A
igreja de São Cristóvão de Rio Mau no concelho de Vila do Conde é seguramente
um dos pontos mais marcantes da arte românica em Portugal. E também dos mais
discutidos e controversos.
O
mosteiro de que fazia parte já existia em 1103, pelo que a sua fundação deve
remontar ao Século XI. Já então o mosteiro era dedicado a São Cristóvão.
No
interior da igreja, destacam-se os capitéis da cabeceira, em especial os do
lado Sul:
Aparentemente,
trata-se de uma figura transportando outra, de um grupo de três personagens e,
finalmente, um jogral.
Têm
sido avançadas várias interpretações para esta sequência: a Canção de Rolando,
um ataque viking, o desastre de Badajoz de D. Afonso Henriques.
Mas
uma das interpretações, e das mais consistentes, é particularmente interessante
para a nossa série.
A
Professora Lúcia Rosas, num artigo intitulado «Passio Christofori» publicado no
Livro de Actas da Conferência Internacional Genius Loci (Porto, Abril de 2016),
defende a tese de que estas representações são mesmo de São Cristóvão.
Existe
uma inscrição na igreja que a data de 1151. O que significa que estes elementos
escultóricos são anteriores à célebre Legenda
Aurea, já aqui mencionada, da autoria de Jacobo de Voragine, publicada não
antes de 1260.
Ou
seja, podemos ter aqui uma representação de São Cristóvão anterior à
codificação da sua lenda. Sem rio a atravessar, sem Menino Jesus e a sua orbe.
Na
primeira imagem, São Cristóvão teria nos seus braços Cristo segurando uma vara.
Pode tratar-se de uma mera representação do significado do nome do Santo em
grego: o transportador de Cristo.
A
segunda representará o momento em que o Santo é preso. Santo que tem a cabeça
coberta e que, com uma mão, agarra o pulso da outra mão, símbolo de dor ou de
subjugação.
A
cobertura da cabeça será porventura um elmo quente que lhe teria sido colocado
ao ser preso. Essa cena consta de lendas prévias à Lenda Dourada.
O
jogral que toca um instrumento de cordas na terceira imagem poderá ser alusivo
às festas palacianas do rei. O diabo era mencionado nas canções. Quando isso acontecia,
o monarca benzia-se demonstrando seu temor e evidenciando, consequentemente,
que afinal não era o rei mais poderoso do mundo. Já aqui mostrei no Malomil um
quadro de Martin de Soria alusivo a este momento. Ver
Outros
capitéis têm imagens diabólicas incentivando à resistência ao demónio.
Fotografias
de 28 de Julho e 8 de Agosto de 2020.
José
Liberato
Obrigada por mais um testemunho precioso. - É muito bonita esta Igreja...
ResponderEliminarE, já agora o artigo da Prof. Rosas está disponível neste link, para quem se interessar: https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/118883
Fotos exemplares de beleza.
ResponderEliminar.
Um dia feliz
Abraço
A igreja, uma preciosidade, e a história é para mim a mais interessante.
ResponderEliminarObrigada
Muito obrigado pelos vossos comentários.
ResponderEliminarJosé Liberato