terça-feira, 11 de novembro de 2025

Abstenção, a grande pedra no sapato da democracia participativa.

 


 

          A Fundação Francisco Manuel dos Santos desenvolve meritórias iniciativas para procurar dar a conhecer em equação o que é hoje ser português, que problemas trazemos connosco, quais as nossas marcações de identidade, como nos vemos na esfera do tempo; ah, como nos comportamos em cidadania e encaramos a democracia participativa. É nesta última temática que está em cima da mesa um osso duro de roer, dele se especula muito, há muitos porquês sobre a abstenção, nem a parte nem o todo apresentam resultados satisfatórios. Por isso a indagação é persistente, nem vale a pena falar dos riscos que representa o alheamento democrático. É assunto seríssimo, a Fundação acaba de tomar algumas iniciativas. Primeiro, um estudo. Vejamos o que ele diz.

           Consta no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos o seguinte:

“Quem se abstêm em Portugal e porquê? O novo estudo da Fundação é a mais extensa análise já feita (até à data) sobre as causas e as consequências da abstenção eleitoral em Portugal, cobrindo todo o período democrático e os vários tipos de eleições. Os autores recomendam estimular o dever cívico nas escolas, logo a partir o 1º ciclo, e expandir o voto em mobilidade para aumentar a participação eleitoral, mas deixam de fora o voto obrigatório e o voto online.

Portugal registou um declínio significativo na participação eleitoral ao longo das últimas décadas. Mas qual é a dimensão da abstenção? O que leva tantos eleitores a decidir não votar e quais são as consequências de não escolherem os seus representantes? Há diferenças entre as posições políticas de quem vota e de quem se abstém? E que estratégias podemos implementar para estimular a participação eleitoral?

O estudo, da autoria de José Santana Pereira e João Cancela, responde a estas questões com base num inquérito a 2405 eleitores, 6 focus groups com abstencionistas/votantes intermitentes e três encontros com representantes políticos a nível local, nacional e europeu, oferecendo a mais extensa análise até à data sobre o fenómeno no nosso país.

Esta investigação revela que em eleições legislativas, presidenciais e europeias, a participação eleitoral é mais elevada nas zonas urbanas, enquanto nas autárquicas os eleitores das zonas rurais e híbridas tendem a votar mais.

Sabe-se também que a abstenção não é um comportamento aleatório nem uniforme. Os autores destacam que características sociodemográficas, como a idade, o nível de escolaridade e de rendimentos, fatores atitudinais, como o sentimento de dever cívico ou o interesse pela política, e barreiras práticas, como a distância do local de voto, influenciam a decisão de não votar.” O leitor pode ter acesso ao estudo completo em: file:///C:/Users/M%C3%A1rio%20Beja%20Santos/Downloads/Estudo%20completo%20(PDF).pdf

Em simultâneo com a publicação do estudo era editado o livro O tanto que grita este silêncio, Porque se abstêm os portugueses?, por Nelson Nunes, Fundação Francisco Manuel dos Santos, setembro 2025.

Vota-se para quê? O autor recorda que o país está dividido em dois: nos meios urbanos, é mais fácil de chegar às urnas, mas, para os milhares de pessoas que vivem em meios rurais, o caso muda de figura. É muito provável haver milhares de abstencionistas involuntários nestes contextos. Não há explicação para esses porquês da inércia e do alheamento, mas não sobra dúvida que a política não está a comunicar a ponto de mexer com todos, e não vale a pena passar desculpas para os casos de corrupção, criminalidade, falta de satisfação de necessidades básicas como a saúde, recrudescimento de violências, matérias-primas que os órgãos de comunicação social que primam pelo sensacionalismo exploram até à exaustão.

