Rockoxhuis, Antuérpia,
Bélgica, 9 de Maio de 2017.
São Cristóvão por Quinten
Massijs
Ainda em O Rei dos
Ulmeiros, Michel Tournier narra grande parte dos eventos do romance usando
as ramificações linguísticas da foria, palavra que alguns interpretam como o
transporte de alguma coisa.
Há a antiforia, a
hiperforia, a faloforia, a superforia, etc.
E lança uma interrogação
a propósito da foria, num contexto de interpretações fálicas. Quem sabe se esse
não é o sentido da grande recompensa de São Cristóvão: por ter transportado aos
ombros o menino-Deus, o seu cajado floresceu subitamente e carregou-se de
frutos?
No caos do final da II
Guerra Mundial, Abel transporta aos ombros uma criança judia, Efraim, tentando
salvá-la no meio de mil provações. Embora não referida explicitamente a
analogia com São Cristóvão é evidente.
E o romance termina
assim:
E á medida que os seus
pés se enterravam na terra empapada de água, ele sentia a criança – todavia tão magra, tão diáfana – pesar sobre
ele como chumbo. Avançava, e o lodo subia pelas suas pernas, e a carga que o
esmagava agravava-se a cada passo. Ele tinha agora que fazer um esforço
sobre-humano para vencer a resistência pegajosa que lhe triturava o ventre, o
peito, mas ele perseverava, sabendo que tudo estava bem assim. Quando ele
levantou a última vez a cabeça para Efraim, só viu uma estrela de ouro com seis
pontas que girava lentamente no céu negro.
José Liberato
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