Fernando
António Almeida é nome cimeiro de quem nos convida a andarilhar por lugares
apetecíveis, uns ao pé de casa, outros a raiar a fronteira ou a beijar rios ou
oceano. Este seu livro intitulado Percursos
de Fim-de-Semana, 1992, é uma das suas antologias que
quem tem gosto pela viagem deve guardar nas estantes, pelas propostas que faz
entre o Minho e o Algarve, são sugestões de alto sabor para Terras de Barroso
ou Terras de Miranda ou de Alafões, nos campos do Mondego, até Tavira e seus
arredores, depois passar por Lagos e Monchique. Um certo dia, fazendo releitura
e à procura de um texto que me deixara vincada impressão, dei comigo a pensar
que a descrição que ele faz do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros é
texto imorredoiro, se acaso houver um levantamento do que há de melhor na nossa
literatura de viagens este texto fatalmente ali terá lugar, possui todo o
mérito literário, é digno de qualquer dos nossos grandes prosadores. Dada a sua
extensão, aqui ficam alguns extratos expressivos, oxalá o leitor fique
acicatado para procurar esta leitura fulgurante em qualquer biblioteca.
Intitula-se este percurso “Ao sopro do mar”, vai-se deambular no maciço
calcário:
“É
um reino de pedra. É o reino da pedra. O reino da secura e da água oculta. O
reino do calcário, branco, cinzento – rijo ou brando – seco. Terra de sal,
também. Branco. Uma terra que ninguém quis, que ninguém tentou disputar – uma terra
ingrata, escassa.
Duas
terras principais, Aire e Candeeiros, escudado entre as duas, o planalto de
Santo António. À Serra dos Candeeiros, não há ninguém que lhe não reconheça o
dorso de pedra, cinza, redondo e alongado, a longa massa de pedra desnudada
percorre a nascente da Estrada Nacional 1, entre Rio Maior e a Batalha.
Mário Beja Santos
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