sexta-feira, 31 de julho de 2015
quinta-feira, 30 de julho de 2015
impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 87 - DAVE HOLLAND
A
culpa foi outra vez do fulgurante talento de olheiro de Miles Davis, que só teve
comparação no de Art Blakey. Em 1968, numa passagem por Londres, Davis ouviu um
jovem contrabaixista no legendário clube de Ronnie Scott. A cena não era
excêntrica, pois por essa Europa do jazz havia dotadíssimos músicos locais que
faziam um tirocínio de luxo acompanhando as grandes estrelas quando passavam
por lá em digressão. Mas Miles ouviu algo de especial naquele rapaz, de modo
que não se coibiu de o convidar logo ali.
Foi
assim que Dave Holland, um filho da classe operária de Wolverhampton, que aos quatro
anos já dedilhava um cavaquinho e aos 22 ostentava no currículo sessões com
Coleman Hawkins, Ben Webster ou Joe Henderson, desembarcou em Nova Iorque um
mês depois dessa ditosa noite, integrando a formação de Miles Davis imediatamente,
no dia seguinte à sua chegada. “Ele conversou pouco comigo, queria que eu
desenvolvesse as minhas próprias soluções sem ter em conta os contrabaixistas
que me precederam”, resumiu Holland. Que Miles terá gostado dele, prova-o o
facto de passado um ano, em 1969, ter integrado a formação que gravou o angular
Bitches Brew.
Mas
a índole experimental de Dave Holland não acomodou a deriva de Miles pelo rock
e os compromissos estéticos que ela exigia. Daí que em 1970 faz uma viragem de
180 graus e forma o grupo Circle, com o saxofonista Anthony Braxton e o
baterista Barry Altschul que começavam a marcar terreno no então transbordante
e sempre convulso campo do free jazz.
Juntando
o influente flautista Sam Rivers ao Circle, Dave Holland assina em 1973 o disco
“Conference of the Birds” que se tornou, e ainda hoje é, um momento decisivo no
repertório de vanguarda do jazz.
Começou
também com “Conference of the Birds” a longa associação de Holland à etiqueta
ECM, só rompida em 2003, precisamente com “Extended play, live at Birdland”,
data a partir da qual o contrabaixista constituiu a sua própria editora, num
movimento cada vez mais frequente nos artistas que preferem ter em mãos o
controle da produção, da edição e dos direitos.
Poucos
poderão evocar um percurso musical tão díspar e irrequieto quanto Dave Holland.
E tudo isto poderia ter dado num ecletismo frustre se não tivesse resultado no
quinteto com o qual tem trabalhado desde 1998, a partir do disco “Points of
View”, após um período em que procurou várias companhias, nenhuma delas
improdutiva mas também sem que delas resultasse a formidável empatia demonstrada
com os elementos de “Extended play”.
Extended Play, Live at Birdland
2003
ECM 1884/65
Dave Holland (contrabaixo);
Chris Potter (saxofone tenor, alto soprano); Robin Eubanks (trombone); Steve
Nelson (vibraphone, marimba); Billy Kilson (bateria).
A
grande vantagem deste disco em relação aos restantes do grupo, sendo todos
pepitas de um filão que parece inesgotável, é o fulgor de uma actuação ao vivo.
Ao vivo a duração não é um constrangimento e os intérpretes podem desenvolver
parágrafos em vez de frases, mostrando que é na pontuação e na fluidez que está
a arte. Além disso não há nada como uma plateia para puxar pela adrenalina e
espevitar os sentidos. Claro que ambos os motivos podem dar para o torto: os
solos perderem toda a síntese e tornarem-se deambulações erráticas e o
nervosismo entupir a veia criativa. Nada disto sucede em “Extended play”, um
duplo CD no qual se podem fruir duas horas de jazz, com trechos que chegam a
durar vinte minutos, sem a mais pequena redundância. O longo tema de abertura
declara o programa. Com uma estrutura canónica, os instrumentos vão tendo à vez
e em boa ordem os seus compassos de improvisação, momentos de diálogo,
torrentes de energia. A densidade harmónica é a palavra de ordem e a verve é
intensa. O solo de Dave Holland perto do final da faixa é elucidativo do seu
estilo: um dedilhar potente vincando as notas, sempre a libertar traços
melódicos e sobretudo muito funky, demonstrando porque é ele um mestre do ostinato
ou do vamp.“Extended play, live at Birdland” é quase febril nalgumas passagens.