Sabe-se que há abstenção como forma de protesto, se querem explorar o lítio na nossa terra, nós não votamos. Há quem diga que os partidos são todos iguais, nenhum deles dá resposta à falta de empregos, às remunerações justas dos primeiros empregos, e por aí fora. Nelson Nunes foi ouvir pessoas, grande surpresa foi perceber que há abstencionistas politicamente esclarecidos, há quem se apresente como abstencionista temporário, há quem foi muito tempo imigrante e que se sinta injustiçado por pagar impostos em Portugal, há mesmo quem diga nunca ter sido estimulado para as diversas formas de participação cívica, há quem não esconda um certo desconforto por saber que ao não votar há quem esteja a fazer escolhas por si, há também aquele inquirido que saltita de trabalho em trabalho e de país em país e que não vota alegando que os problemas se resolvem com decisões que nem foram anunciadas nos programas eleitorais.

Há quem se sirva da abstenção como um grito de revolta. E há respostas que nos apanham de surpresa, como esta: “Considero que a política é muito mal paga. Um bom gestor, um bom líder, não vai para a política. Vai para uma boa empresa, que lhe pague muito bem. Por isso, só vai para a política quem não é muito bom.” É como se dissesse que não se vota neles porque são genericamente medíocres. Quando, subitamente, em março de 2024, a abstenção foi das mais baixas de sempre, houve quem desse a seguinte interpretação: “É a revolta a falar. As pessoas estão cansadas, fartas do mesmo. Eu decidi não ir, mas com a generalidade das pessoas aconteceu o contrário. Foram votar porque querem respostas.”

Os inquéritos de Nelson Nunes não nos dão milagres explicativos: descobre-se que há quem foi durante muito tempo abstencionista e que agora participa, há quem durante muito tempo foi atraído por ideias de esquerda, está cansado de promessas, procura agora valores diferentes no populismo, mas também há quem se manifeste cansado numa direita e centro-direita que só tem uma certa política social para não perder o barco. O autor também bateu à porta de especialistas em ciência política, as respostas também são complexas no meio académico. Dirá mesmo, em jeito de conclusão, que o modo como as pessoas votam está diretamente relacionado com o estado das suas vidas. E os abstencionistas são mais do que a representação tosca que vemos deles na comunicação social. Acresce que a abstenção também é uma forma de representação mediática, por outras palavras, diz ele, o que falta é pôr os abstencionistas na comunicação social: libertá-los de um certo sentimento de vergonha, ou vê-los e perceber que caminho construtivo se pode desenvolver a partir daí. Estes abstencionistas silenciosos têm todo o direito a ser ouvidos.

 

                                                                Mário Beja Santos


segunda-feira, 10 de novembro de 2025

É preciso muito saber para apresentar a descolonização portuguesa com tal simplicidade e rigor.

 


 

          O Essencial sobre A Descolonização Portuguesa, por António Duarte Silva, Imprensa Nacional, 2025, é um ensaio que parte da ambição de dar ao leitor o ponto de partida no processo da descolonização, mostra-nos as modificações no programa do MFA, a pressão internacional, tanto dos movimentos de libertação e seus apoiantes como, em curto lapso de tempo, as novas autoridades fizeram o reconhecimento do direito à autodeterminação e independência para todas as colónias africanas portuguesas; prosseguindo essa linha de rumo, o autor dá-nos conta dos sucessivos acordos que envolviam todas as parcelas do Império; e conclui, hoje, em que estão ultrapassadas as tensões ideológicas que envolveram então os acontecimentos, que a evolução dos acordos, na cena política portuguesa, dificilmente podia ter sido de outro modo assumido pelo poder político; uma descolonização que se saldou numa mera transferência de poder e gerou uma comoção inusitada com a chegada de cerca de meio milhão de portugueses que, aos poucos, se foram diluindo na população portuguesa; e, questão mais do que premente, há que ter em conta da gestão deste processo, como está historicamente consagrado: “Os principais atores da descolonização portuguesa foram, solidariamente, os movimentos de libertação nacional e o MFA, a sua chave foi a independência da Guiné-Bissau, o estatuto dos movimentos de libertação nacional como sujeitos de direito internacional determinou os termos e efeitos da descolonização, distinguindo-a das demais, por a independência ter sido, bilateral, rápida exclusivamente negociada entre eles e o Estado português.”

