Estou a ler Green Philosophy, do papa
do conservadorismo Roger Scruton, e sobre o livro falarei depois, se tiver vagar,
paciência, engenho – e vontade.
Há uma coisa que Scruton diz e que, não
sendo muito original (a discussão sobre «externalidades» é antiga e vasta), faz
que pensar. A propósito dos plásticos, mas também poderia ser a propósito de
outras coisas, como a construção de casas em leitos de cheias ou actividades
poluentes. Diz ele, e com razão, que para umas empresas não pagarem por
embalagens de vidro ou de outros materiais, para aumentarem o lucro ou pouparem
usando o plástico, mais baratinho, todos nós acabamos por pagar – em custos
ambientais mas em custos económicos, com as despesas de remoção, tratamento,
etc., etc. Quer dizer – e isto não é dito por um marxista, mas pelo nome maior
do conservadorismo de direita –, estamos todos a pagar para alguns, poucos, não
pagarem. É uma espécie de imposto indirecto, ou oculto, a favor de uns
privados, não destinado ao Estado para ser distribuído e gasto em despesas
sociais. É um preço adicional que acarretamos. Quando paga mais barato por um
produto numa embalagem de plástico, não está verdadeiramente a pagar mais
barato; no imediato, parece mais barato, em comparação com uma embalagem de
vidro, de cartão, de metal. Mas, na verdade, há um preço diferido, e bem
elevado. O que julga que custa três euros se calhar vai custar-lhe cinco euros,
o custo que vai suportar no ambiente que o envolve, na remoção e no tratamento,
nos serviços de limpeza urbana, no que for. Estou a extrapolar um pouco a
partir do que diz Scruton, mas creio que esta é uma injustiça oculta do nosso
tempo, mais uma. Injustiça não é apenas vertical, ricos e pobres, ou
geracional, de idosos para mais novos. É injusto, parece-me, que, para uns
poucos pouparem nos custos de produção e aumentarem os ganhos, todos termos de
pagar. Sem nos apercebermos disso, o que torna ainda menos transparentes,
claras e leais as regras do mercado. Bom domingo.
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