quinta-feira, 31 de agosto de 2017

São Cristóvão pela Europa (2)

 
 
 
Baixo-relevo do início do Século XX, representando São Cristóvão, na Igreja de São Cosme e São Damião em Clervaux, Luxemburgo. Fotografia de José Liberato.


O nome Cristóvão significa “o portador do Cristo”, “o que carrega Cristo”.
Tem origem no grego Christophóros, formado pelos elementos Christós, que quer dizer “Cristo” e phorós, que significa “portador”.

 
 

 
 

Semana do Livro Francês de Utilidades Práticas.

 
 

Um dia, uma fotografia.

 
 
Saul Leiter

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Recomendação livresca.

 
 



É um grande e fabuloso livro, como fabulosa e grande foi a pesquisa de Armando Leça. Graças aos registos sonoros que fez em 1939/1940 temos o primeiro levantamento do cante trastagano. Edição coordenada por Maria do Rosário Pestana, acompanhada de três CD’s, dos quais se pode ouvir um trecho aqui. Mas o melhor, o melhor mesmo é comprar este livro esplêndido.
 


 


Será legítimo?

 
 
Christopher Anderson


Hesitei muito se devia publicar aqui esta fotografia, mas acho que sim. Devia-se a hesitação ao facto de ter muitas, muitas dúvidas sobre se é ético fotografar um filho assim, e publicar essas fotografias num livro, como fez o fotógrafo da Magnum Christopher Anderson (aqui). Sim, a nudez não é crime e pode ser bonita e exposta. Mas isso é quanto à nossa nudez, nós decidimos o que fazer com ela. A de um filho, como é? No passado isso era normal, bebés nus, fofinhos e anafados. Agora, com maior atenção à autonomia dos menores, e aqui, numa fotografia «íntima», é algo diferente, parece-me. Não sei, fica a dúvida... Mesmo que a pretexto do «amor», é legítimo um pai utilizar o filho como modelo, sobretudo através da exposição e comercialização da sua nudez? O que dirá a criança quando crescer? Gostará, não gostará? Mas não lhe caberia a ela decidir, se se queria ou não ver assim exibida ao mundo?



 

 
 

Um dia, uma fotografia.

 
 
Susan Meiselas

No melhor pano...

 
 

 
Se há memória que guardo no coração, e até já falei nela aqui, é a da minha Leonorzinha em Londres. Ver os olhos dela a brilhar e a bater palmas de alegria pura, puríssima, num teatro do West End. Ao meu lado, um dinamarquês ressonava, ao som dos Abba e do Mamma Mia. Sim, adoro os Abba. E quem não lhes presta o divino culto, faz mal. Porque os Abba fazem bem, muito bem – à alma, ao espírito, até ao corpo, fumegante em chamas. Por isso revi vezes sem conta o filme Mamma Mia. Ontem mostrei à sobrinha Binha uma música desta obra-prima da 7ª Arte e uma cena em que, julgo eu, há um erro tremendo. Ora vejam lá, o Pierce Brosnan acerca-se da Meryl Streep aos 0:25 deste vídeo. O moço traz casaco, aliás um belo casaco cor de areia, e é com ele envergado que acaricia o rosto da Meryl. Logo no instante seguinte, na mesmíssima cena, o pêssego do Pierce aparece a trautear o When All is Said and Done  de mangas de camisa, a qual está arregaçada, ademais. E o Pierce Peach de ar gingão, qual fadista da Mouraria. Enfim, no melhor pano cai a nódoa, pois Mamma Mia, insistimos, é um grande enorme momento do Cinema Novo.
 

Sim, Sensacional.

 
 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Manuscrito Voynich.

