Olof Palme (1927-1986)
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Continuando a saga dos policiais
nórdicos, na versão true crime... há
dias, falei aqui de One of Us, sobre
o massacre da ilha de Utøya. Ocorreu-me agora lembrar outro livro, igualmente
merecedor de registo e boa nota: Blood on the Snow. The Killing of Olof Palme, de Jan Bondeson.
Este ano assinala-se o aniversário do
misterioso homicídio de Olof Palme. Nunca se descobriu a identidade do
assassino, o que deu azo a mil e uma teorias da conspiração, descritas por Jan
Bondeson de forma notável, apaixonante. Os livros que Bondeson escreve não o
tornam muito querido na academia (a que pertence, dando aulas em Cardiff). Mas li
dois ou três, todos sobre temas bizarros e até horríveis (como Buried Alive), mas todos me pareceram
apoiados numa sólida investigação, escritos de uma forma cativante. É o caso
deste Blood on the Snow. Bondeson
começa por descrever ao minuto os passos de Olof Palme e da sua mulher antes do
assassinato: foram ao cinema, numa sexta-feira à noite, tranquilamente, sem
segurança. O primeiro-ministro da Suécia ia ao cinema… de metropolitano.
Depois, foi morto quase à queima-roupa, pelas costas, sendo a sua mulher também atingida no
atentado. Bondeson relata ao pormenor, carregando um pouquinho as tintas, o
amadorismo e a incompetência das autoridades policiais de Estocolmo e
arredores. O que nos conta é de levar as mãos à cabeça! Depois, percorre uma a
uma as principais pistas, e aí entramos no submundo da droga e do alcoolismo
em Estocolmo, trilhamos a pista da «conspiração dos curdos» (em que o PKK era dado como o autor do homicídio), conhecemos uma
estranha personagem, Christer Pettersson, que a mulher de Palme apontou, com
100% de certeza, como o assassino do marido. Condenado, recorreu, acabando
absolvido – e morrendo depois. Jan Bondeson também avança no final a sua teoria
– e, claro, uma bela teoria do domínio da conspiração... –, a qual envolve um negócio de armamento
com a Índia. Mas o livro tem o bom senso de não ser todo construído em defesa dessa tese, que só surge nos derradeiros
capítulos. Pelo contrário, é um retrato objectivo, informado e muito sério
sobre o assassinato de Olof Palme, dando-nos igualmente, nas entrelinhas, um
panorama pouco entusiasmante de alguns defeitos colaterais da social-democracia sueca e da
teia de dependências e fidelidades obscuras que, ao longo dos anos, foi tecida
em seu redor. O livro não é de agora, mas continua a ler-se muitíssimo bem e sem perdas de actualidade. Que eu saiba, é o melhor livro que existe sobre a morte de Palme (há-os aos montes, mas em sueco...). No aniversário da morte de Olof Palme, um policial real, melhor
do que os de ficção.
António Araújo
Eu ia dizer que concordava consigo, mas fui verificar e afinal o livro que eu li e adorei sobre o mesmo assunto não é este que refere. O que eu li, em tradução inglesa, é de um sueco chamado Leif GW Persson e intitula-se "Free Falling, As If in a Dream". Editado em Fevereiro de 2014. Ainda bem que fui verificar, pois já ia fazer encómios a um livro que, afinal, não tinha lido...
ResponderEliminarMaria Teresa Mónica
Esse não conheço, Teresa. Vou ver já, obrigado!
EliminarCom a amizade do
António