          É um ensaio brilhante, abarca todas as questões medulares, é uma narrativa rigorosa e clarificadora, uma escrita que vai ao ritmo da complexidade e velocidade desse processo que analisa passo a passo, o fim do Império.

          O programa do MFA, a concomitância entre um golpe de Estado e um regime que caiu aparatosamente em escassas horas, sem defensores, tinha que fazer avultar a questão de fundo do levantamento militar e do seu sucesso, a inexistência de uma solução política para uma guerra de guerrilhas que deixara o Estado Novo na mais completa solidão política. O programa do MFA referia explicitamente que se impunha o lançamento dos fundamentos de uma política ultramarina conducente à paz; a operacionalidade de se chegar à paz mostrou claramente um conflito entre o presidente Spínola e os demais militares, a tese federativa preconizada pelo autor de Portugal e o Futuro eram perfeito anacronismo, logo uma Guiné-Bissau já reconhecida como Estado por muitas dezenas de países nas Nações Unidas; também estas, cedo apareceram a reclamar a aplicação e os princípios e resoluções referentes à autodeterminação e independência dos povos coloniais. Ultrapassada a visão spinolista, mas já aprovada a lei da descolonização, avança-se em busca de solução para a questão mais premente, assim se chega ao Acordo de Argel, em 26 de agosto de 1974, o reconhecimento da independência realizou-se em Lisboa a 10 de setembro. Estavam lançados os dados, avançou-se para outro teatro de luta manifestamente degradado, Moçambique. De agosto para setembro trabalhou-se num protocolo de acordo, este foi assinado em 7 de setembro. Como lembra o autor, estava-se no auge do radicalismo revolucionário em Portugal e do radicalismo da FRELIMO, convencida de que com a ideologia se governava o país. Segue-se o reconhecimento da independência de São Tomé e Príncipe pelo Acordo de Argel de 26 de novembro de 1974.

          O ano finda com novo reconhecimento, prende-se com Cabo Verde, dá-se através do Protocolo de Lisboa de 19 de dezembro, o autor dá-nos uma súmula perfeita das questões conexas entre Cabo Verde e Guiné-Bissau, o princípio da unidade consagrado na doutrina do PAIGC, durante todo o período da luta e relevado nas negociações que conduziram à independência de Cabo Verde, em julho de 1975.

          Tenho para mim que todo o texto referente a Angola, e que se prende com o Acordo de Alvor, de 15 de janeiro de 1975, é historiografia doravante referencial, não podia imaginar que toda a complexidade da questão angolana ganhasse tanta luminosidade na síntese de pouco mais de vinte páginas, era o processo mais complexo e tortuoso, está aqui tudo resumido e compreensível a qualquer leigo.

          Seguem-se três processos, num deles correu sangue, um demencial caso de anexação, uma emocionante resistência que acabou no desfecho feliz da independência e do recurso à via democrática – Timor-Leste, como observa o autor: “No conjunto da descolonização portuguesa, Timor, onde não tinha havido luta de libertação nacional, acabou por ser, de facto e um pouco paradoxalmente, um caso atípico e dramático; a democracia portuguesa retomou relações diplomáticas com o Estado da Índia, surgiu o Tratado do reconhecimento da soberania da Índia sobre esta nossa colónia de Goa e de mais parcelas no último dia do ano de 1974; a questão macaense ocorreu sem nenhum drama, aprovou-se o Estatuto Orgânico de Macau em fevereiro de 1976, as relações diplomáticas entre Lisboa e Pequim foram estabelecidas em 8 de fevereiro de 1979; em 1987 assinou-se a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a questão de Macau, a administração portuguesa findou a 20 de dezembro de 1979.