 
 
 
 
 
 
Mais fascinante do que o Manuscrito Voynich só mesmo a história do Manuscrito Voynich.
Há um documento do século XVII que diz que o Manuscrito foi vendido por 600 ducados a Rudolf II, um imperador que, como é sabido, era dado à alquimia e ao okulto, tendo criado uma Kunstakammer onde amontoava desde chifres de unicórnio a quadros de Brueghel ou Dürer. Em Praga, para onde mudou a capital do Império, Rudolfo II buscava o segredo da pedra filosofal, julgando tê-lo encontrado no meio das 240 páginas do Manuscrito Voynich, cuja escrita até hoje ninguém conseguiu decifrar. Actualmente continuam por identificar as inúmeras plantas que o Manuscrito apresenta e os mapas estelares que exibe não correspondem a qualquer constelação conhecida. Percebe-se que existem várias partes do Voynich, que os investigadores classificam como «astrológica», «balneária», «farmacológica», «ervaria» (será assim que se diz «herbal»?)
O Manuscrito andou em bolandas até ir parar a Roma, onde vão dar todos os caminhos, tendo sido comprado em 1912 por Voynich, que lhe deu o nome.
 
 



 
 
 
Voynich nasceu em 1865, tendo por nome de baptismo Michal Habdank-Wojnicz. O local do nascimento situa-se actualmente na Lituânia mas na altura fazia parte do Império Russo. E sim, estou a copiar à bruta a recensão que, pela pena de Meehan Christ, a London Review of Books fez há dias a propósito da nova edição do Manuscrito Voynich pela Yale University Press. É, aliás, na Universidade de Yale – mais precisamente, na Beinecke Rare Book and Manuscript Library – que repousa o original, preciosíssimo. Quando visitou a biblioteca, Umberto Eco pediu apenas para ver uma peça: o Manuscrito Voynich, pois claro. Depois de nascer e crescer, Voynich estudou Direito e Química na Universidade de Moscovo e tornou-se farmacêutico. Por volta de 1885, foi para Varsóvia, onde aderiu ao partido revolucionário «Proletariado». Dois anos volvidos, está visto, era mandado veranear para a Sibéria. Mas, pasme-se, conseguiu escapar das estepes geladas via Manchúria e Pequim, arribando a Londres em 1890. Aí juntou-se aos círculos de revolucionários exilados de Sergei Kravinchinsky, conhecido por Stepniak, um senhor que tinha, nem mais nem menos, assassinado o chefe da polícia secreta do czar e era, na época, o líder internacional da oposição ao regime imperial russo.
Dotado para os negócios, o ex-farmacêutico Voynich começou a dirigir a agência de propaganda anti-czarista, sendo uma figura conhecida dos meios revolucionários londrinos, com frequentes aparições na Caras e outras revistas antissistémicas. Conseguiu estabelecer-se como livreiro-antiquário na Soho Square, sendo o seu estabelecimento frequentado amiúde pelos «caça-tesouros» do British Museum e pelas luminárias da intelectualidade de esquerda londrina. Numa viagem a Itália, em 1912, descobriu o Manuscrito na Villa Mondragone, um mosteiro jesuíta. Numa carta escrita pela sua mulher e só aberta após a morte desta, é revelado que o Manuscrito, juntamente com um ror de outros manuscritos e livros antiquíssimos, tinha sido desviado da Biblioteca Vaticana. Si non è vero
 
 



 

 
Voynich também cedeu à sedução mágica do Manuscrito, julgando que o narcótico de 240 páginas continha mistérios (que contém) capazes de solucionar todos os problemas do mundo (aí, calma, já é pedir demais ao Manuscrito e às suas ilustrações bizarras). Contratou os serviços de um criptoanalista da Pensilvânia, William Newbold, que se embrenhou no Manuscrito a fundo, vendo-o milímetro a milímetro com o auxílio de um microscópio. Entusiasmado com o que Newbold, lhe ia dizendo, Voynich, estabelecido na América desde a Primeira Guerra, estava eufórico. Em 1921, nas páginas do New York Times, proclamou que iria provar urbi et orbi que a magia negra da Idade Média tinha feito descobertas que colocavam a milhas de distância os avanços científicos da modernidade. Newbold asseverava que o Manuscrito, um porcalhão, até mostrava esperma a fertilizar um ovo (séculos antes da invenção do microscópio) e a espiral da galáxia de Andrómeda (séculos antes da invenção do telescópio).


