segunda-feira, 29 de junho de 2015

O meu herói Eusébio.

 
 
Fonte: http://tertuliabenfiquista.blogs.sapo.pt/1224138.html
 
Como calculam, tendo nascido em 1973 não tive a sorte de ver Eusébio jogar num estádio. Mas, tal como eu, muitos portugueses que nunca viram o «Pantera Negra» receberam a notícia da sua morte com profunda tristeza. As reacções à sua morte ultrapassaram fronteiras e vieram de todos os lados. A imprensa britânica foi particularmente enfática lembrando sempre aquele que foi o melhor jogador do Campeonato de 1966. Entre nós a morte de Eusébio foi seguida de um raro momento de convergência entre todos os clubes e adeptos. A explicação é óbvia: Eusébio foi um dos melhores jogadores do mundo e de sempre. Esta convergência também abrangeu a Assembleia da República que decidiu transladar os restos mortais de Eusébio para o Panteão Nacional.
Eusébio foi um craque num tempo em que o futebol não tinha ainda atingido o estatuto de «fenómeno» mundial. Assim Eusébio foi um pioneiro tal como outros grandes jogadores como Alfredo Di Stéfano ou Ferenc Puskás. E aqui estamos perante uma encruzilhada fundamental: como manter viva a memória de grandes jogadores pré-holofotes? Hoje em dia acompanhamos os jogos e a vida dos jogadores de forma instantânea e temos a sorte de poder ver todos os jogos a nível de clube e selecção na televisão. Sabemos tudo sobre um jogador cuja vida é constantemente «vigiada». Sabemos até demais. E assim como transmitir a um miúdo que todos os dias «acompanha» Messi e Cristiano o que foram estes grandes jogadores?

Fonte: http://www.dw.com/overlay_media/eus%C3%A9bio-o-primeiro-rei-africano-do-futebol/g-17343296
 
 
Para além do papel crucial das federações nacionais e dos clubes destes craques eu diria que o papel fundamental cabe a todos os que gostam de futebol. Por exemplo, eu diria que não se consegue explicar o que é a identidade do Real Madrid sem se ver Di Stéfano. E como transmitir aos mais novos o que foi o calibre de Eusébio? Há muitos momentos que poderíamos destacar mas penso que a escolha acabaria por recair sobre aquele jogo entre Portugal e a Coreia do Norte. Porque foi mais do que um jogo, foi um hino à luta, à resistência e ao não baixar os braços. Eusébio foi um super-herói.
 
 
Fonte: http://www.dw.com/overlay_media/eus%C3%A9bio-o-primeiro-rei-africano-do-futebol/g-17343296
 
Bem sei que categorizar Eusébio como um herói ou um «artista» não é totalmente consensual. Quando morreu tivemos quem destacasse a sua «pouca cultura». Confesso que não tenho paciência para o argumento pseudointelectual que se resume a «mas é só um jogador de futebol» e à clivagem entre o que é «intelectual» (e é claro «superior») e o desporto como meramente «físico» e é claro muito «simples».
        Eu argumentaria que «ler» o futebol assim é redutor e superficial. Ver hoje em dia, por exemplo, uma final da Liga dos Campeões com toda a preparação física, mental e sobretudo táctica é impressionante e inesquecível.
 
 

Eusébio, tal como outros craques, elevou o futebol a um estado de perfeição e os seus jogos e golos são verdadeiras obras de arte ou como diria Camões «obras valerosas». E assim se foi «da lei da Morte libertando» e ultrapassou fronteiras. Deixou de ser nosso e tornou-se um português do mundo.

Lembro-me quando perguntei ao meu avô o porquê da sua admiração do Eusébio. A sua resposta foi imediata: «Eusébio só nos deu alegrias mesmo quando chorou e nós chorámos com ele. E em tempos difíceis e sombrios fez-me sorrir. É um dos meus heróis.»

E foi assim que a «minha» descoberta do Eusébio começou.


Raquel Vaz-Pinto
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

1 comentário: