quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Argélia: tempo da fraternidade? (3)

 

 

Em Argel, junto ao mar, situa-se um complexo de três palácios otomanos e seis casas de pescadores, conhecido como a Djenina. Sofreram incêndios e várias adulterações, mas o que resta é lindíssimo.

Os palácios são conhecidos também como os bastiões 17, 18 e 23. Denominações certamente dadas pelos franceses.

O mais importante é o 23 ou o Palácio dos Raïs. Também ainda conhecido como Dar Aziza Bent el Bey.

Era uma das sedes do poder otomano em Alger e terá sido construído no Século XVI.

 








 

                                                                    Fotografias de 17 de Outubro de 2023

 

                                                                                                        José Liberato




quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A inenarrável maldição que caiu sobre o Martim Moniz.

 

 



 

Martim Moniz, Como o desentalar e passar a admirar, por José Ferreira Fernandes, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023, dá-nos um olhar pessoal sobre um lugar/região que vive há décadas num tremendo desconforto como espaço histórico de deslumbrante e enigmática paisagem com uma envolvente de mamarrachos e uma estrambótica ocupação da praça que dá arrepios. Recordo em 1951 o Teatro Apolo, já à beira do camartelo, num ambiente de passado mal gerido, a igreja do Socorro, como em miúdo também frequentei o Cinema Piolho, de nome Salão Lisboa, e o espanto que senti vendo passar o elétrico em direção ao cemitério do Alto de S. João por debaixo do Arco do Marquês do Alegrete. Creio que os paisagistas, urbanistas, presidentes da edilidade, olissipógrafos, nunca se entenderam muito bem nesta culminância da Av. Almirante Reis, as bermas da Mouraria e seus caminhos para S. Tomé e rua do Benformoso, por um lado, e toda aquela encosta que decliva para S. Domingos e que sobe para o Desterro. Deitava-se abaixo sobras do terramoto e teatros, reformavam-se palácios, e depois os autores da terraplanagem ficavam embasbacados com o terreno ermo que veio a servir de parque automóvel, de teatro abarracado e que deu origem a dois centros comerciais que desfiguram a paisagem, não houve coragem de limpar do terreno a Senhora da Saúde, que lá se aguenta perto da rua do Capelão, e de paredes meias com pavilhão de vendas multiétnico. O espantoso de tudo é que a malta de dezenas de países que aqui vêm buscar dinheiro para mandar para as famílias e até segurança que não encontram nas pátrias por ali circulam, mercadejam, nas redondezas pernoitam e durante o dia circulam pela praça, certamente atraindo a curiosidade dos muitos milhares de turistas que por ali vão tomar o elétrico 28.

Gosto muito do olhar de Ferreira Fernandes, dos seus comentários ousados para que se encontre uma solução para este Martim Moniz que se transformou numa marca d’água do Portugal universal. “Este livrinho não é para traçar riscos na cidade, não sou arquiteto, urbanista, político ou visionário. É só para relembrar o largo pelo tanto que ele merece. Simples lisboeta, instado pelas autoridades camarárias a pronunciar-me como qualquer cidadão, digo o que há para dizer: oxalá!” E entram em cena o boxeur Blarmino, que deu um excelente filme de Fernando Lopes, em 1964, já a igreja do Socorro e o palácio do Marquês do Alegrete tinham sido arrasados a seguir à Segunda Guerra Mundial, bem como o Teatro Apolo e o Arco do Marquês do Alegrete. Tudo arrasado, agora é a minha vez de recordar, meteram para ali uns armazéns com lojas de ourivesaria, sapataria, flanelas e roupa de cama, autênticos pavilhões a ocupar a praça que aguardava uma solução estética. Em frente a S. Domingos cresceu o Hotel Mundial, com saídas e entradas paradoxais: uma saída que passava junto à abside de S. Domingos, as lojas Porfírios, com saídas para a Travessa Barros Queirós e Praça da Figueira; do outro lado, sai-se para o largo do Martim Moniz, com vistas para um correnteza de prédios comerciais de estética duvidosa, viramos à direita entra-se num local histórico de nome Poço do Borratém, ou virando à esquerda fica-se confrontado pela Mouraria, o visitante detém-se na praça, e pode ficar de frente de construções de traça louvável e harmoniosa que pode levar para o Desterro ou enfiar, infletindo à esquerda para a colina de Santana. Mas o paradoxal e grotesco da praça ali está, de pedra e cal.

