sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Lisboa, 1974.

 
 
 
         A Fodor’s é, segundo a Wikipedia (e nós acreditamos), a maior editora de guias turísticos em língua inglesa. Fundada por Eugene Fodor (1905-1991), escritor de viagens húngaro-americano, durante décadas publicou dezenas de guias dos mais variados países, incluindo Portugal. A edição de 1974 do Fodor’s Guide dedicada ao nosso país tem um extenso capítulo sobre compras na capital, da autoria de E. C. Dessewffy, antigo correspondente da Radiodiffusion Française e da Radio Free Europe, residente em Portugal durante vários anos. A tradução foi feita de forma muito «livre» (talvez demasiado livre…), sem especiais preocupações de rigor.
 
Lisboa, 1974
 
 
Compras em Lisboa
O melhor de Portugal
 
 
 
         Lisboa é uma cidade de surpresas – e, de todas, a maior surpresa desta cidade antiga são as suas lojas. À primeira vista, o visitante sentir-se-á confundido, até mesmo ligeiramente decepcionado pela falta de sofisticação das montras, mesmo nas lojas mais requintadas; contudo, uma observação mais aprofundada dificilmente deixará de o surpreender.
         As melhores lojas de Lisboa estão concentradas na Rua Garrett e no Chiado, ou nas suas imediações, e na Baixa, as ruas situadas entre o Rossio e o rio Tejo. Mas em todos os bairros existem boas lojas.
         Todas as lojas de Lisboa, excepto as pastelarias e os pontos de venda de jornais, encerram durante duas horas para almoço, a meio do dia. Geralmente, o período de encerramento tem lugar entre a 1 e as 3 da tarde, mas todas as lojas permanecem abertas até às 7 da noite. Aos sábados à tarde, algumas lojas estão fechadas.
         Os mercados são um dos pontos mais atractivos de Portugal. Aí pode adquirir maravilhosos sacos artesanais, feitos no campo, de todos os tamanhos e feitios, que são muito práticos para transportar as compras. O mercado mais central de Lisboa é o da Praça da Ribeira, perto do Cais do Sodré, a estação ferroviária que serve o Estoril.
         Uma advertência sobre os preços: nunca pague de imediato o preço que lhe pedem – normalmente, é demasiado elevado e o vendedor não se ofenderá se regatear, pois já está à espera que siga os hábitos locais. De igual modo, é perfeitamente normal pedir um desconto, mesmo nas maiores lojas. Pode ou não ser bem-sucedido, mas ninguém lhe levará a mal se tentar, pelo menos.
 
         Cortiça e vinho do Porto
 
         As maiores exportações de Portugal são o vinho do Porto e a cortiça, o primeiro proveniente das vinhas situadas nas margens do rio Douro, acima do Porto, e a segunda das grandes florestas de sobreiros que o acompanham ao longo da estrada quando viaja pelo Alentejo adentro ou na zona central do país, situada a sul de Lisboa. A cortiça é extraída das árvores de nove em nove anos e permite fabricar uma enorme variedade de objectos.
         No Alentejo, os trabalhadores costumam ir para o campo com o almoço colocado no interior de uma espécie de balde de cortiça, que tem um isolamento perfeito face ao calor vindo do exterior. Por isso, as empresas corticeiras produzem actualmente sofisticados baldes de cortiça que permitem manter a temperatura dos cubos de gelo durante várias horas. Há-os em vários tamanhos, uns apenas em cortiça outros com ornamentos, e são um presente fora do vulgar e, ao mesmo tempo, muito útil. Uma loja que os vende é a Casa das Cortiças, na Rua da Escola Politécnica, nº 4, onde o «Senhor Cortiça», como o rotundo e jovial dono gosta de ser chamado, tem uma vasta gama dos objectos mais inimagináveis feitos de cortiça. Os armazéns Grandella, na Rua do Ouro, têm igualmente uma vasta gama de produtos em cortiça.
         O vinho do Porto não tem aqui o mesmo sabor do que em Inglaterra ou nos Estados Unidos, onde geralmente se costuma beber Porto com um travo mais forte. Em Lisboa, devido ao clima quente, prefere-se vinho do Porto mais leve, e existem diferentes tipos de um excelente vinho do Porto branco, que pode ser bebido antes das refeições, como aperitivo, sendo produzido por grandes companhias, das quais as mais conhecidas são Sandeman, Taylors, Cockburns, Dows e Ferreirinha. Se comprar uma destas marcas, nunca será enganado. Aliás, existe um bar espantoso que serve vinho do Porto, o Solar do Velho Porto, na Rua São Pedro de Alcântara, nº 45, que é gerido pelas companhias vinícolas. Aí pode experimentar umas 200 a 300 variedades de Porto, em grandes copos, antes de decidir qual prefere levar para casa.
 
