O
meu amigo Miguel Geraldes Cardoso, que muito aprecio e que até já contribuiu
para o Malomil, em resposta aos meus posts (de pescada...) sobre alterações
climáticas e sobre a crise do bife em Coimbra, tem-me enviado muitos artigos de
análise dessas questões. Análise feita por uma organização chamada Human
Progress.
Human Progress é um projecto do Cato Institute, e o Cato Institute é um instituto libertário (de direita) financiado pelos irmãos Koch, os principais sponsors do negacionismo das alterações climáticas (aqui). O Cato Institute foi, aliás, fundado em 1974 como Charles Koch Foundation, só assumindo o nome actual em 1976. Charles Koch é a 11ª pessoa mais rica do mundo, dono e presidente das Koch Industries, que têm, entre muita coisa, empresas de fertilizantes, de pipelines de petróleo, de químicos, de refinarias e até um rancho em Montana com mais de 15.000 cabeças de gado. São os donos da Lycra, entre muita outra coisa. Se comprar coisas de Lycra, saiba: Koch Industries. E Charles Koch, ao que parece, está agora a aproximar-se de Donald Trump (aqui).
É claro que o Cato Institute poderia
ser independente de tudo isto e ideologicamente neutro, mas não é. Se formos à
página do Cato Institute encontramos artigos contra as propostas dos Democratas a área da saúde, a favor da política de Trump no sentido de reduzir a
intervenção federal em matéria de poluição das águas, porque é que a América não pode subscrever um Green New Deal, etc, etc. Curiosamente,
só encontramos artigos a favor de um lado, apenas de um. Veja-se este conjunto de artigos sobre aquecimento global do Cato Institute. O Human Project tem artigos a dizer que os ambientalistas são inimigos do crescimento e, pasme-se, que são mais deprimidos do que os outros mortais…
O
Cato Institute é também financiado pela John Templeton Foundation, que apoia
projectos que, digamos, estão muito para lá da pseudociência. Character Virtue Development, Intellectual
Humility, Future-Mindedness, Immortality… (aqui, tudo). O Human Project é também financiado pela Brinson Foundation e pelo Searle Freedom Trust.
Criticou-se a decisão do Reitor de Coimbra por ser «simbólica» e não ter «fundamento científico». Afirmou-se que ela provinha do «pensamento mágico», não do «pensamento científico». Não sei o que se dirá dos projectos da John Templeton Foundation, mas enfim…
Criticou-se a decisão do Reitor de Coimbra por ser «simbólica» e não ter «fundamento científico». Afirmou-se que ela provinha do «pensamento mágico», não do «pensamento científico». Não sei o que se dirá dos projectos da John Templeton Foundation, mas enfim…
Como
aqui tenho dito, é sempre de evitar «informação» vinda de sites ou fontes não
oficiais nem autorizadas. Aconselho, vezes sem conta, a que se leiam fontes
oficiais.
Por
exemplo, a Direcção-Geral de Saúde portuguesa, que na sua Nota sobre Alimentação e Cancro aconselha moderação no consumo
de carnes vermelhas. Ou da FAO – convém mostrar que a FAO não é uma organização
que condene cegamente a carne, apenas alerta para o seu consumo, que irá
duplicar até 2050. Há quem ainda conteste o seu relatório de 2006, mas o certo é que ele permanece,
a FAO não o corrigiu, como não corrigiu isto.
Ainda
recentemente, em Agosto deste ano, a ONU considerou que moderar o consumo de carne pode ajudar a proteger o planeta das alterações climáticas.
Podemos
não acreditar na «ciência» divulgada pela Organização das Nações Unidas, uma
entidade que agrega dezenas de países e recebe o influxo de centenas de
cientistas de todo o mundo. Podemos não acreditar na ONU, mas… entre a ONU e o
Cato Institute, qual parece mais isento ou credível? Já agora, que tal olhar para a NASA, ou é uma organização pouco científica?
Cada
um pode consumir o que quiser, carne de vaca ou de cão. E o mesmo se aplica à
informação que se ingere e divulga. Ainda assim, convém ler o rótulo do que comemos…
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