quarta-feira, 27 de maio de 2015

Suítes for my sweet.

 
           

 
Inconfessável urgência que não vem ao caso suscitou vistoria in loco ao panorama moteleiro lisbonense. Após aturado trabalho de campo, com idas ao terreno, somos habilitados a garantir que, na capital nacional, quem leva a palma lupanar é o XROOMZ. Indubitavelmente, o mais bem apetrechado dos motéis alfacinhas, o mais eficiente e discreto, o mais apostado na satisfação da sua clientela requintada-javarda. «Mais do que uma estadia agradável, o XROOMZ proporciona experiências, sensações, bem no centro de Lisboa».   
Se o título desta unidade moteleira é algo elusivo e críptico (XROOMZ), parecendo um modelo descontinuado de uma fotocopiadora Canon, o subtítulo fala por si: Hallucinating Experience.  
É bem verdade. Não há, de facto, muitos lugares em Lisboa que possam orgulhar-se da alucinante variedade temática e cromática dos quartos do XROOMZ. Um espaço feérico na Rua de Santo António da Glória, nº 90-A. E o que temos lá dentro? Muito romantismo. Mas, como os sentimentos são fugazes e o amor passageiro, no XROOMZ é possível ser-se romântico apenas durante uma hora. A «Promoção Romântica», que custa 20 euros/hora, processa-se das 10 da noite às 6 da madrugada, faça sol ou chuva.
 


Suite Indiano
 
 
 
 
         Para estadias mais prolongadas, reclamam-se destinos exóticos. Logo a abrir, a Suite Indiano, com frutas e verduras. «Seja o Marajá das mil-e-uma noites», anuncia o XROOMZ, assegurando que este aposento é uma «suite certificada para dança-do-ventre». Mil-e-uma noites e dança-do-ventre, hífenes a mais para 15m2 de área útil. Mas a Suite Indiano está certificada para a dança-do-ventre e outras obstipações. Agora qual foi a entidade certificadora, que departamento ou organismo oficial atestou a funcionalidade do espaço para a prática do bailarico ventral, isso só perguntando aos corpos gerentes do XROOMZ.
 
 
Suite Subaquático
 
 
 
         Para desportos radicais, a «Suite Subaquático». «Conheça o sítio onde sereias e marinheiros se divertem», refere o site do XROOMZ. Pedagógica, instrutiva, a Suite Subaquático apresenta uma razoável amostra de fauna marinha, mormente na secção de polvos e lontras. Para um passeio em família ao reino piscícola, num domingo de manhã, eis uma boa alternativa ao Aquário Vasco da Gama – e à sua lula gigante, contorcida em formol.    
         O XROOMZ disponibiliza ainda uma «ilha privada bem no centro de Lisboa». Se está a pensar no lago do Campo Grande, desengane-se. Do que que se trata é da «Suite Tropical», que aqui se apresenta, sob um céu de estrelas:
 
 


Suite Tropical
 
 
         Para os amantes da 7ª Arte, a Suite Cinema. Basicamente, é uma cama com um telão à frente e espumante da Bairrada num frappé de latão, tudo alumiado por velas de cheiro incenso. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica.
 
Suite Cinema
 
Já a Suite Egipto, piramidal e cintilante, com reverberações milenares, ostenta um «conforto digno dos aposentos de um Faraó» (ou seja, sem água canalizada). Décor referencial, odaliscas não incluídas.  
 
 

Suite Egipto
 
 
 
 
         Num registo mais frígido, a Suite Antártida. Anunciada como «a suite de gelo mais quente de Lisboa» tem como fonte inspiradora os bares e hotéis Absolut, muito em voga nos países da Europa setentrional. Desta feita, porém, os blocos de gelo são substituídos por reboco picotado, daquele que aleija. Emoções fortes. Para mentes glaciais, sedentas de volúpias álgidas.    

Suite Antártida

 
 
         Para mais altos voos, a Suite Avião. A melhor de todas, sem dúvida. Um prodígio de imaginação, ou de falta dela. Com efeito, à excepção dos grevistas da TAP, qual é a alminha que se lembra de mobilizar um espaço erótico no interior de uma aeronave civil? «Benvindos à XROOMZ Airlines. Apertem os cintos, e apreciem a viagem».
 


Suite Avião
 
         Em contrapartida, ficámos um pouco desconsoladitos com a Suite 2100 («o futuro vai acontecer esta noite, neste quarto»). O nome e as imagens mostram nitidamente que se trata de uma obra inacabada, ainda em toscos, prevendo-se o fim dos trabalhos só para 2100, ou seja, daqui a 85 anos, o que é muito. Pedia-se um pouco mais, ó rapaziada do XROOMZ.
 


