quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O Retrato de D. Manuel II com os trajes da Ordem da Jarreteira.

 




No Turf Club em Lisboa, na sala de entrada que abre sobre o jardim, encontra-se um retrato a óleo de El Rei D. Manuel II, de corpo inteiro, envergando o manto e insígnias da Ordem de Jarreteira, tendo ao pescoço a insígnia das Três Ordens (Cristo, Aviz e Santiago) e ao peito a placa da Ordem da Torre e Espada. Ao lado do Rei estão, sobre uma mesa, a Coroa Real de Portugal e o Cetro.

O retrato é obra do pintor britânico George Hillyard Swinstead (1860-1926), membro da Royal Society, autor de ampla obra pictórica, tanto de retratos de figuras da sociedade inglesa da época como de paisagens e pinturas de género.

Não podemos deixar de nos interrogar acerca de quando este retrato terá sido pintado e por que motivo o foi por um pintor britânico e não por um bom retratista português da época. Alem disso também nos assalta a curiosidade de saber por que razão se encontra agora no Turf Club.

Teremos de voltar atrás no tempo para encontrarmos resposta a estas perguntas.

El Rei D. Manuel II foi investido na Real Ordem da Jarreteira do Reino Unido em fevereiro de 1909, pelo Rei Eduardo VII. A amizade deste Rei por El Rei D. Carlos tinha sido intensa e verdadeira. A sua indignação pelo assassinato deste seu parente e seu filho primogénito, dois cavaleiros da Ordem da Jarreteira, foi notória. Quis por isso e no mais curto espaço de tempo, distinguir o jovem sucessor, D. Manuel II, com o acolhimento na Ordem e com a distinção que esse acolhimento significava. D. Manuel sentiu profundamente o valor dessa distinção e durante toda a sua vida não faltou nunca às celebrações da Ordem, na capela de S. Jorge e no castelo de Windsor, todos os meses de junho.


George Hillyard Swinstead (1860-1926), aqui fotografado no seu estúdio


  

David Knights-Whittome no seu estúdio em Sutton. A pose que adota relembra-nos que o fotógrafo seria também o pintor dos cenários das fotografias que tirava.


Ainda durante a vida do rei D. Carlos e no seguimento das visitas que efetuou a Londres, chegou ao conhecimento do Rei a alta qualidade dos trabalhos do fotógrafo britânico, David Knights-Whittome, fotógrafo da Casa Real britânica e membro da Royal Photographic Society. Tendo-se iniciado na fotografia em 1897, ao fotografar o elenco de uma produção local da peça “The Sign of the Cross”, abriu em 1904 um estúdio em Sutton, Surrey, localizado no número 18, The High Street. A sua arte terá encontrado sucesso comercial já que em 1911 irá abrir um segundo estúdio, desta feita no número 24 da Station Road, em Epsom, também em Surrey.

Era um fotógrafo famoso, cujos trabalhos eram muito apreciados e disputados quer pela Família Real quer pela alta sociedade daquele país. São muito conhecidas as suas fotografias de grupos da sociedade britânica em “house-parties” nas quais figuram muito frequentemente o Rei Eduardo VII, bem como o Marquês de Soveral. Foi, alem disso, o fotógrafo oficial da coroação do Rei Jorge V, bem como da cerimónia de investidura do então Príncipe de Gales em Carnarvon. Foi fotógrafo da rainha Alexandra e fotografou o Rei Afonso XIII de Espanha e a Rainha Vitoria Eugénia bem como os Reis da Dinamarca e Noruega. Na sua Inglaterra natal é ainda lembrado pelas centenas, talvez milhares, de retratos que tirou a jovens militares ingleses durante a I Grande Guerra, muitos dos quais seriam, provavelmente, os primeiros e únicos registos fotográficos das suas jovens vidas.



Fotografias dos jovens Príncipes, na entrada do Palácio das Necessidades, perto dos seus aposentos. Em ambas as fotografias são visíveis as dedicatórias à sua mãe, Rainha D. Amélia.


O Arquivo e Biblioteca de Sutton, Inglaterra, onde se guardam mais de dez mil dos seus negativos em placas fotográficas, merece uma nota da nossa parte pela história fascinante do seu repetido abandono, esquecimento e redescoberta. Tendo sido encontrado praticamente intacto em 1978 (cerca de 60 anos depois do fotógrafo abandonar a sua arte) no antigo estúdio em Sutton, foi novamente votado ao esquecimento nos arquivos e caves da Biblioteca de Cheam e posteriormente dos Civic Offices, instituições locais sem os recursos ou pessoal para assegurar a devida preservação do importante legado histórico que lhe havia chegado por mero acaso do destino. Apenas em 2014, graças a uma bolsa no valor de perto de 100 mil libras da Heritage Lottery Fund, foi possível catalogar, digitalizar e preservar a coleção, publicitando-a sob o título “The Past on Glass”.