Ferreira Fernandes socorre-se de imagens antigas, fica-se abismado diante de uma fotografia tirada por Judah Benoliel, em 1958, a capelinha da Senhora da Saúde e a praça arrasada, o contraste é brutal com outra foto revelando prédios de habitação, tudo desaparecido.

E houve o Martim Moniz das tascas e fadistas, no fundo no sopé da Mouraria, recordam-se as imediações, como e quando António Costa, então presidente da Câmara, se instalou num Intendente então de pouca fama, fala-se da camioneta fantasma e do assassinato do Almirante Machado dos Santos, dos espantos da Mouraria, do longo percurso histórico desta praça que entupia a cidade, não faltam os sonhos megalómanos de edis que aqui pretenderam fazer experiências revolucionárias, consta que se quer avançar para aprazível jardim, um misto de local de passagem e de repouso (coisa difícil de acreditar), Ferreira Fernandes recorda o passado dos teatros e não se esquece de referir o Bolero Bar, antro onde se misturavam as prostitutas com os intelectuais, tinha engraxador e o bife da casa. Depois aconteceu a implantação dos centros comerciais, com cheiros a especiarias e têxteis asiáticos, faz-se o reparo às esculturas de Gracinda Candeias na estação do metro de Martim Moniz e até ao trabalho artístico de Eduardo Nery, obviamente que se fala da Severa e do Fado Malhoa e assim avançamos para o grande final, o cronista e repórter sonha que esta praça, riquíssimo património do passado, mal enjorcada, poderá ter um futuro ridente, um cruzamento para dezenas e dezenas de pessoas de outros povos aqui se encontrarem, até mesmo abrirem tenda, uma coisa assim:

“O milagre é o dia, um primeiro domingo de maio, em que um político português – um de qualquer cor, mas inteligente, solidário e ambicioso – se meter na posição de Nossa Senhora da Saúde. Perguntaram-lhe porquê e ele confessou: ‘Procuro um upgrade na minha vida pública, quero tudo!’ O facto é que durante a procissão ele teve uma visão. Confirmando que o que ele queria mesmo era fazer em grande, candidatou-se, em 2025, a presidente da Câmara de Lisboa. Que maior glória pode ter um político português do que ter na mão o destino da praça Martim Moniz?”

Ferreira Fernandes tem um sonho bom ao gerar este espaço de diálogo entre pessoas, num tu cá, tu lá, gente de vários orientes, então mulheres que não aceitam a segregação nem a discriminação, aqui se reunirem para que todas as mulheres sintam o sabor da grandeza de que é aprender a ler e ganharem autonomia…

É um sonho de tornar esta praça um encontro de todos os continentes, uma forma de sarar feridas de tanto derrube de igrejas, palácios, teatros e de centros comerciais de mau gosto, mas onde felizmente circulam gentes enérgicas e mexidas. Não passa de um sonho, o que se escreve neste livro é a tal viagem a uma praça confusa e fascinante, praça radial e radiosa, lugar de fado e do cinema português, dos marialvas, artistas e imigrantes. De população antiga e de recém-chegados. O autor tem uma certeza: o Martim Moniz saberá reinventar-se. Oxalá seja verdade.



                                                                        Mário Beja Santos

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

São Cristóvão pela Europa (248).

 

 

Prosseguindo no departamento francês de Loir-et Cher, a igreja de Notre Dame em Françay remonta ao Século XII e exibe um notável pórtico românico modificado no Século XVI.

No interior, pinturas murais medievais, entre as quais uma, de grandes dimensões, representando São Cristóvão.

 




 

No departamento de Indre na mesma Região francesa de Centro-Vale do Loire visitei quatro igrejas com imagens do nosso Santo,

Em Chezelles, existe uma igreja consagrada a São Cristóvão.

No interior um vitral composto de duas partes com a inscrição em latim Christophorum videas postea tutus eas, ou seja, Cristóvão vê-los-á em segurança mais tarde, com o sentido de que o Santo garantirá a segurança dos visitantes.

 


 

Em Ceaulmont, a igreja de São Saturnino é do Século XIII, de um gótico primitivo.

O altar-mor, aguardando restauro, tem uma imagem de São Cristóvão.

