O
filme é mudo, mas eloquente. O Táxi nº
9297, do grande e enorme Reinaldo Ferreira, Repórter X. Desloque-se o curso
até ao heróico minuto 19, 19 e picos. Entra em cena «D. Alffonso, fidalgo
espanhol muito suspeito, expulso de todos os países e que parece uma mulher
vestida de calças…». A tirada, homofóbica q.b., é uma alusão à clef a Luís Fernando de Orleans y
Borbón, infante de Espanha, nascido em Madrid em 1888, educado pelos jesuítas
em Inglaterra. Cedo revelaria as suas inclinações – e o seu desregramento.
Expulso de França por causa disso (e por alegadamente traficar drogas), viria
para Lisboa, ao sol do sul. É aí que conhece António Botto, o poeta que
Reinaldo Ferreira, realizador do Táxi nº
9297, empregará na contabilidade do seu jornal. Viajam os dois até Itália,
Botto e o príncipe, no ano de 1927, sendo o episódio narrado ao pormenor no
excelente e recente livro O Mundo Gay de António Botto, de Anna Klobucka. Antes disso, mais precisamente em Março de
1926, Luis Fernando fora capturado em Ayamonte, na fronteira luso-espanhola,
disfarçado de mulher, algo que não terá sido do agrado da realeza do país vizinho,
católica e romana. A imprensa chegou a noticiar o seu casamento com uma actriz
da Broadway, mas a boda não se efectivou. D. Luis casaria com Constance Say,
viúva do príncipe de Broglie e proprietária do castelo de Chaumont. O sobrinho
da senhora levou a boda a tribunal, dizendo que a tia não estava na posse das
suas faculdades – a noiva tinha 72 primaveras, o noivo 41 anitos de vida cheia –
mas a princesa defendeu-se, alegando que já pensava casar com Luis ia para doze
anos, ou seja, quando tinha ela 60 e ele uns 30 e pouco. Má decisão. O príncipe
perdulário esbanjou o património de Constance, o castelo de Chaumont teve de
ser vendido e, pior que tudo, logo que a fortuna se esfumou abandonou a mulher
e foi viver sozinho para Paris, onde se tornaria, vá lá, um membro activo da
Resistência Francesa.
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