Em 1905 David Knights-Whittome dirigiu-se a Lisboa a fim de fotografar o rei D. Carlos, o seu filho primogénito e herdeiro, D. Luís Filipe, e o Infante D. Manuel. Não chegou até nós a fotografia do rei D. Carlos, mas sim as duas fotografias dos seus filhos tiradas no túnel de entrada do Palácio das Necessidades. Os dois príncipes irão oferecer essas fotografias, com dedicatórias, a sua mãe a Rainha D. Amélia e encontram-se hoje no gabinete de trabalho da Rainha no Palácio da Pena. Irá ainda fotografar as salas do Palácio das Necessidades, nomeadamente a nova sala de banquetes, bem como a entrada dessa mesma sala, mais pequena, e que servia para as refeições diárias da família real.




Em cima, a Sala Azul ou Sala dos Embaixadores, e em baixo parte da Sala de Banquetes recém-terminada e utilizada pela Família Real como Sala de Jantar diária. As fotografias são de David Knights-Whittome, presumivelmente em 1905, no Palácio das Necessidades.






Ainda nesse ano verificamos que retratou com todo o detalhe e com o seu alto sentido artístico, o interior do palácio de Monserrate, em Sintra, com as preciosidades que aquelas salas encerravam. Certamente a convite do seu proprietário, Sir Frederick Cook, Visconde de Monserrate, que não deixou escapar a oportunidade de solicitar o desempenho de tão prestigioso artista. Fotografou também os membros da família Cook e os grupos de amigos que frequentavam a sua bela casa, esplêndido recheio e maravilhosos jardins.

Regressou mais tarde a Lisboa, em 1909, quando já reinava D. Manuel II. O jovem Rei havia ingressado em junho desse ano na prestigiada Ordem da Jarreteira da Grã-Bretanha. Quiçá o Rei terá reencontrado David Knights-Whittome nas cerimónias da Ordem, na qualidade de fotógrafo oficial da Casa Real britânica. Nesse encontro poderá ter tido origem o convite do Rei.

Conhecemos uma carta do fotógrafo, de setembro de 1909, dirigida a um Mr. King, Cônsul britânico em Lisboa, pedindo a sua intercessão para que as autoridades alfandegárias não abrissem as caixas que continham as placas fotográficas de vidro, pois estas ficariam irremediavelmente perdidas se fossem expostas à luz. Nessa mesma carta encontramos uma anotação do Marquês de Lavradio, Secretário do Rei, clarificando que “Este photographo vem tirar retratos a S.M. El Rei”.

Segundo Lourenço Correia de Matos, cuja informação agradeço, David Knights-Whittome formulou, a 4 de março de 1910, em carta dirigida ao Marquês de Lavradio, um pedido para ser fotógrafo da Casa Real. O pedido viria a ser despachado a 13 de abril e o alvará passado a 27 desse mês.


Sir Frederick Cook e Lady Mary Cook, no Palácio de Monserrate, Sintra, numa foto de David Knights-Whittome.


Sala de Jantar no Palácio de Monserrate, igualmente numa foto de David Knights-Whittome.



Fotografias do Rei D. Manuel II, vestido com os trajes da Ordem da Jarreteira. As legendas, bem como a menção ao fotógrafo, em inglês, indicam que estas fotos terão tido circulação em Inglaterra.


As fotografias, das quais conhecemos vários exemplares, em diferentes posições, teriam agradado muito a El-Rei e eventualmente, durante as sessões de pose, D. Manuel II terá dito ao fotógrafo ou este terá sugerido, que seria adequado fazer-se pintar, com os vistosos trajes da Ordem da Jarreteira, num belo retrato a óleo. O artista terá mesmo sugerido o nome de um pintor inglês, seu amigo, também ele conhecido autor de retratos de importantes personalidades, e também de paisagens e cenas de género. Tratava-se de George Hillyard Swinstead, membro da Royal Academy of Art. A sugestão terá sido aceite pelo Rei e assim o pintor deslocou-se posteriormente a Lisboa para começar os esboços preparatórios do retrato, a ser terminado com base nas fotografias de Knights-Whittome. Dá-se então a revolução de outubro que derrubou a Monarquia e implantou a República em Portugal. 

O jovem Rei viu-se obrigado a deixar o país e dirigir-se a Inglaterra para estabelecer residência. De início, e com a sua mãe, a Rainha D. Amélia, assim que chegaram, instalaram-se na mansão de seu tio, o Duque de Orléans, em Woodnorton.  Nesta casa, terá ainda pousado, uma ou duas vezes, para o pintor.  E o quadro ficou pronto! No entanto, D. Manuel terá tido que participar ao pintor e ao fotógrafo que, dada a sua instabilidade financeira, ainda sem notícias acerca do destino dos seus bens em Portugal, não lhe seria possível completar os pagamentos do retrato. Todavia, o antigo perceptor dos Príncipes F. Keraush, que havia acompanhado o Rei no exílio, dirige uma carta ao fotógrafo em fevereiro de 1911, incluindo um cheque de 10 libras e 16 xelins para pagamento de 12 fotografias de D. Manuel com os trajes da Ordem da Jarreteira.


