domingo, 29 de agosto de 2021

Outra História, Outras Estórias.

  


Quando eu disse numa roda de amigos, alguns deles antigos alunos do Liceu Filipa, que vinha apresentar um livro do Prof. Adérito Tavares, muitos deles perguntaram: quem, o nosso professor de História que punha música dos Pink Floyd nas aulas?

         

E, passe o pleonasmo, todos foram unânimes em afirmar que Adérito Tavares foi o melhor professor que tiveram na vida, coisa de que não ouso discordar, dizendo também que ele foi – e é – o melhor professor que alguma vez tive na minha vida, em todos os graus de ensino, universitário incluído.

         

Mas Adérito Tavares não foi apenas o melhor professor que alguém pode ter na vida, foi e é um professor de vida, um mestre da vida e do viver de uma forma sadia e, por isso, feliz.

         

Este livro tem por subtítulo «Crónicas do tempo que foge» e, no tempo que nos vai fugindo a todos, a uns mais que a outros, o que Adérito Tavares tem de mais inscrito e de mais admirável é o facto de ser um homem que se cumpriu, que se cumpriu como homem e como cidadão, como professor e mestre, como pai e avô de uma Leonor, cujo nome me comunicou com babado orgulho, quando eu lhe disse ser pai de uma Leonor, que fiz questão que frequentasse o Liceu Filipa de Lencastre, na vã esperança de que ela tivesse um professor como Adérito Tavares, que metesse música rock nas aulas, que a levasse em visitas de estudo que eram um festim de intelecto e alegria, que mostrasse slides com castelos e monumentos tendo o cuidado de advertir «o que vêem em primeiro plano na imagem é o filho do vosso professor de História».

 

Com variações e actualizações, as graças repetiam-se de ano para ano, tornaram-se lenda, imagem de marca, passaram de geração em geração e assim o tempo nos foi fugindo a todos, a uns mais que a outros, pela mão de um homem que se cumpriu a si mesmo em convívio com os seus semelhantes, com um genuíno e vivíssimo interesse por eles, pelas aventuras e misérias quotidianas das pessoas de carne e osso, que são, ao cabo e ao resto, a matéria-prima de que é feita a História e, creio eu, a razão de ser da sua paixão pela História.

 

Adérito Tavares tem o dom de transformar a História numa infindável estória, e foi esse engenho, agora transmitido ao auditório mais vasto dos seus novos leitores, que lhe permitiu cativar muitas gerações de alunos em aulas ouvidas em fascinado silêncio, tendo ainda outro dom, singular e raríssimo, que foi o de manter com os seus alunos uma relação de enorme afecto e de extrema proximidade, que se prolonga por décadas, como aqui vemos, mas, ao mesmo tempo, de enorme respeito mútuo, de civilização posta em prática.

         

Há uma outra coisa que gostaria de dizer, e perdoem-me o tom crepuscular de quem vai sentindo o tempo a fugir-lhe, e essa coisa é a seguinte; apesar de tudo o que acabo de afirmar, e de tão amplamente se ter cumprido na vida, Adérito Tavares é um homem de desarmante simplicidade, bastando ver a forma telegráfica com que se apresenta na badana deste livro, livro onde reencontramos muitas das estórias que o ouvimos contar e que, para mim, foi tanto um exercício de leitura, de gratíssima leitura, como de audição de um passado que não quer passar – e talvez o professor Adérito, tão dado à música e às artes de Santa Cecília, compreenda que lê-lo neste livro, escutar a sua voz Adérita e pretérita, foi ouvi-lo nas suas aulas, ouvir alguém que foi e será sempre um menino maravilhado com os reclames luminosos do Rossio à noite, alguém que nunca perdeu o encantamento com o espectáculo do mundo e com o muito que a vida merecidamente lhe deu.

         

Adérito Tavares é um homem feliz, suave e contagiosamente feliz, que se cumpriu e cumpre a si mesmo, mesmo que não faça alarde dessa condição feliz nem tenha a jactância de nos exibir a sua evidente realização pessoal, profissional, familiar e humana.

 

Adérito Tavares é também um exemplo, que sempre calorosamente me impressionou, das virtudes da meritocracia, pois é alguém que, pela sua curiosidade infantil, que nunca perdeu, mas também pelo esforço e pela inteligência, pelo trabalho sério e honesto, teve uma trajectória de vida que hoje nos parecerá fácil, à distância de uma autoestrada rápida entre Lisboa e o interior do país, mas que no seu tempo era imensa, tremenda, e nem contável sequer em quilómetros. Entre a capital e a sua terra, Aldeia do Bispo, no Sabugal, existia um enorme abismo, social e mental, que Adérito Tavares, como sempre, transpôs suavemente, passo a passo, sem acotovelar nem atropelar ninguém e, sobretudo, sem perder a fidelidade às raízes e a felicidade das origens, a que sempre regressa.

 

O professor Adérito, o meu professor Adérito, devolve-nos a esperança de um país democrático e meritocrático, mais justo e solidário, com um ensino público de exigência e excelência, com professores que sabem que ter uma mão cheia de alunos à sua frente nas aulas não é dever, é privilégio, é ter uma oportunidade única, irrepetível, de lhes ensinar, mais do que a matéria de um programa, um exemplo de vida, um exemplo de que é possível ser rigoroso e afável, de que os melhores docentes são respeitados e amados em doses iguais, com vantagens para ambas.   

 

Há uma frase de um grande poeta da Renascença, Guicciardini, que diz mais ou menos isto: «vamos todos morrer; e, no entanto, portamo-nos no dia-a-dia como se fôssemos viver para sempre».

 

          Este livro bem assinala no subtítulo o latino tempus fugit, o tempo que foge, e essa consciência da transitoriedade do tempo, e da nossa finitude no efémero tempo que ao viver se foge, essa consciência, dizia eu, permite-nos ver de forma mais lúcida e clarividente aquilo que de bom e de mau existe no pretérito de cada qual, e a que ousadamente chamamos «biografia».

         

          Na minha biografia sentimental, e na de todos os que tiveram o privilégio de ser seus alunos, a marca do Prof. Adérito Tavares é mais funda e mais perene do que aquilo que ele, na sua consabida modéstia, alguma vez poderia julgar. E, por isso, é isso que hoje lhe venho dizer, aqui e em público, pedindo desculpa a todos pelo pedaço de tarde que vos fiz perder.

         

          Muito obrigado.  



António Araújo

(Feira do Livro de Lisboa, 29 de Agosto de 2021)








3 comentários:

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