O Le
Monde publicou um excelente fora-de-série sobre o mítico Maio, trazendo na
capa a célebre fotografia da «Mariana de 68», assim chamada pela comparação
óbvia com o quadro de Delacroix.
Procurei
pela moça da imagem captada por Jean-Pierre Rey em Paris, na place Edmond
Rostand, a 13 de Maio de 1968, mas estava receoso que os franceses, menos
despertos para o follow-up do que os americanos, lhe tivessem perdido o rasto.
Não.
A rapariga hoje mulher chama-se Caroline de Benderm e por três vezes tentou impedir
judicialmente que a fotografia, originalmente divulgada pela revista Life, fosse republicada: em 1978, em 1988 e em 1998,
Caroline foi aos tribunais em defesa do seu direito à imagem. Perdeu sempre,
1978, 1988, 1998, nas datas de comemoração de Maio (em 2008, terá desistido, pelo que é pouco
provável que meta nova acção em 2018). Firmou-se jurisprudência em redor da
foto, considerando os magistrados que a mesma, tirada num local público,
ilustrava um facto histórico, pelo que a privacidade da retratada e o seu
direito à imagem teriam de ceder perante a força das coisas, o movimento do colectivo.
Talvez seja esta uma metáfora curiosa, talvez, mas não entremos por aí. Reparo
agora que o Pedro Mexia já lhe fez a biografia, ou pelo menos parte dela, em
2008, nas páginas do Público (aqui).
Inglesa, jovem problemática, expulsa de vários colégios britânicos, modelo sem
grande rasgo, neta de um conde que a exterminou do testamento assim que a viu em
pose nas ruas de Paris, Caroline de Bendern viveu – ainda vive? – no opulento
Monte Carlo, mas diz que nunca se arrependeu do que fez em Maio. Deserdada, passou a vida
a processar o fotógrafo Rey. Perdeu sempre. Casou-se com o compositor Jacques
Thollot, que morreu em 2014. Fez uns filmes por volta de 1968 e 1969, um dos
quais tinha o Maio como pano de fundo (foi também estrela numa curta-metragem
chamada Un film porno, rodada justamente
em 1968 e dirigida pelo suíço Olivier Mosset, que terá decerto um pano de fundo
que não o Maio de 68, nem sequer surgindo na filmografia oficial de Mosset nem
da produtora, a fantástica Zanzibar Films). Avançamos também um vídeo do Youtube com uma cena do filme «À l'intention de Mademoiselle Issoufou à Bilma», película afro de 1971.
Un film porno, 1968
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Além destes filmes de intervenção, a acção política mais recente de Caroline foi contra o Brexit e a xenofobia, informa o Guardian.
E quem
quiser falar com ela, encontra-a agora no Facebook. Join Facebook to connect with Caroline the Bendern. Sinal dos tempos.
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