Talvez Dave Holland e os seus companheiros quisessem mostrar com o seu fervor que
Nova Iorque era invencível, nestes quatro dias de concertos, realizados no
final de Novembro de 2001, com a memória da tragédia do 11 de Setembro ainda em
carne viva.
José Navarro de Andrade
quarta-feira, 29 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
terça-feira, 28 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
domingo, 26 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
sábado, 25 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 39 - WES MONTGOMERY
Foi meteórica a ascensão de Wes
Montgomery. Em 1958 era parte dos Montgomery Brothers, o trio constituído por
vibrafone ou piano (Buddy), contrabaixo ou baixo elétrico (Monk) e guitarra
(Wes) que acolhia nos clubes locais os grandes músicos de passagem por
Indianápolis; em 1961, depois de descoberto por Cannonball Adderley, tornou-se,
evidente e destacadamente, o primeiro entre os guitarristas de jazz nas polls
da Downbeat, sendo anunciado pela sua editora como “a melhor coisa que
acontecera à guitarra desde Charlie Christian”.
Wes Montgomery teve uma vocação
serôdia. Casou-se aos 19 anos, arranjou emprego como soldador e só no intervalo
destas funções começou a entreter-se com a sua nova guitarra de seis cordas
amplificada. A epifania teve-a ao escutar a composição “Solo Flight”, de
Charlie Christian – era isto! E depois foi indo de parceria com os irmãos, sem
nunca ter conseguido ler música como deve ser e aprendendo de orelha todas as
complexidades musicais. Entre 1948-50 ainda fez uma digressão com a orquestra
de Lionel Hampton, mas acabou por regressar a casa, sem glória nem bronca.
Nas grandes orquestras de jazz a
guitarra “era como a baunilha num bolo” sentenciou Irving Ashby, antecessor de
Montgomery na orquestra de Lionel Hampton, “não a saboreamos quando está lá,
mas sentimos a sua falta quando não a acrescentamos à receita.” Se do outro
lado do Atlântico as variações de Django Reinhardt provocavam sensação, foi o
destaque de Charlie Christian na orquestra de Benny Goodman que deu
protagonismo à guitarra do jazz. De um modo quase desinteressado Wes Montgomery
tornou-se o elo seguinte.
É diferente o dedilhar de
Montgomery, com a polpa do polegar em vez da unha ou da palheta, o que lhe
permitia extrair da guitarra um som mais brando, quase de bossa nova. Sobre
isto, a sua preocupação, além das oitavas que tornaram famoso o seu estilo, foi
sempre o apuro do fraseado e não a velocidade, ao contrário dos boppers,
dedicando-se sobretudo à progressão dos acordes, em detrimento da simples linha
melódica. Esta leveza tímbrica e esta amabilidade harmónica, favoreceram Wes
Montgomery aos ouvidos do público.
The Incredible jazz Guitar of Wes Montgomery
1960
Riverside
RLP-9320
Wes
Montgomery (guitarra); Tommy Flanagan (piano); Percy (contrabaixo); Albert
Heath (bateria).
