Leves e breves, para
crianças tranquilas. Catálogo Primavera-Outono.
Atenção, crianças! O catálogo de hoje não substitui o
catálogo de pais, para o caso de quererem trocar um ou dois dos vossos. Podem
trocar por um, dois, cinco ou trinta, sem número fixo. Os que vos calharam
saíram pesados, pegajosos, peludos, picantes e implicantes já antes da
conjuntura? Já eram sisudos, maçadores, decapantes e arreliantes? Continuam a não
vos ouvir, a arrumar-vos o quarto, a andar por cima dos brinquedos e a não vos
deixar ajavardar à mesa? Não stressem mais do que é preciso. É escolher qualquer
modelo neste sortido de pais, inventariado
pelo essencial Claude Ponti, bastando preencher a referência no cupão de
encomenda.
Podem também guarnecer o artigo da vossa escolha com
acessórios, como i) o patodeapoio equipado com rodinhas, voz de ranger de
portas, 30 tipos de riso e grito silente de recusa-responder; ou ii) o
sinistreiro, que engole ideias negras, horrivilifientas, catastrofóficas e
caidentro; ou ainda iii) a lanterneta, que ilumina os cantos sombrios, atrás de
espelhos e fundos de armário, convertível em levantador de moral parental, com
adaptador internacional e três intensidades. No campo ou na cidade, é
indispensável o melão de jardim, que se alimenta de dor de cabeça e dor mental
em geral.
Quanto à música embalante do dia, hoje é a vez do catálogo de
modelos que despreocupam e aligeiram ambientes densos. Passeios
descontraídos antes ou depois do jantar, balanços sossegados e flutuantes, sem ponta de melancolia. Também
dispõem à sesta. Duas amostras da coleção Primavera-Outono:
1) Dolly, a Berceuse que
Gabriel Fauré compôs para a sua filha, Dolly de seu nome, pelas irmãs Labèque.
2) Berceuse des Soirs d'Automne, de Reynaldo Hahn, por Huseyin Sermet
e Kun Woo Paik.
Manuela Ivone Cunha
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