domingo, 29 de abril de 2012

O mundo é um lugar estranho - 3

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Enrico De Pedis


 
Vaticano quer corpo de mafioso fora de basílica.

Investigação.  Santa Sé quer acabar com o escândalo de ter um mafioso sepultado na igreja e polícia quer saber se há outro corpo no túmulo

A Santa Sé decidiu acabar com o escândalo que dura há anos e ordenou a exumação – em data a agendar – dos restos mortais de Enrico De Pedis, ou «Renatino», que se encontram sepultados na Basílica de Santo Apolinário. «Renatino», morto em 1990, foi o chefe da sangrenta organização mafiosa  Magliana, responsável por dezenas de assassinatos na capital italiana. A polícia, por seu turno, quer confirmar as suspeitas de que no mesmo túmulo estão os restos mortais de Emanuela Orlandi, adolescente que foi raptada nos anos 80 e que era filha de um funcionário do Vaticano.
Renatino foi morto, em Fevereiro de 1990, num ajuste de contas perto do Campo das Flores, em Roma, e sepultado no cemitério Verano. Pouco tempo depois, a viúva, Carla Di Giovanni, decidiu tirar partido dos amigos poderosos e dos bons contactos que o marido tivera em vida para lhe conseguir uma sepultura que considerou condigna. Assim, obteve do cardeal Ugo Poletti uma carta na qual era afirmado que «Renatino» havia sido um «grande benfeitor dos pobres», o que era comprovado pela doação à Igreja de uma quantia que oscilou entre os 260 mil e os 310 mil euros para obras de caridade.
Munida com a missiva do cardeal, Di Giovanni dirigiu-se ao responsável da Basílica de Santo Apolinário, no centro de Roma, a quem entregou 20 mil euros. Em consequência, os restos mortais de «Renatino» foram trasladados para a basílica, local reservado em princípio a cardeais, santos e mártires.
Em 1997, uma funcionária do templo acabou por confidenciar a um jornalista o local da sepultura do chefe mafioso. Desde então, o caso transformou-se em motivo de escárnio e escândalo em Roma. Um escândalo a que a Santa Sé quer pôr cobro, daí a sua decisão de exumar os restos mortais de «Renatino» e fazê-lo regressar ao cemitério de origem.
E tudo parecia estar prestes a ser solucionado, quando, há uns meses, uma fonte anónima alertou a polícia para a hipótese de, no mesmo túmulo, estarem os restos mortais de Emanuela Orlandi, a filha adolescente de um funcionário do Vaticano que, a 22 de Junho de 1983, foi raptada em Roma quando ia a caminho da aula de música. Sem deixar rasto.

Emanuela Orlandi
Em Março, o ex-presidente da Câmara de Roma e vice-Primeiro-Ministro Walterveltroni pediu ao Ministério do Interior para verificar se a basílica está protegida da lei italiana ou se os investigadores podiam exumar o túmulo de «Renatino». De imediato, o Vaticano disponibilizou o acesso ao túmulo e sugeriu que o melhor, para se acabar de uma vez por todas com as especulações, era exumar os restos mortais do mafioso. Mas os investigadores optaram por recuar e exigem agora que «alguém no Vaticano » sabe a verdade sobre o envolvimento de «Renatino» no rapto e deve contá-la.
 

Diário de Notícias

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