A editora Riverside esmerou-se em
proporcionar ao guitarrista a melhor companhia para a gravação do que
obviamente, basta ler o título, queria que fosse um best seller. Surge então em “The Incredible Jazz Guitar of Wes
Montgomery” Percy Heath no contrabaixo, requesitado ao Modern Jazz Quartet, o
epítome do jazz de câmara, trazendo consigo o irmão Albert, baterista da linha
hard bop. Ao piano sentou-se Tommy Flannagan um dos mais decisivos
acompanhantes da história do jazz, cuja atitude é ao mesmo tempo um prodígio de
“no nonsense” e impenitentemente bluesy.
O repertório do disco é minucioso.
Inclui alternadamente quatro originais de Wes Montgomery com quatro temas, cada
um deles demarcando um território de origem; “Airegin”, por exemplo, um
original de Sonny Rollins, exibe a segurança nos tempos rápidos, além de
patentear um acordo quase mágico entre Wes e Flanagan; “Polka Dots and
Moonbeams” assinala já o compromisso que a Riverside queria de Montgomery com a
popularidade. O climax, e talvez o píncaro da carreira de Wes Montgomery, é o
solo de guitarra em “West Coast Blues” – ficou como um caso de estudo.
José Navarro de Andrade
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
terça-feira, 21 de julho de 2015
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segunda-feira, 20 de julho de 2015
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domingo, 19 de julho de 2015
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sábado, 18 de julho de 2015
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sexta-feira, 17 de julho de 2015
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quinta-feira, 16 de julho de 2015
impulso!
100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 16 - ART
TATUM
Mãos? Quais mãos… Asas!, pois eram como
penas os dedos de Art Tatum a roçagarem o marfim do piano. E assim desde
sempre, pelo menos desde a noite de 1926 ou 27 em que Fletcher Henderson o
ouviu num clube manhoso de Toledo, Ohio.
Emulada pelo triunfo de Louis Armstrong
na telefonia nacional, na década de 20 do século passado a nova classe média
negra de operários do rustbelt do
Nordeste americano blasonava o jazz com orgulho e recognição. Não havia urbe ou
localidade sem a sua ruela de bares nocturnos com música ao vivo, não havia
clube sem o seu artista residente, cada qual acalentando o sonho de ser
descoberto e dar o pulo para as ribaltas de Chicago ou Nova Iorque. Art Tatum
haveria de pertencer ao punhado de rapazes que cumpriria o seu destino musical:
um ouvido quase perfeito e uma impressionante destreza suplantaram qualquer
inconveniente causado pela trágica cegueira e pela obstinada modéstia.
De Art Tatum proliferaram anedotas; um
amigo exaltava o apuro do seu ouvido asseverando que ele era capaz de
distinguir em que clave soava um autoclismo a descarregar; Charlie Parker
confessou que se meteu a aprendiz de cozinha num bar em que Tatum actuava para
absorver as suas excursões harmónicas; Coleman Hawkins reconheceu dever-lhe a
consolidação do seu estilo no saxofone; e correu que uma noite Fats Waller
(ninguém menos que Fats Waller!) interrompeu um concerto em que maravilhava o
público ao ver Art Tatum, exclamando: “God is in the house tonigh!”
Pouco dado à composição e ainda menos à
melodia, Art Tatum extrapolava de um standard, por exemplo, uma cascata
vertiginosa de formas e fórmulas, torcendo o tema original como se quisesse
enxugar-lhe todas as possibilidades harmónicas. As suas interpretações evoluíam
por paráfrases: o conjunto de compassos que vinham a seguir laboravam sobre as
pontas soltas dos compassos anteriores. Ninguém se queixou de Art Tatum ter
abandonado o swing em tudo que tocava, só assim não se pode acusá-lo de
desenvolver uma música ornamental e maneirista.
Mas como todos os mitos têm um lado
contrário, ao qual se costuma chamar de “realidade”, Art Tatum foi sobretudo um
músico de músicos, por eles venerado (outra lenda reza que o pianista clássico
Horowitz o escutava com atenção), porém o seu acolhimento junto do público era bastante
inferior a tal estatuto. É habitual que entre os leigos o génio seja admirado
mais do que amado, dado que há nele qualquer coisa de inacessível a dificultar
a identificação. Ao erguer a sua torre de marfim à margem das tendências do
jazz por que passou, resulta natural que também a popularidade não tenha
acompanhado Art Tatum.
