«Quer ajudar o planeta? Não tenha animais de estimação». Ao ler o título deste artigo
da Visão, baseado num artigo científico americano, achei que estavam a tresler
o que o autor queria dizer. Mas não. Concluindo que alimentação para cães e
gatos de tem uma grande pegada ecológica, o autor defende mesmo, and I quote, que
é necessária uma «large-scale reduction in their number». Ou seja, que temos de
mudar o modo como alimentamos os nossos animais domésticos, mas que devemos
reduzir o seu número. No entanto, e como refere a Visão, citando o cientista,
«Esta análise não significa que devemos limitar a propriedade de cães e gatos»
«Mas também não podemos vê-la como u, bem incontestável».
Vamos
por partes:
1º
- Devemos reduzir o número de animais domésticos – mesmo aceitando esta
premissa, ninguém pensa, creio eu, abatê-los em massa e incinerá-los, até pelos
efeitos colaterais que isso teria para a atmosfera. Assim, a esterilização é a
solução. Só ela permite reduzir o número de animais sem matar os que já
existem.
2º
- Logo, a melhor solução será, creio, não proibir os animais domésticos ou retirá-los
a quem os tenha, mas, pelo contrário, evitar os animais abandonados e não
esterilizados. A melhor forma de o evitar será capturar os que existem,
esterilizá-los, dá-los para adopção. Assim, não podemos ficar pela ideia
básica: não devemos ter animais de estimação. Devemos. Se os alimentarmos de
forma diferente, se garantirmos que não se reproduzem. Veja: https://www.esteriliza-me.org/
3º
- Além da carga sobre os particulares, que têm de alimentar de outra forma os
seus bichos e, se possível, esterilizá-los, o Estado tem de intervir – o que
tem feito o Estado português na matéria? Muito pouco, quase nada… no início do ano, notícias sobre concursos para esterilização. Avançou-se? Pouco…
4
º - Devemos proibir a posse de diversas espécies de animais exóticos, pela sua
perigosidade e pelos seus efeitos ambientais, sobretudo quando são devolvidos
«ao selvagem» a habitats que não são nem nunca foram os seus, onde podem morrer
ou reproduzir-se em massa, tornando-se uma espécie invasora ou predadora da
fauna autóctone.
5º
- Insiste-se: a ideia que perpassa do título da notícia da Visão é enganadora.
A questão não é termos ou não termos animais em casa. Para os animais que já existem, a
questão não é essa, é esterilizá-los. Só assim se combate a pegada ambiental de
cães e gatos, a qual pode ser significativamente minorada com mudanças na
alimentação. Ninguém de bom senso, nem o autor do artigo americano nem ninguém
de bom senso, pode pensar em matar os animais que existem e queimá-los em larga
e poluidora escala. Reduzir através da esterilização, cuidando que isso não
afecta o futuro de algumas espécies, é o melhor caminho. E o caminho mais
adequado para a esterilização é a posse de animais domésticos. Saber se a
esterilização deve ser imposta e obrigatória, aí, sim, estamos perante uma
questão controversa. Essa é que merece ser discutida, pois é a única que
suscita dúvida.
Caro António Araújo,
ResponderEliminarEm primeiro lugar muito obrigado pelo seu excelente blog.
Em segundo lugar, um reparo: creio que existe uma contradição enorme entre os seus posts com o título "isto vai ser bonito" e o post "a questão dos animais".
Sucintamente, a minha opinião: os animais domésticos são um problema ambiental tal como quase todas as actividades humanas como hoje são levadas a cabo. É por isso que "isto vai ser muito difícil" (que creio que será uma leitura correcta dos títulos dos seus posts) caso as visões mais pessimistas do actual estado ambiental estejam correctas. Porque as necessárias alterações aos nossos padrões de consumo serão brutais e isso incluí os animais domésticos. A esterilização de animais domésticos é necessária, como é necessária a recolha de animais (principalmente cães) por razões sanitárias e de segurança (existem matilhas de cães "selvagens" em algumas regiões do país que atacam sistematicamente nossos concidadãos). Mas o problema ambiental é o seu número que a esterilização não irá resolver. Serão "criados" quantos cães e gatos , quantos estivermos dispostos a "ter". O seu número implica a pegada ecológica de os alimentar, tratar e no caso dos gatos a caça a aves (parece ridículo mas o impacto é muito relevante). A questão dos animais é desafiante do ponto de visto ético e torna-se actual, quando nos nossos dias a grande maioria dos animais domésticos já não tem qualquer fim utilitário, tornando mais evidente as outras dimensões da nossa relação com eles. Mas a questão ambiental é outra, talvez urgente e se assim for, avassaladora até para cães e gatos.
Muito obrigado por me ter feito ter vontade de comentar,
João Ferreira
Muito obrigado, desculpe só agora ter visto o seu comentário, irei responder em breve. As minhas desculpas.
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