terça-feira, 25 de setembro de 2012

Continue o presente.

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Augusto Brázio, série «Natureza», aqui


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O futuro contém a nossa morte e, depois dela, o infinito de nadas, chato como o ferro do cosmos, que antecedeu os nossos nascimentos.
A felicidade, se calhar, é desejar que as coisas não piorem muito, de dia para dia, para não se notarem tanto.
O presenteaquilo que ainda se tem, a começar por estar vivo e lembrarmo-nos de termos estado pior — é a felicidade maior, somada às memórias de felicidades que continuam vivas e que nos fazem sorrir, pertencer e desejar bem aos outros que ainda não as tiveram. Se não nos lembrarmos de termos estado pior ou não tivermos a esperança de ficarmos melhor, já não conta como felicidade; já não conta como presente. Não é só dizer “eu ainda consigo”: é preciso também haver a consciência de ter prazer, não em conseguir, mas nas coisas que se fazem.
Todos sabemos o que nos espera. Interessa apenas decidir não tanto o que fazer enquanto esperamos como descobrir as formas que ainda nos restam de nos distrairmos. A distracção é a forma mais exaltante da vida. Quem se pode distrair — amando, lendo, pintando, trabalhando, coleccionando, politicando — não pode ser inteiramente triste, não por não estar apenas simplesmente não-morto e vivo, mas por ter encontrado a maneira de fazer pouco do presente, em atenção ao passado ou ao futuro lembrado ou desejado, como momento e movimento em direcção a eles.
Restam as consolações.
Quando é ser momento ou movimento a única coisa, para se ser feliz, que se quer.




 Miguel Esteves Cardoso, Público, de 25/09/2012


1 comentário:

  1. Caro Dr. Araújo,
    Li a sua extraordinária entrevista ao Expresso on-line e gostaria muito de lhe enviar um email, mas não encontro endereço para tal.
    Se porventura não vir inconveniente - o que tenho a dizer-lhe nada tem de impertinente - peço-lhe que me contacte para algum dos meus endereços: pintosa@ist.utl.pt, por exemplo, ou para o Google: http://conquistadoresdealmas.blogspot.pt/

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