Sigam os lieder.
Os ingredientes das últimas saladas júnior, esta e a
próxima, não nasceram para infantes. Foram convertidos, e os infantes a eles.
Uma conversão mútua, digamos, íntima e pessoalíssima. O fabrico é artesanal e certificado:
foi testado empiricamente com rebentos lá de casa. Suponho que toda a gente
terá feito a sua conversão caseira, e nisso cada uma é como cada qual. Se
funciona, funciona – e a Federação certifica. Fica então uma delas, primus inter ziliões de pares.
O sopro que emana de tais canções, ou aquilo que o
inspira, prende tanto ou mais ao seu embalo que muitas canções de embalar. Sussurram
para lá do ouvido, ao coração, e na essência permanecem um sussurro mesmo
quando se encorpa e cresce em volume a voz que as entoa. Propagam o repouso que
evocam, a mesma acalmia, a mesma tranquilidade, a mesma mescla de sombra e
cintilação.
Será da sombra das árvores, debaixo da qual se sonha
ou descansa? Da cintilação do sol nas folhas, do brilho de quem se quer nos
nossos olhos, do esplendor dos dias que hão de vir?
1) Um plátano frondoso, para
começar. Ombra Mai Fu, não há sombra mais amável e suave, diz a ária de abertura da ópera Xerxes, de
G. F. Haendel. Aqui
cantada por um contratenor que cala tudo à volta: Andreas Scholl.
2) A tília dos sonhos doces, em Der Lindenbaum, um lied
de Franz Schubert, parte do ciclo de canções Winterreise. Por Dietrich Fischer-Diskau (acompanhado ao piano por
A. Brendel), barítono a quem já ouvi chamar de Callas de calças. Por mim podia
sempre vestir o que quisesse, calado ou a cantar. Com aquela voz, podia até nem
vestir nada.
3) “Tu és o repouso / E a paz
gentil / O anseio / E o que o apazigua” – é assim que começa outro lied de Schubert: Du Bist Die Ruh,
cantado por outro barítono que também pode usar saias, calções,
tanga ou nu: Christian Gerhaher, acompanhado ao piano por G. Huber.
1.
2.
3.
Manuela
Ivone Cunha
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