Carta de David Knights-Whittome guardada no Arquivo de Sutton, em que o fotógrafo pede a intervenção do Cônsul Britânico em Lisboa no sentido de garantir que as placas fotográficas não serão abertas na Alfândega de Lisboa.


David Knights-Whittome posa em frente ao retrato de D. Manuel II, possivelmente no estúdio de George Hillyard Swinstead. Escrita na própria fotografia encontramos uma possível nota do fotógrafo, “unfinished”. Foi a digitalização e publicação desta fotografia, guardada no Arquivo de Sutton, que desencadeou o presente estudo.



Também no Arquivo de Sutton existe correspondência entre o fotógrafo e o pintor em que ambos lamentam a pouca sorte que tiveram ao arriscar o que chamam “um considerável empreendimento financeiro” e que afinal se revelou ter um desfecho ingrato.

Começa então a epopeia do retrato, com o pintor, assim como o fotógrafo, a dirigem várias cartas a diversas personalidades, inglesas e americanas que conhecem ou conheceram o Rei, tentando convencê-las a comprar a pintura sem, no entanto, conseguirem qualquer resultado positivo. Tentam igualmente interessar diferentes e conhecidas casas leiloeiras, igualmente sem sucesso. Obtêm mesmo uma resposta da Christie´s que lhes diz que a tentativa de venda em leilão de um tal retrato não oferecia quaisquer perspetivas favoráveis.

Depois de uma constante e persistente campanha para vender o retrato, sem qualquer êxito, os dois autores entram num profundo desânimo.   Então, o pintor já desinteressado do destino que o retrato pudesse vir a ter, ofereceu-o ao fotógrafo que o guardou na sua casa.


Rei D. Manuel II e o Marquês de Soveral durante a Visita de Estado a Londres em 1909. Fotografia de David Knights-Whittome.




Knights Whittome acabou por abandonar, por volta de 1918, a profissão de fotógrafo, não sem antes se ter alistado para contribuir para o esforço de guerra da Grã-Bretanha. Foi promovido a tenente na Royal Garrison Artillery e serviu como oficial comandante da “New Holland Gun station” de 1916 a 1919. Após o final da Grande Guerra muda-se com a família para Wimbledon e posteriormente para Bournemouth, onde a mulher tinha uma loja. Mudando-se uma última vez, para St. Albans, é lembrado pelo seu grande envolvimento cívico na comunidade local, servindo tanto no City como no County Council, vida política que culminaria com a sua eleição para “Mayor” de St. Albans (1940-1941), onde viria a falecer em 1943.

Através de correspondência guardada no arquivo do Turf Club em Lisboa podemos verificar que muitos anos mais tarde, creio que podemos afirmar ter sido em 1960, surge um anúncio no diário britânico “The Times” pondo à venda o retrato em causa.

Estabelece-se então uma correspondência entre o Vice presidente do Club, Júlio Jardim de Vilhena, e a anunciante, Mrs. W.V.Pett, em que  Vilhena manifesta o  interesse do Club em adquirir o retrato para a sua galeria de retratos reais.







Mrs. Pett, Margaret Jacinth Pett, fora casada com um dos dois filhos do fotógrafo, Ronald John, Oficial da Royal Air Force, falecido durante a Segunda Guerra Mundial, e casara posteriormente com um senhor Pett.  Sabemos, através de um neto do fotógrafo, Michael Knights-Whittome, que em 1943 quando este falece sem deixar testamento, a sua mulher, Sarah Elizabeth (Draper), vivia ainda em St. Albans. Michael Knights-Whittome partilhou ainda lembrar-se efetivamente do grande retrato, nas escadas da casa da família, onde habitava a avó, e que este, pela sua dimensão e solenidade lhe causara um certo temor e uma impressão duradoura que guarda, 80 anos volvidos.

Na mesma altura, também o filho mais velho do casal Knights-Whittome, Maurice, terá tentado assistir na venda do quadro, que se continuava a revelar difícil. Algures entre essa época e 1959 o retrato terá então passado para a posse de Mrs. Pett, talvez por esta ter expressado interesse nele, por a venda que se revelava cada vez mais improvável, ou porque a mudança de casa obrigaria a deixar alguns dos objetos mais volumosos, e sem ligação direta com a família (como o retrato de um antigo Rei estrangeiro).

