| Fotografia de António Araújo |
quinta-feira, 28 de agosto de 2025
O aliciante apelo à proatividade para que haja um envelhecimento bem-sucedido.
Em
boa hora a Fundação Francisco Manuel dos Santos viabilizou um novo projeto na
área da saúde, um conjunto de livros sobre a égide da saúde psicológica e de
bem-estar. Talvez pelo facto de eu ser octogenário lancei a mão a um título que
imediatamente me convidou à leitura: Felicidade e Flexibilidade no
Envelhecimento, por Margarida Gaspar de Matos, um destes livrinhos de preço
mais do que abordável, recentemente publicado. Sinto-me enriquecido pela
leitura e não posso esconder a admiração pela narrativa de alguém que sabe
comunicar com incisão e grande poder divulgativo.
Vivendo
nós numa sociedade mais preocupada em curar do que prevenir, ganha realce um
ensaio focado no declínio cognitivo e das abordagens que proporcionem à
preparação sénior um apelo mais do que amigável. A autora propõe-se refletir
sobre o envelhecimento, as doenças a ele ligadas bem como os planos em relação
à reforma. “Quanto mais cedo começarmos a tomar bem conta de nós, da nossa
saúde e bem-estar (e uns bons anos através da simpatia e disponibilidade dos
nossos primeiros cuidadores), melhores e maiores probabilidades teremos de
usufruir de um envelhecimento bem-sucedido, porque o envelhecimento não é
doença, doença é outra coisa, embora em geral a probabilidade da sua ocorrência
aumente com a idade.”
É
sedutora a viagem que a autora nos propõe: os tempos da nossa vida (o passado,
presente e futuro), esse passado acomoda-se na nossa memória, em si não muda, o
futuro é imprevisível, há que admitir que é saudável e fecundo falar do
passado, como falar do futuro. Mas não podemos passar a nossa vida divididos
entre o passado e o futuro, é no aqui e agora, na fruição do nosso presente que
devemos ganhar a capacidade de revitalização, para manter a nossa saúde
psicológica no processo do envelhecimento.
Margarida
Matos irá dissecar a importância das terapias cognitivo-comportamentais que
podem dar uma oportunidade de termos uma vida com mais sentido, em que
consigamos ter as nossas prioridades bem identificadas e com flexibilidade
psicológica. Destaca um conjunto de processos que ajudam a promover a
curiosidade, abertura e flexibilidade psicológica: a identificar o que é
importante para cada um de nós, dar pequenos passos em direção ao que é
importante, conhecer-se e estar perto de si mesmo, estar atento, aberto e
curioso em relação a perceções e sensações externas, amável consigo mesmo, ser
capaz de reconhecer pensamentos e emoções como próprios sem se deixar inundar
por eles.
As
crises e longos períodos de tensão, por exemplo, podem reduzir a flexibilidade
psicológica, para contrariar esse processo há que manter a capacidade de ter
uma paleta de respostas e de saber utilizá-las com abertura e adequação. É
recorrente, na idade sénior, pender para rotinas inflexíveis, elas e modos
inflexíveis de ver são prejudiciais para a nossa saúde psicológica. A autora
define a flexibilidade psicológica como a nossa capacidade de manter as
escolhas do que é importante, diverso em cada fase da nossa vida. Daí a
necessidade de trabalharmos a nossa flexibilidade, abertura e curiosidade. Numa
outra dimensão, a flexibilidade psicológica consiste na competência de prestar
atenção ao momento presente, para afinarmos essa competência impõem-se estratégias
de aceitação, de atenção, de compromisso e mudança de comportamentos. Observa a
autora: “A flexibilidade psicológica promove a saúde mental através da
diminuição do efeito dos nossos estados mentais internos negativos e promove a
saúde psicológica ao permitir alcançar objetivos significativos para cada um de
nós”, o mesmo é dizer capacidade de adaptação, aceitação e ação de acordo com o
que se valoriza.
Explorando
a dimensão de doença, do declínio cognitivo e físico, a autora faz apelo a
práticas inovadoras e inclusivas, recorda-nos o termo serendipidade, a
capacidade particular de descobrir coisas valiosas e inesperadas à nossa volta.
Por outras palavras, a motivação para a mudança aumenta com a perceção da
competência pessoal, é assim que se contraria a inflexibilidade psicológica em
que, sobretudo os seniores, não se quer arriscar a quebra da rotina.
