sexta-feira, 8 de maio de 2015

O tango do desaparecido.

 
 
Fotografia de João Pina, Buenos Aires (2004)


 
Já falei, entrevistei e mais o diabo a sete do João Pina. As pessoas ficam boquiabertas com o livro Condor mas nem sempre imaginam o que custa fazer aquilo. Pessoalmente, financeiramente, até fisicamente, é um trabalho épico. Ou julgam que é só chegar a um sítio, instalar-se num bom hotel, e fazer umas selfies na piscina com umas vítimas de Pinochet? O que não custa localizá-las, conversar com elas, saber o que sofreram, persuadi-las a darem testemunho…
         Por vezes há a ideia de que estes fotógrafos levam uma vida regalada e cosmopolita, que só o facto de aparecerem no NY Times, como o João apareceu, lhes dá passaporte para uma existência aventurosa – e remunerada à farta e à grande. Puro engano. Os jornais e as revistas internacionais estão a investir cada vez menos em trabalhos de grande fôlego, como os que faz o João Pina. O projecto Condor levou anos a pôr em prática. Hoje vemos o livro, folheamo-lo, e temo-lo para sempre, como homenagem às vítimas das ditaduras do Cone Sul. Parece fácil, não é. E, para piorar as coisas, o material deste ofício é caro, caríssimo. E, para piorar ainda mais o que já de si era muito mau, o João Pina acaba de ser assaltado nas ruas de Buenos Aires. Um assalto à mão armada, em plena luz do dia. Ficou sem as ferramentas que lhe permitiram fazer livros como Por Teu Livre Pensamento ou Condor. Para minorar o dano, o João Pina lançou uma acção de crowdfunding: http://robado.joao-pina.com/
Sim, somos amigos. E os amigos são para as ocasiões. Sobretudo ocasiões difíceis, como esta. Ocasiões como esta em que, num golpe de segundos, alguém se vê privado do que de essencial tem.
 
Robbed in Buenos Aires, é só clicar e contribuir.
 
António Araújo


2 comentários:

  1. João Pina é filho do ex-ministro Pina Moura que em 2003 era deputado e consultor do Millennium bcp. Nesse ano recebeu 54.493,7 euros como trabalhador dependente e 118.164,5 euros como independente. Em
    Pina Moura, na presidência da Iberdrola, ganhava mensalmente 60 mil euros, a que se juntavam cerca de nove mil euros da Media Capital.

    ARTIGO COMPLETO: http://apodrecetuga.blogspot.com/2014/07/pina-moura-de-cunhal-dos-pequeninos.html#ixzz3ZaGKfhnZ

    Bora ajudar o pobrito do João Pina?

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    1. Caro Cristóvão d’Orey,

      Muito obrigado pelo seu comentário.

      Desculpe-me a pergunta: admitindo que são verdadeiros os valores que aponta, não lhe ocorreu, por um segundo sequer, que o João Pina, sendo adulto e crescido, não quer viver à custa dos pais? Isso não é positivo e louvável?

      Cada um com a sua atitude na vida: o João Pina lançou uma acção de crowdfunding, onde só participa e contribui quem quer; outros teriam optado por pedir dinheiro aos pais e a coisa ficava rapidamente resolvida.

      Duas formas de estar na vida, a do João Pina e a sua. Ambas legítimas, pelo não as critico nem comento.

      De novo, muito obrigado pelo seu comentário.


      Cordialmente,

      António Araújo

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