Uma
tarde estava eu a trabalhar no meu gabinete, sentado à secretária e de costas voltadas
para a porta de rede, e do outro lado da minha residência encontrava-se um
carpinteiro europeu a fazer reparações nas janelas, quando este ouviu gritos
aflitivos do sargento do hospital a chamar por mim, dizendo para me acautelar
do cozinheiro que levava consigo uma faca escondida para me assassinar. O
operário aproximou-se imediatamente do meu gabinete e notou que um preto ia
galgando os degraus da escada da residência, sem dúvida para levar a efeito a
façanha, e vendo-o quase a alcançar a porta de rede, derrubou-o com uma
paulada, salvando-me assim da morte. Revistado o serviçal encontrou-se-lhe uma
grande faca de cozinha, escondida, e interrogado declarou-me que os outros seus
companheiros da brigada o tinham instigado a matar-me. Castiguei-o com trabalhos
nos pântanos e mandei-o ligar com corrente a um outro subordinado.
(Bernardo Francisco
Bruto da Costa, Vinte e Três Anos ao Serviço
do País no Combate às Doenças em África, Lisboa, Livraria Portugália, s.d.,
pág. 125)
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