Tatum
Group Masterpieces, Volume Eight
1954 (2006)
Jvc Victor - 41668
Art Tatum (piano), Ben Webster (saxophone alto), Red
Callender (contrabaixo), Bill Douglass (bateria).
Perto do inesperado final da vida do
pianista o produtor Norman Granz propôs-lhe duas maratonas de gravações em que
dialogaria à vez com eminências do jazz, talvez os únicos músicos
suficientemente destemidos para lhe retorquirem criativamente.
Alguns destes encontros foram cerimoniosos
(por exemplo com Roy Eldridge) como se estivessem a tirar as medidas ou não se
quisessem ofender, mas outros ocasionam um equilíbrio cristalino entre as duas
vozes desinibidas e férteis, por exemplo com o saxofonista tenor Ben Webster.
Os dois magistrais entenderam-se pelo contraste. Pertence à grandeza do jazz
conseguir proceder, por vezes, sem necessidade de conclusões ou vitórias de uma
parte sobre a outra – concordar que se discorda é também uma boa forma de
conversar. Lá vai, então, Tatum a discorrer e divagar em volteios harmónicos,
ao passo que Webster distende as linhas melódicas à sua maneira lírica e
rigorosa. Um ilumina o outro, obriga-o à clareza do fraseado, organiza-lhe os
argumentos estilísticos, atitude só ao alcance de gente muito segura de si.
À época as sessões foram editadas
desirmanadamente pela Verve, depois da morte de Tatum em 1956. Só nos anos 70
Normam Granz readquiriu os direitos e reeditou tudo num conjunto de oito discos
a que deu o título de “The Tatum Group Masterpieces”. Da obra que Art Tatum
produzira esta terá sido a sua mais perdurável herança.
José Navarro de Andrade
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Portugueses a fazerem coisas que os fazem felizes.
terça-feira, 14 de julho de 2015
Grandes Enigmas da História: o nunca resolvido caso dos palitos à la reine.
Lisboa,
16 de Outubro de 2007
Exma.
Senhora Directora da Lux:
Fui
informado de que a revista que Vª Exª dirige publica um texto nesta edição em
que diz que eu teria trocado mensagens telefónicos e envios, pelo ar, de
pedaços de «palitos à la reine» com Cinha Jardim, durante o espectáculo de Rod
Stewart, no Casino Estoril.
No
que me respeita, Senhora Directora – e só por mim posso falar – a notícia é
completamente falsa.
Não
é que a falsidade seja grave. Mas sendo falsidade, e envolvendo relações entre
pessoas, não deve passar em claro. Por acaso, reparei que a Senhora Directora e
eu, estávamos na mesma mesa, mas, seguramente, não é essa a origem da notícia.
Foi,
obviamente, um equívoco.
Sabendo
da sua preocupação com a verdade, sei que não é necessário invocar as normas
adequadas da Lei de Imprensa para que este esclarecimento seja publicado.
Com
os melhores cumprimentos,
Pedro
Santana Lopes
Nota da Redacção:
A insinuação de Pedro Santana Lopes (PSL) é grave e descabida. A directora da
Lux esteve, de facto, neste evento, mas numa das primeiras cadeiras da referida
mesa, ao passo que PSL estava quase ao fundo da sala. Como tal, seria
impossível à directora da Lux ter presenciado o que quer que fosse, a não ser
que se posicionasse de costas para o palco e deixasse de assistir à actuação de
Rod Stewart. Além disso, como PSL bem sabe, uma equipa da Lux estava na mesma
sala, essa sim a trabalhar, e reafirma que voaram palitos la reine na referida
mesa. Se o acto foi unilateral, lamentamos o pequeno lapso.