Quase
em jeito de roteiro, e numa narrativa proativa é nos proposta uma filosofia de
desenvolvimento humano, avultam quatro domínios que promovem a saúde e o
bem-estar: físico, intelectual, psicológico e emocional e social; são recursos
que ocorrem na interação com o ambiente físico e social. Margarida Matos usa
apropriadamente depoimentos que ilustram as complexidades do envelhecimento e
do adoecer associado ao envelhecimento. E seguimos a trajetória para um
envelhecimento ordenado e guiado pela felicidade, daí a atenção que a autora dá
à entrada na reforma, o que está em jogo na transição, como são fulcrais as
condições de saúde associadas ao envelhecimento e daí uma palavra sobre os
cuidadores informais que também carecem do dispor de flexibilidade psicológica,
há que implementar estratégias, os depoimentos que a autora oferece são de um
enorme enriquecimento.
É
também importante pôr ênfase na coesão social e suporte social e familiar como
um recurso intergeracional, é nos oferecido um conjunto de ideias e chamadas de
atenção, para que todos, incluindo seniores e cuidadores se sintam bem. Este
roteiro para um envelhecimento bem-sucedido não esquece a importância do
autocuidado, do envelhecimento mantendo os pilares da saúde, faz-se a
recordatória dos consumos indesejáveis e do significado da literacia em saúde
na toma de certos medicamentos, na manutenção de uma alimentação saudável, na
prática de exercício físico e desporto, numa boa gestão quanto ao uso de ecrãs
e das redes sociais, a higiene do sono, etc. Há também que saber quando
procurar ajuda profissional e onde ela se encontra.
Em
jeito de recapitulação, também se aponta o dedo às políticas públicas para o
acesso à saúde psicológica, evidenciando que elas “desempenham um papel
fundamental na possibilidade de acesso à saúde psicológica. As políticas
públicas promovem a saúde mental, a saúde psicológica e o bem-estar ajudam a
criar um ambiente que favorece o desenvolvimento da flexibilidade psicológica,
essencial para lidar com as mudanças e perdas associadas ao envelhecimento. É
necessário garantir que os mais velhos têm acesso a serviços de saúde,
programas de atividades físicas e de socialização, além de apoio psicológico e
logístico na vida diária. Um aumento da literacia da população sobre os
desafios do envelhecimento e sobre a importância da flexibilidade psicológica
para a boa concretização desses desafios podem transformar a perceção social
acerca do envelhecimento, promovendo uma abordagem mais positiva e inclusiva.”
Lê-se
com imenso prazer este ensaio em que se propõe aos seniores e aos seus
cuidadores que respondam às mudanças inevitáveis do envelhecimento com abertura
e curiosidade. Digamos que é uma narrativa bem-sucedida para um envelhecimento
bem-sucedido.
Mário Beja Santos
São Cristóvão pela Europa (313).
Situada
na Região Veneto e na Província de Verona, a cidade italiana de Bussolengo fica
junto ao rio Adige, o rio de Verona e o segundo de Itália depois do Pó.
A
Associação BAC (Bussolengo Arte Cultura) desenvolve um trabalho notável no
estudo, promoção e protecção do património dessa cidade e dos seus arredores.
Orientado
pela Associação, a quem muito agradeço o planeamento desta jornada, em especial
à Martina, visitei três igrejas: São Roque e São Valentim em Bussolengo e Santa
Lúcia numa povoação chamada Santa Lucia, a 5 quilómetros de distância.
A
Igreja de são Roque (1295-1327), o santo protector da peste, terá sido
construída no Século XV. O seu interior está repleto de frescos. Cada fresco foi
encomendado por uma das personagens ilustres da cidade, ao tempo. Curiosamente,
alguns dos frescos são repetidos no sentido de representarem os mesmos santos.
São Roque é, logicamente, o recordista com oito, mas o nosso São Cristóvão tem
três.
O último está datado de 1513. O segundo é apenas um vestígio.
A
igreja de São Valentim é dedicada ao santo padroeiro da cidade. Remonta ao
Século XII. É mencionada num documento em 1339. Nessa altura era uma igreja
vetusta ainda sem frescos. Tem um São Cristóvão e uma belíssima série de
frescos com a vida de São Valentim. São do Século XV.
Ainda
segundo aquela autora, que acompanhou a minha visita, os trajes baseiam-se na
tradição bizantina. Segundo a sua descrição no mesmo livro, Ele é representado
como um gigante empunhado uma vara transformada num ramo de palmeira e sustenta
o Menino sentado no seu ombro esquerdo, apoiando-o com a mão livre. O Menino
abraça o pescoço do gigante e por cima da sua túnica vermelha usa um manto
forrado com arminho que esvoaça para dar o sentido do movimento ou de uma
rajada de vento. O forro do manto do Santo e a Sua gola são também em arminho.
E
da minha lavra: a decoração do manto do Menino é feita de uma simbologia
presente em outras imagens do Santo. Parecem pegadas de pássaro.
A
10 quilómetros de aqui situa-se o campo de batalha de Rivoli, decisiva batalha
da campanha de Itália de Napoleão em 1797, evocada na célebre rue de Rivoli
em Paris.
domingo, 24 de agosto de 2025
São Cristóvão pela Europa (312).
Já
aqui publiquei muito sobre a cidade de Veneza.
Mas
há sempre mais um São Cristóvão a descobrir…
A
ilha de San Michele na Laguna de Veneza tem uma história muito peculiar.
Napoleão
Bonaparte ocupou a cidade em 1797 pondo fim à existência milenar da República
de Veneza. Vários atentados patrimoniais foram cometidos como o incêndio da
grande galera dos Doges chamada Bucentauro e o roubo dos cavalos de bronze da
Basílica de São Marcos.
Mas
Napoleão trouxe também a “agenda fracturante” da época. Nela avultava o fim dos
enterros nas igrejas e, consequentemente, a construção de um cemitério. Causa
próxima em Portugal da revolta chamada da Maria da Fonte.
Não
era empreendimento fácil. No núcleo urbano não havia espaço.
Em
1807, encontra-se uma solução. Juntar duas ilhas da laguna numa gigantesca
terraplanagem. Une-se assim a ilha de San Cristóforo della Pace à de San Michele
e nasce o cemitério da ilha de San Michele.
Aqui
estão sepultados, entre outras celebridades, os russos Igor Stravinski
(1882-1971), grande compositor e pianista ou Serguei Diaguilev (1872-1929),
fundador dos Ballets Russes.
E
no meio, um monumento funerário com um belo baixo relevo representando o nosso
Santo.
Existe
também uma Igreja de São Cristóvão, infelizmente fechada.
Um
dos símbolos de Veneza é o Teatro La Fenice, autêntica catedral da ópera, onde
cantou Maria Callas, completamente destruído por um incêndio em 1996 mas
novamente reconstruído.
Junto,
na Calle de la Fenice, um pequeno oratório, representando São Cristóvão,
coberto por uma grade.
Fotografias de 9 de Agosto de 2025
José Liberato
São Cristóvão pela Europa (311).
Dediquei
a minha peregrinação estival deste ano mais uma vez à Itália e à Áustria,
fazendo mesmo uma pequena incursão na Suíça. Nunca perdendo uma oportunidade de
documentar imagens do nosso Santo
Comecei
pela província de Treviso.
Em
Giavera del Montello, a Igreja de São Tiago e São Cristóvão está construída num
local onde se ergueram várias gerações de igrejas. Há mesmo um documento do imperador
Otão III datado de 994 que menciona uma igreja.
No
altar-mor, todo em mármore, de 1745, uma bela estátua de São Cristóvão. Foi
esculpida por Giuseppe Bernardi dito Il Torretto ou Torretti (1694-1774) em
mármore de Carrara. Foi professor de Canova.
Na
cidade de Treviso, o facto de ter encontrado a Igreja de Santa Lúcia fechada em
contradição com o seu próprio horário de abertura e de isto me acontecer pela
terceira vez vai permitir-me uma excepção à minha própria regra de publicar
aqui apenas o que vejo pessoalmente.
A Igreja, também chamada de São Vito e Santa Lúcia tem um fresco notável do nosso Santo. Existe outro fresco reproduzindo a história da vida de São Cristóvão que reproduzirei aqui se e quando conseguir visitar a igreja.


























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