         Cerâmica e azulejos
 
         Portugal é famoso pelos seus azulejos brilhantes, com padrões, que revestem muitos dos seus edifícios, antigos e modernos. Actualmente, é difícil encontrar à venda genuínos azulejos. Os melhores locais são a Fábrica de Sant’Ana, na Rua do Alecrim, e Viúva Lamego, no Largo do Intendente, nº 28, que têm também uma boa selecção de cópias contemporâneas.
         O departamento regional do Grandella tem cópias da encantadora louça de Coimbra. A fábrica original de Coimbra fechou há muitos anos e a reprodução dos antigos motivos em pratos, travessas e taças só há pouco foi retomada. É interessante notar que a louça de Coimbra remonta a 1203, como o atestam os arquivos dessa época que referem a venda da fórmula de fabrico ao Mosteiro de Santa Clara. Todos estes maravilhosos objectos podem ser comprados a baixo preço, ainda que de deva salientar que não duram muito, uma vez que a faiança é muito frágil. O Grandella também vende todos os tipos de copos e serviços de jantar, chá ou fruteiras. Rapidamente um turista conseguirá distinguir entre a cerâmica de Alcobaça, de cor azul escura, e os motivos amarelo-esverdeados com fundo amarelo vivo dos produtos das Caldas da Rainha. Alguns modelos podem ser usados como pratos individuais para manteiga ou como cinzeiros, e podem ser comprados a preços muito acessíveis. 
         Uma das mais famosas fábricas de louça existentes nas imediações de Lisboa é a Loiça de Sacavém. Tem uma loja na Avenida da Liberdade, nº 49, onde pode encontrar belos serviços de jantar ou de chá em louça de cor pastel a preços muito baratos, além de antigos vasos de flores e samovares. Esta firma produz também conjuntos de figuras da Guerra Peninsular, devidamente uniformizadas, bem como séries de cavaleiros medievais. As figuras podem ser adquiridas separadamente.
         A mais conhecida fábrica de porcelana do país é a Vista Alegre, perto de Aveiro, fundada há 130 anos. A sua loja em Lisboa fica no Largo do Chiado, nº 18, onde pode adquirir réplicas perfeitas dos antigos serviços de mesa ricamente decorados e ornamentados, bem como delicadas flores de porcelana, nas suas cores e dimensões naturais, que ficam na perfeição como centros de mesa. Existe um museu das suas peças, produzidas desde 1824. Um vasto sortido de porcelana pode encontrar-se também na Antiga Casa, Rua Garrett 8-18, que também vende cristais e uma ampla gama de recordações.
         (…)
 
