Numa
moção parlamentar sobre Tiananmen, apresentada pelo PAN e pelo CDS, o PCP votou
contra. Nada que já surpreenda. Em todo o caso, e para percebermos o que será
viver numa ditadura comunista, leia-se o testemunho da viagem a Moscovo da
insuspeita Martha Gellhorn, no seu livro Cinco
Travessias do Inferno. Não são muitas páginas, mas a sensação de
claustrofobia e de falta de ar é tremenda, tremenda (o mesmo se diga, aliás, da
descrição que faz da sua estada com um grupo de hippies em Israel). Quase ao
sair da opressiva Moscovo dos sovietes, Martha Gellhorn interroga-se sobre o
que será pior, uma ditadura comunista como a de Estaline na Rússia, ou uma ditadura
capitalista como a de Franco em Espanha – e diz preferir esta última (já agora,
leia-se o que diz Houellebecq de Franco, no seu último livro, Serotonina). A comparação de Gellhorn
pode parecer ridícula, pois é óbvio que ambas as ditaduras são más, péssimas.
Mas, às vezes, temos de escolher, entre Estaline e Franco ou entre Haddad e Bolsonaro
(coisa que uma certa direita entre nós não percebeu ou não quis perceber). Com
isto, já nos afastávamos destas cinco travessias pelo inferno, um livro arrebatador,
indubitavelmente pesado, mas que vale muitíssimo a pena ser lido, sobretudo nos
tempos que correm. A voz de uma das maiores repórteres de guerra do século XX.
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