          E deste modo o autor conclui que tivemos uma descolonização tardia, apressada, consensual e conforme ao direito. Recorda que logo a seguir ao 25 de abril os movimentos de libertação nacional impuseram-se com condições e exigências não negociáveis; o programa do MFA foi-se sujeitando às inúmeras tensões externas e internas e num curto espaço de tempo, depois de aprovada a lei da descolonização, marcaram-se datas para sucessivas independências, tudo se resumiu a uma mera transferência de poder. Sucederam-se dois fenómenos simultâneos: nas cinco colónias africanas os movimentos de libertação apropriaram-se do poder, não faltaram versões ideológicas recrutadas dos modelos soviético, argelino, cubano e chinês, como ideais de organização da sociedade e do Estado e, ao mesmo tempo, Portugal vivia um processo revolucionário que muito impressionou a comunidade internacional e em simultâneo houve que procurar resolver quem vinha de retorno ou nascera nas colónias e viria assumir ser português.

          Na capa deste livro vem uma consigna que foi determinante para a descolonização, um belo achado.

          De leitura obrigatória.

 

                                                                        Mário Beja Santos

 

 

 


 


 


São Cristóvão pela Europa (331).

 

 

 

O município italiano de Tubre (Taufers im Münstertal) é o mais ocidental de toda a Região de Trentino Alto Adige.

A igreja de São João Baptista é uma belíssima igreja românica construída no Século IX, a mais antiga da Região. O fresco exterior representando São Cristóvão tem grandes proporções (5,80m), data do princípio do Século XIII e situava-se no início do caminho que conduzia à Suíça.

 



Dentro da povoação de Tubre, na fachada de uma casa, um mural:

 


Passada a fronteira, em plena Suíça, encontram-se também São Cristóvãos…

Há quatro línguas nacionais na Suíça: o alemão, o francês, o italiano e o romanche. Estamos precisamente na região onde se fala romanche, no cantão de Grisons.

A igreja em Santa Maria de Val Müstair foi construída em 1492. Após o eclodir da Reforma, curiosamente, a comunidade protestante e a comunidade católica resolveram, muito pragmaticamente, partilhar o espaço exercendo o seu culto por turnos. Em 1838 passaram cada uma a ter a sua igreja própria. No exterior um belo mural representando São Cristóvão, datado de 1513.

O município de Val Müstair é, por sua vez, o ponto mais oriental da Suíça.

 




 

Um ponto de actualidade:

Saiu recentemente o livro Notre Dame de Paris da autoria de Claude Gauvard e publicado na colecção Que sais-je? da editora Presses Universitaires de France.

Já aqui abordei por duas vezes a questão da enorme estátua de São Cristóvão que existia à entrada da Igreja de Notre Dame. Ver https://malomil.blogspot.com/2018/01/sao-cristovao-pela-europa-49.html e https://malomil.blogspot.com/2020/12/sao-cristovao-pela-europa-134.html.

O livro apenas vem confirmar o que escrevi já há uns anos. O tema é mencionado em dois momentos:

A estátua de São Cristóvão, de uma altura fenomenal, oferecida por Antoine des Essarts em 1413, colocada à entrada da Catedral, era objecto de numerosas orações.

Em 1785, destruiu-se a estátua colossal de São Cristóvão à entrada da nave.

 

 

 

                                            Fotografias de 6 de Agosto de 2025

                                                                               José Liberato


quinta-feira, 6 de novembro de 2025

São Cristóvão pela Europa (330).

 

 

 

Prosseguindo no Norte da Itália agora na região de Vinschgau a caminho da fronteira suíça, Laces (Latsch) é uma comuna da província de Bolzano onde avulta a Spitalkirche Heilig-Geist, ou seja, a igreja do hospital do Espírito Santo, A construção do hospital terminou em 1337 e foi financiada através de indulgências autorizadas pelo Papa, sistema que veio a ser posto em causa durante a Reforma.

No exterior, distingue-se um portal de estilo gótico datado de 1517.