A vista que se enxerga é de uma beleza surpreendente. É a chamada Boucle du Pin ou Meandro do Pin que George Sand (1804-1876) descreveu como uma ferradura formada pelo rio. Uma das suas residências situava-se perto.

 




 

                                            Fotografias de 25 e 26 de Outubro de 2023

 

                                                                                            José Liberato





sábado, 16 de dezembro de 2023

Argélia: o tempo da fraternidade? (2).

 

 

 

Das imensas peças etnográficas expostas no Museu do Bardo, destaco este adufe (palavra ela própria de origem árabe), tão parecido com os nossos da Beira Baixa:

 

 

Em Argel, os jardins estão sempre presentes e o Museu do Bardo não é excepção:

 



 

A Catedral de Santa Maria em Argel foi construída em 1960 e distingue-se no perfil da cidade de Alger:

 






No Centro de Argel, distingue-se ao fundo o antigo Liceu Bugeaud aonde estudou Albert Camus. O Marechal Thomas Bugeaud (1784-1849) foi Governador-Geral da Argélia entre 1840 e 1847 e é um símbolo da presença colonial francesa. Teve uma longa carreira militar, iniciada em Austerlitz e com frequentes mudanças de campo político como aconteceu com muitos generais franceses da época.

 


 

                                                Fotografias de 16 e 17 de Outubro de 2023

 

                                                                                            José Liberato




quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

São Cristóvão pela Europa (247).

 

 

 

Entre 25 e 29 de Outubro estive em França, em especial no Centro, passando pela Regiões de Centre-Val de la Loire, Pays de la Loire e Nouvelle Aquitaine.

Comecei pela Região do Centro e pela cidade de Bourges. O Hotel Lallemant foi construído por volta de 1500, destinado a ser residência de uma família do mesmo nome. Hoje é o Museu de Artes Decorativas da cidade, mas encontra-se em obras de renovação.

Felizmente, a Direcção de Museus e Património da cidade de Bourges abriu simpaticamente o palácio ao Malomil.

No seu pátio, um interessantíssimo baixo-relevo colorido representando o nosso Santo. O estado de conservação não é bom, mas confiemos que o restauro em curso seja competente.

A fachada do edifício é renascentista.

 




No departamento de Loir et Cher, duas comunas têm imagens do nosso Santo: Millançay e Lassay-sur-Croisne.

Em Millançay, a igreja de Santo Aignan, Aniano em português, em estilo neogótico, consagrada em 1888, contem uma curiosidade.

São Cristóvão está representado num vitral e numa estátua.

No vitral, o rosto de São Cristóvão surge com uma configuração estranha, moderna. Foi doado por uma tal Christophe Lacroix, antigo cobrador de impostos. A explicação está no facto de o doador não ter resistido a oferecer o seu próprio rosto na representação do Santo…

 





Lassay-sur- Croisne situa-se junto ao rio Croisne, de grande beleza:

 


A igreja de Santo Hilário, reconstruída no Século XV, possui um notável fresco representando São Cristóvão:

 

 

 

 

No horizonte, o Castelo de Moulin, construído por Philippe du Moulin. Admite-se que o rosto de São Cristóvão seja o deste Senhor de Lassay, falecido em 1506, que fez construir o castelo.

 

 

                                                            Fotografias de 25 de Outubro de 2023

  

                                                                                                José Liberato







terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O retrato de 33 rios de todos os continentes, entre a guerra e a paz, o desastre e a esperança.




 


A Terra Tem Sede, Guerras e paz nos reinos dos rios, por Erik Orsenna, Temas e Debates, 2023, é um livro fascinante sobre o acesso à água, um pouco por todo o mundo. Mais fascinante ainda pela sedução da leitura, Orsenna regala-nos com uma inesperada visão holística, onde não faltam as dimensões antropológica, sociológica, política, etnológica e ambiental. Há mesmo algo de romanesco na sua narrativa, os pormenores tecnocientíficos são expostos com a singeleza de um mestre da escrita (Orsenna tem recebido prémios literários, como o Goncourt). Lançou-se a esta aventura alegando haver cinco fortes motivos: o rio é água, é um caminho que viaja, é uma força que só pede para vir ajudar-nos, é um reino onde não faltam lendas, religiosidade e o desenvolvimento de civilizações, e é também o Tempo, o tempo que passa e o tempo que faz. E dirá também que a Terra tem sede. “É essa a principal razão pela qual a maior parte dos rios deixou de proporcionar água suficiente para responder ao aumento das necessidades. Recebendo menos das suas fontes – chuvas, neves ou glaciares – como querem que deem o suficiente a uma população mundial cada vez mais numerosa, cada vez mais consumidora, quero eu dizer mais esbanjadora?”

