Dejan Tiago Stankovic (1965-)
|
Dejan Tiago-Stanković (Belgrado, 1965) é escritor e tradutor literário nascido na
Jugoslávia, actual Sérvia, e
naturalizado português.
Mora
em Lisboa e em 2012 estreou-se na ficção com De onde eu era já não sou e outros contos de Lisboa. O seu mais
recente livro, Estoril, lançado na
Sérvia em 2015, acaba de ser publicado em Portugal, pela Contemporânea. Um romance
com um «fundo real» – e alusões a múltiplas personagens históricas – cujo
enredo se passa no Portugal dos anos 1940. Aí o subtítulo («Um Romance de Guerra»)
de uma obra que mergulha nos mares turvos do Estoril, povoados de espiões,
refugiados ilustres, agentes da polícia política portuguesa, príncipes falidos
e milionários em fuga para outras paragens.
Quem
navega por mar rumo a Lisboa, pouco antes de entrar nas águas calmas do Tejo,
avista ao fundo, do lado esquerdo, a silhueta azulada de uma montanha. É a serra
de Sintra. Ela corta o caminho das nuvens que carregam chuva. É por isso que o
Estoril oferece aos seus visitantes mais dias de sol por ano do que qualquer
estância balnear no Velho Continente. Assim consta, pelo menos, na brochura da
Junta de Turismo que se refere a estas praias com o nome comercial de «Costa do
Sol». É um nome bonito, mas nunca chegou a pegar. Na linguagem do dia-a-dia, a
nossa pequena Riviera continua a ser referida por «Costa do Estoril» ou, mais
frequentemente, como «a Linha».
A ladeira ligeiramente ondulada por
cima da baía é virada para sul e dá para o mar aberto. Nela estão espalhadas
moradias e casas de férias de famílias abastadas da capital portuguesa. No sopé
da ladeira as ondas lavam as areias e sopra sempre vento: é a praia do Tamariz,
com as falanges de guarda-sóis, cabines de lona e espreguiçadeiras. A orla do
oceano é seguida pela linha férrea recém-aberta e, paralelamente a esta, também
recentemente inaugurada, a Estrada Marginal: à direita, a meia hora de carro,
fica Lisboa; à esquerda, tão perto que se consegue ver, está Cascais.
Quem estiver a chegar de comboio deve
sair na estação do Estoril. Não na de São Pedro do Estoril, não na de São João
do Estoril, nem sequer na do Monte Estoril. Quem quer chegar ao Hotel Palácio
deve sair naquela paragem onde diz apenas Estoril.
De seguida, tem de atravessar os carris e a estrada até chegar a um amplo
parque de formato rectangular arranjado à francesa. No cimo do parque, no meio
das palmeiras, ciprestes e arbustos multicoloridos, encontrará a maior atracção
da estância balnear – o Grand Casino Estoril. Ao lado do casino fica um edifício
monumental, todo branco, com fileiras de janelas de bela vista; umas dão para o
parque, outras para o oceano. No topo do telhado há um grande letreiro que diz:
Hotel Palácio. Na época, havia muitos mais hotéis no Estoril, mas vamos tentar
não falar deles mais do que o necessário. E não é por serem mais pequenos ou
menos luxuosos, mas porque cada um deles mereceu um papel principal e não secundário
e, neste filme, já temos o Hotel Palácio como protagonista.
Dejan
Tiago-Stanković
Sem comentários:
Enviar um comentário