Há um ano
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Actualmente...
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As árvores morrem de pé… a não ser quando o homem
intervém.
Na Antiga Grécia, os metecos eram
estrangeiros, sem direito a participar nas decisões políticas mas com muitos
deveres e poucos direitos. Ontem senti-me assim no bairro onde vivo…
Há cerca de
dois anos, na revista ZINE, do Agrupamento Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa,
no Bairro de São João de Deus, podia ler-se: «As árvores da Guerra Junqueiro
foram pensadas para as suas folhas caírem tarde (Novembro) e aparecerem cedo (Fevereiro),
estando agora na sua maior pujança, o que dá à rua uma enorme frescura… e às
vezes é bem fresco, quando a nortada resolve invadir Lisboa e a rua, orientada
no sentido noroeste-sueste, serve de “tubo de escape” da ventania».
Consultando
sítios de agências imobiliárias, quando se procura um apartamento neste bairro
– Praça de Londres, Guerra Junqueiro, Av. Paris, Alameda, etc – é quase sempre
realçado o «aspecto verdejante» do local, aprazível por ser das raras zonas da
cidade em que os edifícios e os envolventes, designadamente os passeios largos
com canteiros grandes e o enorme arvoredo, se assemelham ao que há de melhor
nas capitais europeias onde a qualidade de vida dos habitantes, trabalhadores,
comerciantes e transeuntes em geral é levada a sério.
Há um ano,
de repente, na sequência de um ramo que, durante uma tempestade, caiu em cima
de um carro topo de gama, chegou uma empresa que, rapidamente, «fez o
diagnóstico». Passados escassos dias, ao que dizem a mesma empresa, interveio
na «terapêutica», que foi cortar, cortar e cortar… até os protestos populares
fazerem o presidente da Junta vir ao local e constatar, ao Jornal Público, «que
se tinham esticado um bocado». Prometeu muitas árvores para Setembro…
provavelmente na China, porque aqui não foi.
O verão foi
quente e o comércio ressentiu-se. As casas ficaram muito mais abafadas. As
árvores, coitadas, resistiram e agora, em Fevereiro, começaram a deitar novos
ramos, flexíveis, finos, que não se quebrarão com o vento mas que estão
repletos de folhas verdes e já dão alguma sombra. A saúde mental de quem por
aqui vive ou passa também se ressentiu.
Ontem,
contudo, eis que avançam as máquinas e a razia é total. Não sobra nada. Em vez
das árvores antigas colocam-se umas «pauzinhos» de dois metros de altura, sem
rebentos e que, coitados, com a poluição automóvel e de gases pesados duvido
que consigam crescer nas próximas décadas. Assim se destrói o património verde
– a Junta sabe, a Junta é eleita, a Junta decide… mas por acaso houve muitos
pareceres contra, desde engenheiros do ambiente e paisagistas, a agrónomos e
botânicos que consideraram não ser necessário tanto «esticanço». As fotografias
atestam.
Anteontem,
ao rever com um dos meus filhos, que está no 7º ano, a matéria para o teste de
História, que versava sobre a Grécia Antiga, senti-me um perfeito meteco, ou
seja, um «indivíduo livre mas estrangeiro, que tinha muitos deveres mas poucos
direitos, designadamente o de intervir politicamente e de colaborar nas
decisões públicas».
A Junta quis,
pôde e mandou. Ouvindo e havendo tantas opiniões diferentes, talvez uma
consulta pública e um período de discussão não tivessem sido disparate, pelo
menos num horário e em formas alargadas, e não apenas numa tardezinha, em meia
hora impossível, na sede da Junta. O Fórum Cidadania Lisboa bem tentou debater
o assunto mas de nada serviu.
Assim vai a
política autárquica, que nada tem a ver com a Câmara Municipal de Lisboa, mas
com o facto de se terem transferido pelouros a mais para a competência das
Juntas.
Sinto-me
meteco no bairro onde moro, trabalho, faço compras, descanso e passeio.
Felizmente tenho esta tribuna, coisas que os metecos não tinham… mas a Guerra
Junqueiro e a Praça de Londres ficarão despidas do seu verde… os agentes
imobiliários vão ter de inventar outro slogan… e o meu cão está triste, nos
seus passeios, que ficarão infinitamente mais pobres.
Mário
Cordeiro
(publicado
no jornal i, de 15-III-2016; aqui republicado
com autorização de Mário Cordeiro: obrigado, Mário, um abraço!)
se calhar são para transplantar para a 2ª circular...já estão a fazer stock..
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