Guarda-o então no armazém duma empresa que restaurava e conservava pinturas, James Bourlet & Sons, na Nassau Street em Londres. Cedo manifesta pressa em vendê-lo e, segundo diz na correspondência guardada no Club, fizera diligências nesse sentido junto da Fundação da Casa de Bragança, sem resultados favoráveis. Afirma ainda que segurara pintura em 500 guinéus (10.030 libras 2021), mas que estava pronta a reduzir o preço para 300 guinéus (6.018 libras 2021). Após um período de deliberação em que a compra é levada a aprovação dos sócios, e durante o qual Mrs. Pett se revela impaciente, preço foi aceite pelo Turf Club.

Por uma carta de James Bourlet & Sons, de fevereiro de 1961, dirigida ao Visconde de Asseca, então Presidente do Club, hospedado no Claridge’s Hotel em Londres, ficamos a saber que Asseca havia visitado este estabelecimento e concordado com os custos que seriam os seguintes:

i)   i) Limpeza do quadro e envernizamento – 18 libras (1961) – 344 libras (2021)

 

ii) ii) Embalagem do retrato e envio em nome do Visconde de Asseca para Sena Sugar Estates na Avenida da India em Lisboa – 18 libras e 10 xelins (1961) – 344 libras (2021)

 

ii) iii) Seguro para o transporte – 351 libras (1961) – 6.705 libras 2021


 


Carta da Sra. Margaret Jacinth Pett, datada de 20 de novembro de 1960, relatando outras manifestações de interesse ao anúncio e expressando o desejo de o vender ao Turf Club.


November 20th

Dear Sir,

Thank you for your letter dated November 14th. I hope you are in the process of contacting your members before reaching a decision on purchasing the portrait of King Manuel. I should be grateful if you would kindly let me know as quickly as conveniently possible, as I have had several replies to my advertisement, but have delayed coming to any conclusion with them until I hear from you.

I do hope you will decide to purchase the portrait as I feel a club would be an ideal place for it.

Yours sincerely,

Jacinth Pett





Não encontrei referência explicita quanto à data da inauguração do quadro no Club, mas desde os primeiros anos da década de 60, do século XX, que o retrato de El-Rei D. Manuel II adornou, durante muitos anos, a pequena sala de jantar denominada “Sala dos Reis”. Além deste retrato pendem nas suas paredes os retratos de El-rei D. Luís, de El-rei D. Carlos, de D. Duarte Nuno, Duque de Bragança e D. Duarte Pio, Duque de Bragança.

Sendo um interessante conjunto, com harmonia e dignidade, é o retrato de D. Manuel II, pela dimensão, técnica e composição, que mais nos impressiona. Sabemos agora, finalmente, que a sua história corresponde ao impacto que causa aos visitantes. Na verdade, mostrando unicamente uma das suas personagens, serve de crónica pictórica ao Portugal do início do século XX. Deixa transparecer um jovem Rei, com ambição, orgulhosamente investido da dignidade estrangeira da Jarreteira que lhe haviam conferido, mas sem esquecer a herança e responsabilidade que o acompanhavam sempre, manifestada nas Ordens portuguesas e na coroa que repousa, com as suas consideráveis dimensões reais, ao seu lado. Como o país que se predispunha a ser a sua única casa, o destino do quadro torna-se incerto, acompanha brevemente o exílio e aparenta abandonar qualquer ligação a Portugal. Permanecerá longe, não por desinteresse do retratado, mas pela conturbada conjuntura, e depois de perto de meio século e incontáveis esforços da família do fotógrafo, retorna finalmente ao nosso país. Ao voltar, encontra um Portugal muito diferente daquele que deixou em 1910, mas encontra ainda uma acolhedora casa no Turf Club.

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Agradeço ao Presidente do Turf Club, Conde do Cartaxo, que autorizou e apoiou a investigação no arquivo documental do Club.

Ao Embaixador João da Rocha Páris – Visconde da Torre – que colaborou na pesquisa e seleção dos textos pertencentes ao arquivo do Club permitindo que se juntassem assim dois lados da correspondência que 60 anos e muitos quilómetros separaram.

A Abby Matthews, Project Officer do The Past on Glass e responsável pelo Arquivo de Sutton, cuja descoberta e publicação dos negativos originais e correspondência permitiu desencadear a investigação.

A Michael Knights-Whittome, neto do fotógrafo, que ajudou a clarificar a ligação da família ao retrato.

Ao Dr. Hugo Xavier, Conservador do Palácio Nacional da Pena, agradeço a indicação da curiosa fotografia da sala de jantar no Palácio das Necessidades, inédita, e que constituiu o primeiro trabalho de David Knights-Whittome com que me cruzei.

Last but not least ao meu colega Ricardo Mateus Pereira pela sua fundamental participação neste estudo através da pesquisa e consulta de variadas fontes. 



Manuel Côrte-Real 

 






Sem comentários:

Enviar um comentário