No interior, um magnífico altar da autoria do escultor alemão Jörg Lederer (1470-1550). Ao centro, um Trono das Mercês: Deus sentado segura com as mãos o corpo do Seu Filho morto. A pomba representa o Espírito Santo. Está ladeado por São João Baptista e São Wolfgang. São Cristóvão está no topo.

Um quadro representa os catorze santos auxiliares da autoria do pintor local Simon Ybertracher (1694-1772). Entre eles São Cristóvão.

 






Em Prato allo Stelvio (Pradam Stillserjoch), a igreja românica de São João Baptista foi construída no final do Século XIII. No exterior um fresco representando São Cristóvão.

 



 

                                                            Fotografias de 6 de Agosto de 2025

                                                                                                 José Liberato




segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Carta de Bruxelas.

 





Outono


O Verão, diz o poeta, é a única estação. Depois da alegria ruidosa, exterior, objectiva, vem o tempo do recolhimento. Lá fora e lá para trás ficaram as aventuras movimentadas, os risos colectivos, as festas longas – e a promessa de mais no dia seguinte. Em casa, junto da família, sente-se o perfume quente e adocicado da compota ao lume, o conchego da lareira com o seu fogo antigo, a manta no sofá – talvez um bom livro para ler. O Porto velho substituiu a cerveja. Já chegaram as chuvas, que reflectem as luzes das lojas e dos automóveis, e chegaram também os vendedores de castanhas; é pena já não serem servidas nos cones feitos com as folhas das listas telefónicas. O frio faz-se sentir, tão agradável antes de se recolher ao lar, no contentamento discretamente sorridente de quem se cruza com as crianças pequenas que regressam da escola, ruidosas, ainda entusiasmadas como tudo o que começa. As ocasiões e os passeios pedem já outra roupa, que, pesada, sai ligeira dos armários; um encontro marcado no passado que se cumpre como esperado e com a satisfacção serena de uma surpresa não inteiramente surpreendente. E com o passar do tempo aproximam-se as férias e o Natal, os planos, as compras. É o Outono – de todos os lados chega o convite à traição. 


                                                                                João Tiago Proença




domingo, 2 de novembro de 2025

São Cristóvão pela Europa (329).

 

 

 

Tirolo (Tirol) é uma pequena localidade a seis quilómetros de distância de Merano. Mas a sua importância ultrapassa largamente a sua dimensão.

Parece claro que deu o nome ao Tirol italiano e ao Tirol austríaco, vastas regiões entre a Alemanha e a Itália. Desde o notável Castelo Tirol, os Condes de Tirol, administraram este vasto território até ao momento em que os Habsburgos tomaram o poder no condado.

 

 

A igreja de São Ruperto em Tirolo foi mencionada pela primeira vez em 1332 e objecto de múltiplas alterações ao longo da História. No exterior, um fresco de São Cristóvão. No interior, um tríptico tem uma imagem do Santo numa das suas abas.

 





A igreja de São Pedro, nos arredores de Tirolo, é de origem carolíngia.

Tem um mural representando São Cristóvão, já ostentando as marcas do tempo.

 



Em Naturno (Naturns), a Igreja paroquial de São Zeno possui uma imagem gigante de São Cristóvão muito deteriorada talvez pela construção de alguma janela.

A igreja tem origem pré-carolíngia, mas a estrutura actual (gótica) é da segunda metade do Século XV.

 




                                                                                Fotografias de 6 de Agosto de 2025

                                                                                José Liberato


domingo, 26 de outubro de 2025

São Cristóvão pela Europa (328).

 

 

 

Merano (Meran) é uma bela cidade italiana da Província de Bolzano onde se sente muito a influência austríaca.

As suas termas ficaram conhecidas após a estadia da Imperatriz Elizabeth, mais conhecida por Sissi, e de suas filhas em 1870. Também Franz Kafka (1883-1924) passou a Primavera de 1920 em Merano, procurando tratar a sua tuberculose. Aqui iniciou a sua correspondência célebre com Milena Jesenska. Instalou-se no Grande Hotel Emma que ainda existe.