 


Quando tudo parecia correr pelo melhor, com Voynich excitadíssimo pelas descobertas de Newbold, apareceu em cena um senhor chamado Manly, que servira como criptoanalista na Primeira Grande Guerra, e que, tendo estudado os textos de Newbold (que entretanto morrera), descobriu aí gritantes inconsistências. A empáfia de Voynich caiu por terra e o Manuscrito, diz-se, acabou sendo vendido por uma ninharia. Mais tarde, seria doado à Biblioteca de Yale, onde hoje repousa. Repousa, mas não em paz. Depois de Manly, William Friedman e a mulher dedicaram 40 anitos das suas vidas a tentar decifrar o Manuscrito. Repete-se: 40 anos de vida à volta do Voynich. E, atenção, o casal Friedman não era uma dupla de loucos. Wililiam Friedman era um criptoanalista de primeiríssima água, o homem responsável por decifrar o famoso Código Púrpura dos japoneses na 2ª Guerra. A mulher de William, por sua vez, trabalhava para o FBI, como criptoanalista e decifradora de códigos inextricáveis. Trabalhariam mais tarde nos Riverbank Laboratories, nas imediações de Chicago, um centro privado de investigação instituído por um magnata da indústria têxtil que acreditava piamente que Francis Bacon escrevera todas as obras de Shakespeare (isto é tudo uma grande maluquice, não é?). Os Friedman foram dos primeiros investigadores a usar computadores para análise textual, sendo um o Manuscrito Voynich, como é evidente, um dos primeiros textos a passar pelo crivo da informática. Ao fim de quatro décadas de pesquisa, publicaram o produto da sua investigação num artigo saído na Philological Quarterly, intitulado «Acrostics, Anagrams and Chaucer». Bonito, não? O que não tinha graça é que o artigo não apresentava conclusão alguma sobre o Manuscrito Voynich… Quarenta anos a trabalhar para o boneco? Nada disso. A conclusão dos trabalhos estava numa carta fechada e selada, dirigida aos editores da Philological Quarterly, para ser aberta apenas depois da morte de William Friedman. E assim foi. Em 1970, com o falecimento de Friedman, lá se abriu o envelope, que dizia: «The Voynich MS was an early attemp to construct na artificial or universal language – Friedman». No fundo, o casal Friedman entendia que não existia «segredo» algum por detrás do Manuscrito Voynich. Ou seja, os Friedman concluíram – e, aliás,  disseram-no várias vezes, em inúmeras entrevistas à Caras e outras publicações científicas – que escusa o Sr. José Rodrigues dos Santos de gastar o seu talento apatetado com o Manuscrito Voynich, havendo material muito melhor onde ganhar o guito, como a Teoria de Tudo, a Virgindade de Maria ou o Comunismo & Fascismo.
 A saga Voynich, como é óbvio, não acabou. Então nesta nossa era da Internet, a coisa é uma loucura: sites e blogues, incluindo este que estais a ler, falam do Manuscrito das formas mais disparatadas. O Voynich dá para sustentar todas, mas todas, as teses mais tontas e mais apalermadas (atenção, senhor novelista Rodrigues dos Santos, isto promete). Para evitar sítios duvidosos em que a Internet é fértil, um lugar credível e «de referência», como agora se diz, é alimentado por René Zandbergen, um investigador de dinâmica espacial na Agência Espacial Europeia. Conjuntamente com Rafael Prinke, um historiador polaco especialista em alquimia e esoterismo, Zandbergen escreveu a introdução de uma nova edição do Manuscrito Yoynich, que estás prestes a ir para as livrarias. Por agora, saiu outra versão, como se disse, com a chancela Yale University Press. Mas quem quiser ficar pela Internet e não enlouquecer muito com o Manuscrito, deve andar por aqui, COM CUIDADO para evitar endoidar: http://www.voynich.nu/
Zandbergen tem escrutinado o Manuscrito de todas as formas possíveis e imaginárias, como «neural network architecture» ou «vector space visualisations» (seja lá isso o que for). Até agora, não chegou a conclusão nenhuma sobre a escrita cifrada ou sequer sobre quem é o autor do Manuscrito Voynich. E pronto, vitória, vitória, acabou-se esta never ending história.
 
