quinta-feira, 20 de novembro de 2025

São Cristóvão pela Europa (332).

 

 

 

A cidade italiana de Trento é hoje a capital da província do mesmo nome na Região de Trentino – Alto Adige.

Aqui, entre 1545 e 1563, teve lugar o Concílio de Trento, o último a realizar-se fora de Roma. Neste Concílio, a Igreja Católica enfrentou um dos maiores desafios da sua existência: a resposta à Reforma lançada por Martinho Lutero uns anos antes.

Fê-lo lançando a Contra-Reforma. Grande parte dela foi concebida no Concílio.

E um dos temas cruciais teve muito a ver com o culto de São Cristóvão.

Uma das mais fortes críticas que a Reforma protestante dirigiu à Igreja Católica dizia respeito ao uso devocional das imagens religiosas. Houve mesmo actos iconoclásticos na Europa Central protestante.

Na parte final do Concílio de Trento (na 25ª e última sessão em 4 de Dezembro de 1563) foi promulgado um decreto sobre a invocação e a veneração das relíquias dos santos e as imagens religiosas.

Segundo esse decreto, o uso devocional das imagens religiosas devia apenas ser destinado à instrução religiosa da população analfabeta. A veneração das imagens não devia dirigir-se às imagens materiais, mas às ideias que representavam

Os fiéis incultos que cometessem erros perigosos deveriam ser corrigidos ou afastados, e qualquer forma de licenciosidade deveria ser eliminada. Por fim, os bispos foram incumbidos da tarefa de apreciar quaisquer representações invulgares antes de permitir que fossem expostas nas igrejas.

O conteúdo do decreto, publicado na colecção de cânones do Concílio, revela porém a preocupação da hierarquia eclesiástica com a liberdade dos artistas e a consequente necessidade de reconduzir a sua actividade aos limites codificados pela autoridade religiosa.

Ora, a devoção de São Cristóvão, caracterizava-se pela prática de um certo grau de imediatismo na concessão das graças. Bastava olhava para Ele. Não era preciso rezar nem sequer ajoelhar. É razoável pensar que as novas orientações foram pelo menos prejudiciais àquela devoção. Daí a redução do número de imagens e mesmo o apagamento de muitos frescos.

Na Catedral de Trento existe a capela do Crucifixo, hoje barroca. Foi diante deste crucifixo em madeira que foram promulgados os decretos resultantes do Concílio.

 



A catedral de Trento, dedicada a São Vigílio, um dos primeiros bispos de Trento (no final do Século IV).

No interior um belo fresco representando São Cristóvão.





No Museu Diocesano, duas obras representam o nosso Santo.

A primeira é um quadro de Martin Teophil Polak (1551-1639), pintor activo em Trento, mas provavelmente de origem polaca. O quadro exibe uma interpretação, caucionada pelo Bispo de Trento, sobre a nova estética lançada pelo Concílio. Com efeito, São Cristóvão é enquadrado e protegido pela Virgem.

A segunda é um altar com abas do início do Século XVI. No centro, o tema da Santa Parentela (a família alargada de Santa Ana) ladeado por Santa Catarina de Alexandria e Santa Bárbara. Esta seria a configuração do altar nos dias de festa. Nos dias da semana o altar era fechado. Se espreitarmos a pintura por trás da aba, lá está São Cristóvão.

 




Na época do fascismo foi lançada uma nova arquitectura particularmente vocacionada para os edifícios públicos, em especial os Correios. Pretendia-se substituir a estética austríaca.

Em Trento, o edifício austríaco dos Correios foi demolido em 1929 e no seu lugar construído um novo que rapidamente foi envolto em polémica. Um boato circulou na época: que os projectos de Trípoli (Líbia) e Trento tinham sido trocados por engano, dado o facto das duas primeiras letras das cidades serem iguais!...

Numa esquina do edifício foi colocada uma estátua de São Cristóvão em mármore de Carrara da autoria do escultor italiano Stefano Zuech (1877-1968).

Hoje o edifício está em obras e oculto por andaimes. Consegui vislumbrar a estátua de esguelha. Publico uma imagem de arquivo.

 



                                            

                                                Fotografias de 6 e 7 de Agosto de 2025

                                                                                          José Liberato



1 comentário:

  1. Sempre em viagem!!! O nosso repórter não descansa, mas vale a pena, o que nos dá a conhecer é muito valioso, como digo, o aprender não ocupa lugar, e o que nos trás é deveras cultura pura.
    Mais uma vez obrigado pela partilha e boas reportagens.
    Um abraço.

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