E começa a sua viagem pelo Danúbio e o Reno, caminha para o próximo oriente e visita o Tigre, o Eufrates e o Jordão, em plena Ásia o Ganges, o Bramaputra, o Mekong, os rios Vermelho e Amarelo; segue-se a Austrália, o Darling e o Murray; atravessa-se o Pacífico e começa-se na América do Norte, o São Lourenço, o Mississípi e o falecido Colorado, o Panamá que é mais rio do que canal, os rios opulentos da América do Sul, obrigatoriamente o gigante Amazonas; e depois os grandes rios africanos, o Senegal, o Níger, o Congo e o Nilo, não faltarão advertências finais.

A leitura de tão saltitante, peripatética, viagem irá preocupar-nos: o Garona está seco, há falhas de gestão aqui e acolá; fez-se triunfar a via rodoviária, poluente, rios importantes deixaram de ser utilizados como vias de transporte de mercadorias; iremos ouvir falar de conflitos de água, na partilha/uso, veremos os efeitos da poluição e o preço da mudança climática, com inundações, a salinização dos deltas e a degradação da agricultura; a política estará sempre presente, Saddam Hussein mandou secar o Chatt-El-Arab, culminou num desastre ecológico e na deslocação de xiitas, seus inimigos; a barragem turca de IIlsu submergiu habitações trogloditas dos curdos; o Jordão apropriado pelos israelitas, os palestinianos deixados à míngua; e há depois aquela moldura em que se mistura a religião e o frenesim industrial, é o caso da Índia e da China; esta, que em 20% da população mundial apenas dispõe de 6% dos recursos hídricos do planeta, e que bem ou mal, sendo um dos maiores poluidores recorre à ciência e à tecnologia na proteção ecológica e ambiental.

O autor deixa-nos registos tremendos de como o uso da água pode matar povos. Ele está em Calcutá e alguém lhe diz que como ele vai no dia seguinte para o Bangladesh que diga às autoridades locais que não podem receber mais ninguém. Um ministro em Daca, o ministro da Gestão das Águas, leva Orsenna até um enorme mapa de Bengala. “Uma vez que dentro de algumas horas vai regressar a Calcutá, confio-lhe uma mensagem para o seu amigo indiano. Se essas pessoas não tivessem, sem nos dizer uma palavra, construído, em Farakka, uma barragem sobre o Ganges, não teríamos esta desgraça. Sabe o que é o nosso Bangladesh? Um delta. E de que é feito um delta? De todos os sedimentos arrastados desde montante. Quando deixa de receber sedimentos, quando uma barragem impede os sedimentos de chegar até ele, o delta morre. Compreende? Há outra coisa. Para que serve também um rio? Para lutar contra o mar. A sua corrente de água doce impede que a água salgada se sinta demasiado à vontade em nossa casa. Quando uma barragem reduz o caudal do rio, impede-o de desempenhar o seu papel protetor. Continua a seguir-me? Quando voltar a ver os seus caros amigos indianos que já não suportam ver os meus compatriotas entrar-lhes portas dentro, diga-lhes que, se não tivessem construído essa barragem iniqua, o Bangladesh continuaria a receber o que lhe é devido, os sedimentos do Ganges, a única coisa que permite manter-se à tona. E o mar deixaria de invadir-nos. E sabe com que consequências, além de inundar as nossas aldeias?” E explica-lhe outra consequência a que o aquecimento global não é alheio.

A aceleração da China, um cavalo a galope, é uma permanente transmutação. “Não tem alternativa. Como alimentar tantas pessoas, como oferecer-lhes o que reclamam, um modo de vida ‘ocidental’, sob pena de revolta? Como desenvolver suficientemente depressa um tal país antes que envelheça? Como acrescentar todos os anos à classe média 20 milhões de pretendentes? Como manter este crescimento louco sem destruir a natureza?” E há a falta de água. A China é filha do rio Amarelo, Orsenna irá percorrer projetos e realizações.

