Depois
de Black Like Me, aqui falado, mais
outro que fico a dever à generosidade e à cultura enciclopédica do Rui Passos Rocha.
Parchman Farm: Photographs and Field Recordings, 1947-1959.
A
história conta-se em poucas linhas, que são estas: em 1947, 1948 e 1959, Alan Lomax
gravou, fotografou e filmou os presos da Mississippi State Pentitentiary, em Parchman
(e em Lambert). Os cantores são todos afro-americanos ou, se quisermos, negros.
Como eles diziam, «those white
guys just ain’t got the rythm».
Fez-se
um livro, com dois CD’s que nos trazem música única, extraordinária, compassada
e triste, arrastada como as grilhetas que muitos dos presos usavam. Na recolha
de Lomax, há vários tipos de músicas: por exemplo, as tree-cutting song, que os presos entoavam enquanto cortavam árvores
à machadada; ou as cotton and cane songs,
da apanha do algodão, uma actividade em que os reclusos não precisavam de estar coordenados para fazerem o
trabalho braçal. As cotton and cane songs
podiam ser cantadas a solo ou em grupo e, ao que dizem, são as mais
complexas de todas as work songs quanto à letra, à melodia e à harmonia.
Lomax e o seu pai tiveram um acesso
privilegiado à penitenciária, pois faziam trabalho de campo para o Federal Folk
Song Archive e, mais do que isso, porque eram sulistas. Encontraram guardas
prisionais bondosos, outros sádicos e racistas. Segundo Anna Lomax Wood, noutro
texto publicado neste livro, as condições prisionais prolongavam o sistema de
trabalho escravo abolido há muito – mas prosseguido ali, no Sul profundo.
No
entanto, e como nota esta autora, as coisas iriam mudar nos anos subsequentes
às visitas de Lomax a Parchman. A integração racial nas quintas-prisões do Sul e
a mecanização da agricultura tornaram as work
songs uma memória em riscos de extinção. Nos alvores da década de 1970,
tinham desaparecido por completo. Hoje não passam de uma recordação, registada
e gravada por Alan Lomax, cujo trabalho conheci graças ao Rui, a quem daqui mando
um gratíssimo abraço.
António
Araújo
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