – alguém
duvida? – não existia apenas um propósito político, propagandístico, colonizador, o que se
quiser. Havia também, queiramos ou não, um gosto voyeur, dentro dos estritos limites da moralidade vigente, na contemplação de
corpos desnudados e seios de mulheres.
E agora, no nosso tempo, o renovado
interesse por este universo tropical, sobretudo ao nível imagético e iconográfico, não tem
algo de revivalista? A questão é mais funda do que falar-se do «remorso do
homem branco», para usar as palavras de Pascal Bruckner; e, obviamente, deve ser vista com
serenidade. Não é, entendamo-nos, um ataque rasteiro aos post-colonial
studies. Dizer que os estudos pós-coloniais são, em si mesmos, uma forma de
«colonialismo académico», praticado no conforto dos gabinetes das universidades do Ocidente, é coisa que não faz sentido. Mas faz sentido – e, provavelmente, já
alguém falou disto – perguntar se a revisitação do imaginário colonial não devia,
ela própria, ter consciência da sua «pulsão exótica» e incorporar essa
autocrítica nos trabalhos que desenvolve. Será, não será? Aqui fica a pergunta.
António Araújo
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