 


A cidade é atravessada pelo rio Passirio.

 




A catedral de Merano é dedicada a São Nicolau e foi consagrada na sua actual forma (gótica) em 1465. No exterior, um belo fresco de São Cristóvão. No interior, um pequeno altar representando os catorze santos auxiliares, nomeadamente o nosso Santo.

 





 

Muito próximo da Catedral, situa-se a Capela octagonal de Santa Bárbara, construída em 1450. No exterior, um fresco de São Cristóvão do final do Século XIV. Por aqui passava o caminho de Merano para Tirolo, de que trataremos no próximo post.

 



                                 Fotografias de 6 de Agosto de 2025

                                                                     José Liberato




sexta-feira, 24 de outubro de 2025

São Cristóvão pela Europa (327).

 

 

 

Terlano (Terlan) fica a poucos quilómetros de Bolzano.

A sua igreja da Anunciação de Maria, construída na sua actual forma no Século XIV possui um dos mais importantes conjuntos de frescos da Região.

Entre estes, um fresco que representa São Nicolau a acalmar a tempestade e outro, muito mutilado, São Cristóvão. Ambos de 1405. Existe ainda um outro de São Cristóvão, completamente ocultado pelo órgão.

A igreja foi conhecida durante muitos anos pela sua torre inclinada, corrigida em 1884.

No exterior uma representação monumental do final do Século XIV encimando o portal de entrada de uma forma que obriga os visitantes a atravessar a figura do Santo.

 







Na povoação, a fachada de uma casa também tem um mural de São Cristóvão.



Em Lana, a igreja também é dedicada à Assunção de Maria. Foi consagrada m 1492.

Nas suas paredes exteriores dois frescos representam São Cristóvão.

 





                                            Fotografias de 5 e 6 de Agosto de 2025

                                                                                    José Liberato

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

São Cristóvão pela Europa (326).

 

 

 

Bolzano é a capital da província do mesmo nome na Região italiana do Trentino- Alto Adige

Nos Séculos XVII e XVIII, o Grand Tour constituía a viagem de aprendizagem que grandes vultos da Europa Central faziam, em especial a Itália, para absorverem a cultura da península. Era uma autêntica viagem de iniciação e aprendizagem.

O escritor alemão Goethe (1749-1832) foi um deles como já fora seu pai. Em 1786 atravessa a passagem de Brenner e em poucos dias chega a Bolzano.

No seu livro Viagem a Itália, descreve o ambiente de Bolzano há quase dois séculos e meio:

Cheguei a Bolzano sob um sol brilhante. Alegrei-me de ver tantos rostos de comerciantes que reflectem de forma viva uma existência plena de propósito e extremamente confortável. Na praça, havia mulheres a vender fruta em cestos redondos e baixos, com mais de quatro pés de diâmetro, onde acamavam os pêssegos dispostos lado a lado de modo a não se tocarem. Nesse momento, lembrei-me de um verso que vira escrito na janela da estalagem de Ratisbona:

 

"Comme les pêches et les melons

Sont pour la bouche d'un baron,

Ainsi les verges et les bâtons

Sont pour les fous, dit Salomon."

 

Tal como os pêssegos e os melões

São para a boca de um barão,

Assim as estacas e os bastões

São para os loucos, diz Salomão


 



A Catedral de Assunção de Maria em Bolzano foi consagrada em 1180 e remodelada depois no estilo gótico.

No seu interior, um belo tríptico com uma imagem de São Cristóvão:

 



 

No Museo Civico, um mural com a imagem do nosso Santo decora uma das suas paredes exteriores:

 



E finalmente, junto à estação de comboios da cidade uma fonte homenageia São Cristóvão.

A estação, concluída no final dos anos 20 do Século XX, insere-se na estética do período fascista e a estátua que encima a fonte é da autoria do escultor austríaco Franz Ehrenhöfer (1889-1939)

 




 

 

                                Fotografias de 5 de Agosto de 2025

                                                                   José Liberato