Gosto de hotéis esforçados. Os hotéis esforçados
não são bons nem maus, são esforçados. É isso que os distingue dos seus primos
horríveis, os hotéis armados. Ambos dobram as fatias de queijo e fiambre no buffet do pequeno-almoço mas entre uns e
outros há uma diferença essencial, ontológica: um hotel esforçado
sabe de antemão que, por mais que se esforce, nunca passará daquilo que é − um hotel esforçado. Foi feito para isso,
assim morrerá em paz, deixando viúva e filhos, e mais uma insolvência catita. Resigna-se, conforma-se, mas fez um esforço. Merecia mais respeito, maior admiração. Os hotéis
esforçados são os soldados obedientes do batalhão turístico. Não mentem na formatura, não são hipócritas nem desonestos. Suam as estopinhas, têm wireless e daiquiris. Alguns, mais
modernaços e ousados, gabam-se dos plasmas nos quartos e até já servem mojitos, ainda
que a maioria insista no Baileys em balão com uma pedra de gelo (para
senhoras). Os hotéis esforçados não ostentam luxos que não possuem. Nunca
prometem o que sabem não poder cumprir. É isso que os caracteriza e diferencia
dos hotéis armados. O máximo de aldrabice e sonsice que um hotel esforçado se permite é
exibir fotografias de pétalas de rosas espalhadas em forma de coração por cima da cama de
casal – que, obviamente, não estarão lá quando os hóspedes abrirem a porta do
quarto, o quarto cansado de um hotel esforçado. Um hotel esforçado é moderado, vota ao
centro, Joga previsível, reincide no atoalhado de véspera. Não surpreende, mas não engana ninguém, mesmo que
quisesse. Não se define pela qualidade, mas pelo esforço inglório para a
alcançar. Sem esforço, um hotel esforçado não seria nada, talvez nem fosse um
hotel. O pessoal dos hotéis esforçados, como todos nós na vida, sonha com
muitas estrelas, sabendo à partida que, com sorte, receberá um cometa, no máximo dois.
O hotel esforçado sorri às adversidades. Apanha mas não sofre. Não cai em depressão nem cultiva o niilismo, ainda que tenha todas as razões para fazê-lo. Viva os hotéis esforçados. Restam alguns, em Sever do Vouga.
Por dinheiro até os cães dançam.
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