terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Teremos sempre o Natal.

 



Tempos estranhos estes que nos querem fazer pensar duas vezes antes de desejar “Feliz Natal!”. É o politicamente correto que confunde tolerância com intolerância, derramando um fel corrosivo na empatia espontânea. São os amigos que perderam os que lhes são mais queridos. São os próximos e menos próximos que sabemos, tantas vezes sem se queixarem, que estão a passar por dificuldades. São os vizinhos, os rostos, as pessoas com que nos cruzamos, que sentimos que não estão bem. É o consumismo que nos divide. Que nos divide por fora. Os que podem. Os que não podem. Mais ou menos. Que nos divide por dentro. Generosamente culpados. Culpadamente generosos.

E o futuro próximo que é imprevisível, “disseram nas notícias”.

Esta semana vi um filme que é um murro no estômago. Um retrato impressivo de vidas amargas, que sabemos que são vividas, com que nos cruzamos, com que vivemos. “Nunca Nada Aconteceu” de Gonçalo Galvão Teles é um olhar penetrante sobre o que acontece e não podemos ou não queremos falar. Não se fala de suicídio nas notícias. Não se fala de desemprego, a não ser nas estatísticas. Não se fala de infidelidade, a não ser na vida dos outros. Não há jovens, e menos jovens, infelizes nas famílias. E muito menos nas redes sociais.

O paradoxo é este receio. Esta autocensura que se vai formatando. O medo em dizer: Feliz Natal! Desejar um feliz Natal não é uma obrigação. É uma liberdade. E das maiores. A liberdade que temos de, por muito que o ano tenha desgastante, de desejar bem aos outros. E a nós. A liberdade que temos de ter esperança no futuro, por mais imprevisível que seja.

No final de uma relação amorosa, teremos sempre Paris. No final de um ano, por mais difícil que seja, por mais incerto que seja o que está para vir, podemos sempre dizer aos que mais gostamos, aos amigos, aos que nos ajudaram, aos que ajudamos, aos que com quem nos cruzamos, aos que estão longe, o quanto lhes queremos bem. Podemos sempre dizer, a todos: Feliz Natal!

Teremos sempre o Natal.

 

Nuno Sampaio 21.12.21





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