         Artesanato
 
         Os artífices portugueses produzem igualmente uma ampla gama de objectos rurais que dão magníficos presentes. A Casa das Ilhas, Rua de São Bento 120, tem uma enorme oferta de objectos, desde os típicos cestos curvos da Madeira (maravilhosos para arranjos florais), candeeiros originais, esplêndidos e multicoloridos individuais de mesa, até mobília de jardim em ferro pintado, além de tapetes campestres. Têm também uma grande variedade de trabalhos de cestaria, práticos e divertidos, e mobiliário do Alentejo pintado em cores garridas e alegres. Uma excelente selecção de artesanato e bordados dos Açores, peças magníficas como presentes, pode ser vista na Casa Regional da Ilha Verde, Rua Paiva de Andrade, nº 4.
         Em Lisboa pode encontrar também magníficos trabalhos em ferro e cobre, na Rua do Loreto 56 e na Rua da Emenda 115; numa pequena sala atrás da loja, o visitante pode observar os artífices a trabalhar junto ao fogo, trabalhando o metal de todas as formas e feitios.
         Antiga Cordoaria Nacional, Praça da Figueira 17, é uma pequena loja cheia de arreios para cavalos, cordas, albardas para burros e mulas. Pode encontrar lençóis das mais variadas cores e padrões, com fundo negro (que nos tempos feudais se usavam nos cavalos) no Grandella, Rua do Ouro 205, na Casa Africana, Rua Augusta 161, e nos Armazéns do Chiado, Rua do Carmo, todos grandes armazéns.
         Na Festival, Rua do Ouro 263, uma maravilhosa selecção de presentes de última hora; os famosos galos pretos, de dimensões variadas, ou a adorável porcelana de Coimbra. Pode encontrar igualmente bordados n’O Caixote, Rua do Carmo 108.
         Madeira House, na Rua Augusta 131, e Ann Leacock, com loja no Ritz e na Rua Castilho 77, são especializadas em bordados à mão de camisas, atoalhados, bordados para tabuleiros, etc. Ann Leacock vende também outros objectos de artesanato. Lavores, Rua do Ouro 179, e Arte Rústica, Rua do Ouro 246, são também conhecidos pelos seus belos bordados à mão.
         Para comprar tapetes de Arraiolos (em Lisboa, na Quintão, Rua Ivens), os melhores são feitos na prisão feminina situada na estrada entre Estoril e Sintra, com uma vasta gama de padrões, desde desenhos da antiga Pérsia a motivos mouriscos de cor creme, até motivos mais modernos, os quais podem ser encomendados na cor e no tamanho desejados. No entanto, prepare-se para um tempo de espera de 8 a 10 meses, dado tratar-se de objectos feitos à mão, por encomenda, ainda que alguns possam estar disponíveis para venda imediata. De momento, o preço é de 500$00 o metro quadrado.
 
         Alimentação
 
         Existem diversas mercearias que vendem um sortido elegante de produtos de porco, de que falaremos no capítulo Comida e Bebidas. Jeronimo Martins, Rua Garrett 17, e Jerónimo Tavares da Silva, na esquina da Praça da Figueira com a Rua da Prata, são ambos muito bons.
         Na Rua das Portas de Santo Antão 57, a Frutaria Bristol tem caça da época, além de fruta, ambas exóticas. Uma outra loja especializada em frutas frescas refinadas, caça, peixe, bem como vegetais raros, além de mercearias, é Martins e Costa, Rua do Carmo 41.
         Os melhores chocolates podem ser comprados em duas pastelarias da Rua Garrett, a Marques, no 72, e Bénard, no 104. Ambas têm igualmente todas as variedades de frutas secas e cristalizadas que constituem uma das delícias do país, bem como ameixas de Elvas, que são provavelmente as melhores de todas.
         A Charcuterie Française, Rua D. Pedro V 54, é o único lugar onde pode comprar verdadeiros croissants frescos, e nas escadas que levam ao Elevador de Santa Justa, Rua de Santa Justa 105, fica a Império Tea Shop, onde o consumidor mais exigente pode encontrar bolos e cafés. Tofa, a meio da Rua do Ouro, é outra boa paragem: tome um excelente café ou mordisque uns bolos deliciosos de pé, no canto da loja, ou sente-se numa mesa do balcão de cima.
         Em A Veneziana, Avenida da Liberdade 69a, pode comprar gelado para levar para casa, embalado numa caixa protegida por cortiça, tendo à disposição uma enorme variedade de tamanhos e sabores para comer no local. Os gelados Rajá e Olá (os últimos são melhores) encontram-se à venda por toda a cidade e nas praias. 
 
(Continua) 
 
Tradução de António Araújo
 
 
 
 
  

1 comentário:

  1. Caro António Araújo ler este blog é um deleite. Parabéns e que assim continue.

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