Suite 2100
 
         E não, também não estiveram bem na suite Purple. Muito, muito fraquinha. Note-se que uma das máximas deste motel é: «Desvende cada quarto, e viva nele uma história secreta decorada a luz, cor, som, formas e texturas conjugadas especialmente para o seu conforto.» Fomos desvendar a suite Purple, e o que vimos? Uma cama redonda com lençóis lilases, pétalas de rosa espalhadas no edredão... Isto é serviço que se apresente? Isto é empreendedorismo bordeleiro? Não, assim não. Assim é brincar com a freguesia (doutores e engenheiros).
 
 
Suite Purple, a favorita do senhor engenheiro
 
 
 
 
         Também questionável, o Love Room («o quarto com bolinha vermelha»). Dispõe, é certo, de «ribalta com varão de Pole Dancing». Atente-se, porém, que todo o rinque de patinagem acrobática é delimitado por quatro linhas, ríspidas e castrantes. «A área útil do quarto é toda ela uma cama». Convenhamos: não é prático.
 
Love Room, «o quarto com bolinha vermelha»
 
Se é para isto, se é para uma miséria destas, mais vale optar pelo Motel Mood Private Suites. São muitas as suites, a saber: a Suite Presidencial («a suite predilecta de todos os que preferem uma maior sofisticação»), a Suite Adaptados («proporciona uma fácil acessibilidade a todos»), a Suite Piscina com Turco, a Suite Piscina com Jacuzzi, a Suite com Hidromassagem e, para os mais pelintras e conformistas, a Suite Standard.
 
 
 
 
Suite Presidencial
 


Suite Adaptados

 
 
 
         Não é nosso propósito semear a discórdia e fomentar a cizânia no meio moteleiro lisbonense. Mas, por imperativos de ética kantiana e também republicana, temos a obrigação de informar os cidadãos-leitores que, em contraste com o XROOMZ, o Motel Mood providencia valências muito recreativas, tais como: «duche duplo chuveiro cascata», «jogo de luzes com cromoterapia», as utilíssimas «garagens duplas privativas», «espelhos laterais» (e retrovisores), «16 suites para fumadores» e até, para os mais fogosos, «sistema de segurança e incêndio». Todos os quartos do Motel Mood têm música ambiente «4 canais de rádio» e «TV com canais eróticos e USB».
 
Private Events
 
No Motel Mood, e passe a publicidade, existe até um espaço para Private Events, onde «poderá desfrutar de um excelente serviço de banquetes e festas privadas disponível sobre reserva antecipada». Portanto, se marcar sobre reserva antecipada, o Mood faz casamentos, faz baptizados, faz primeiras comunhões, até divórcios litigiosamente amigáveis. Organiza jantares de empresa, palestras-debate em estilo inglês e mesmo as famosas plataformas cívicas abrangentes, conhecidas no país-irmão como surubas reitorais.
Motel Mood, «todos os sentidos vão dar aqui». Acrescentam os génios do marketing: «E porque falamos de sentidos, não nos podíamos esquecer do paladar. Descubra o nosso serviço de restauração com Room-Service disponível 24 horas por dia».  
Com estes encómios ao Motel Mood, não queremos obviamente desfazer no XROOMZ, bem mais colorido, bem mais rico de pormenores, com maior atenção aos detalhes (e os detalhes fazem a diferença). O XROOMZ não só prevê uma «Garagem Coberta – sujeito a disponibilidade» como fornece serviços de manutenção auto, oleando as viaturas aparcadas com «lubrificantes normais e com sabores».
Em poucas palavras: só no XROOMZ existe uma Suite Antártida e uma Suite Avião. Uma viagem de longo curso na Suite Avião, durante 12 horas, sai a 75 euros, incluindo taxas de aeroporto. Mas há alternativa low-cost, com 2 horas de voo por 35 euros. A Antártida, porque distante, é mais puxada e frescota no preçário: 120 euros por 12 horas. Ainda assim, as mais escaldantes no preçário são a Tropical e a Indiano.  
 Brevemente, diz o site do XROOMZ, haverá um «Serviço de Limousine» e uma «Montra de brinquedos sexuais». É certo que o XROOMZ pode definir-se já, todo ele, como uma montra de brinquedos: Suite Avião, Suite Faraó, Suite Antártida. Vem a Lisboa, não ande à toa. Motel XROOMZ,  um frenesi delirante de tristeza e vazio. A solidão no varão: a dois, a três, a quatro...
 
 
  

3 comentários:

  1. Espero que isto seja para o inicio de uma secção nova e com muito futuro.
    Em tempos li alguns slogans brasileiros de promoção de moteis.Ficam de cabeça dois.
    Mais vale à tarde que nunca.
    Nós queremos que os nossos clientes se fod...!

    ResponderEliminar
  2. O que gostei assim assim e está mais de acordo com os meus olhos é o restaurante. O resto é muito álacre. Uma hora no meio daquelas cores é capaz de fazer um efeito danado.

    ResponderEliminar