António Araújo

 


    

 

A morte no olhar.

 
 
 
 
 
 
Thomas Lea,  O Olhar dos Mil Metros, 1944
 
Até nem acho muita graça à pintura e às ilustrações de Thomas Lea, exceptuando um ou outro mural que, não sei porquê, me faz lembrar as linhas depuradas, quase metafísicas, da portentosa Georgia O’Keefe. Mas que Thomas Lea teve uma vida cheia, lá isso teve. É só ver na Wiki, aqui.
Esta pintura a óleo, O Olhar dos Mil Metros (no original That 2.000-Yard Stare), foi feita em 1944, andava Lea no meio da guerra, bem no olho do furacão.
 
 
Don McCullin, 1968
 
O que é espantoso, para quem se espanta por estas coisas, é que, muitos anos depois, numa outra guerra – a do Vietname –,  Don McCullin captou em 1968 uma imagem de um soldado em choque que é, quanto a mim, a versão fotográfica do quadro de Thomas Lea. Para quem quiser saber mais sobre a assombrosa fotografia de McCullin, leia, não deixe de ler, este texto, que fala de várias imagens, todas memoráveis.
Há outra imagem espantosa do rosto da guerra. O olhar que Thomas Lea viu num soldado do Pacífico reaparece agora, sob uma forma real e inequívoca, noutra fotografia do Vietname, de David Douglas Duncan.
 
 


 
 
 
 
Foi capa da Life, e de um livro de Duncan. Mas, por ser menos conhecida, aqui a trago ao convívio dos leitores. Para visão, reflexão e meditação. O mundo é um lugar estranho.
 
 
 
 

Um dia, uma fotografia.

Christopher Anderson

 

domingo, 27 de agosto de 2017

Ventos de España.

Granada
Fotografia de António Araújo

 

Ventos de España.

 
 
Granada
Fotografia de António Araújo

 

Ventos de España.

 
Sevilha, Esperanza Macarena
Fotografia de António Araújo
 

 

Ventos de España.

 
Sevilha, Esperanza Macarena
Fotografia de António Araújo

 

Ventos de España.

 
 
Ronda
Fotografia de António Araújo


 

Ventos de España.

 
 
Granada
Fotografia de António Araújo

 

 
 

Um dia, uma fotografia.

 
 
Christopher Anderson

 

sábado, 26 de agosto de 2017

A Rainha Ranavallo III, de Madagáscar.

 
 
 
 
 

Portugal Continua Sensacional.

 
 




Ir pelos ares.

 
 
 
 
 
Ir pelos ares, ou a história do jet set. No ECO, aqui.

Os fantásticos irmãos Seeberger.











Mão muito, muito amiga fez-me chegar as fantásticas imagens dos irmãos Seeberger. O trio de manos – Jules, Louis e Henri – que abriu um atelier fotográfico em Paris e que, ao longo de décadas, foi captando a vida elegante, mas não só, na capital de França ou nas areias de Deauville. Além das imagens voluptuosas de senhoras prenhes de glamour e charme, cenas de rua, quotidianos da guerra e da ocupação nazi. Enfim, um tesouro imenso, prosseguido pelos filhos Jean e Albert, e que pode desfrutar em beleza e grande estilo, aqui, aqui ou aqui.
 

.. sim, continua Sensacional.

 
 


Um dia, uma fotografia.

 
 
Werner Bischof

 

Portugal Sensacional Continua Sensacional.

 
 

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Um dia, uma fotografia.

Werner Bischof

 

O «Coronel Fotógrafo».

 









António Conde Falcão, nascido a 13 de Junho de 1940, abraçou a carreira das armas. Mas, nos intervalos, dedicou-se à fotografia, como um verdadeiro amador (do latim amadore). Aos 77 anos, o «Coronel Fotógrafo» mostra a sua fibra. Aqui, uma fantástica história de vida, com o Sardoal ao fundo.