Sem nos determos na Austrália, somos surpreendidos quando o autor, na região dos Grandes Lagos, entre os Estados Unidos e o Canadá, nos informa que contêm um quarto de todas as reservas de água doce do planeta. Ficaremos a saber que o Mississípi corre riscos gravíssimos, o futuro de Nova Orleães e até o do Louisiana está tudo menos garantido. Os efeitos da globalização não são inócuos. Estamos na América e vamos ouvir falar do Mar Negro, um navio daqui oriundo, num dia de 2003, lava os seus tanques no Michigan, estava a oferecer à América um mexilhão com cerca de 2 cm de comprimento e dotado de uma vertiginosa capacidade de reprodução. Esta espécie de mexilhão acabou com o fitoplâncton, a cadeia alimentar foi quebrada, os pesqueiros encerraram, as águas do Michigan aqueceram, haverá consequências no Mississípi.

Falando das pragas do Níger, não se esquece o autor de referir a desflorestação do Futa-Djalon, a proliferação dos jacintos de água, o terrorismo dos jihadistas, a poluição das águas e dos solos devido às fugas permanentes de pipelines, por exemplo.

Assegura o leitor que esta narrativa feita de uma viagem por muitos rios e por muitíssimos problemas que ameaçam a paz e a segurança mundiais, conclui com um punhado de sugestões: há que encontrar desesperadamente uma outra maneira de consumir, reciclar mais é determinante, há que aprender a partilhar inventado o diálogo e a aceitabilidade. E quanto aos rios, é fulcral conhecê-los melhor, integrá-los na ação global, respeitá-los (não são um vazador de lixo, prever escassez com adaptação e reaprender a amá-los, eles são um pilar da nossa identidade, seguramente um dos maiores desafios para o nosso futuro).

De leitura obrigatória.



                                                                                              Mário Beja Santos





Argélia: tempo da fraternidade? (1).

 


 

Em Outubro de 2023, voltei a integrar um grupo de leitores e convidados do jornal Le Monde numa viagem que aliou cultura, literatura, história, política e turismo.

A viagem deste ano foi à Argélia. Antes estive em França.

Já publiquei no Malomil crónicas de anteriores viagens. Nomeadamente Hotel Rwanda (sobre o Ruanda), A porta do Oriente (sobre o Líbano) e Entre Oriente e Ocidente (sobre os Balcãs)

O título dado pelo Le Monde à viagem foi o de Argélia, o tempo da fraternidade. Mas a formulação revelou-se bastante optimista. Daí que eu tenha optado por acrescentar um ponto de Interrogação ao título desta série de crónicas.

Sendo organizada por um jornal francês era natural que mais de 90% dos participantes fossem franceses, muitos com relacionamento anterior com a Argélia. Ora esse facto fez centrar os temas de discussão nas relações difíceis entre a França e a Argélia.

A Argélia é pura e simplesmente o maior país de África em área, mais de 26 vezes maior que Portugal! 44 milhões de habitantes.

O turismo encontra-se pouco desenvolvido em contraste com os vizinhos Marrocos e Tunísia.

A economia é muito estatizada. A Argélia nunca conseguiu reconverter significativamente o seu modelo socialista do início dos anos 60 do Século XX.

A organização política argelina vive sob o trauma dos acontecimentos de 1992.

Nesse ano, numas eleições legislativas a Frente Islâmica de Salvação venceu a primeira volta, o que levou a um golpe de Estado interrompeu o processo eleitoral de forma a evitar que a Argélia se transformasse num país politicamente islâmico.

A esta intervenção, seguiram-se anos de grande violência. O trauma desses anos negros não está ainda completamente ultrapassado. As deslocações de estrangeiros, em especial para fora de Argel, são feitas mediante escolta policial. Foi o nosso caso.

A Argélia tem um Presidente e um Parlamento eleitos, mas parece claro que o Poder se exerce com grande interferência das Forças Armadas e dos Serviços de informação.

A nossa visita iniciou-se pela cidade de Alger e em especial pelo Museu do Bardo, curiosamente o mesmo nome do mais célebre museu de Tunes. Há quem diga que a palavra Bardo provém do espanhol prado.

 




O Museu Nacional do Bardo vale pelo edifício onde está instalado, um palácio otomano do Século XVIII, em especial pelos seus pátios interiores e as suas salas:

 









 

                                                    Fotografias de 16 de Outubro de 2023

 

                                                                            José Liberato