domingo, 26 de outubro de 2014

De Tiananmen a Hong-Kong.

 
 
 


 
         A história é incrível, muito ao gosto da redacção do Malomil. Já temos mostrado imagens da Umbrella Revolution, mas estas são talvez as mais reveladoras de todas – e, num delicioso paradoxo, apesar de serem falsas...
         De visita à província de Hubei, o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, fez-se fotografar à chuva, de calças arregaçadas. É muito típico os dirigentes chineses fazerem-se fotografar assim, para exaltarem a sua faceta popular, despojada e autêntica, longe de cultos da personalidade e outros artifícios. No fundo, um artifício para mostrar que não se é artificial, mas adiante.
         A fotografia ganhou, vá-se lá saber porquê, o prémio de fotojornalismo da China popular. O mais curioso é que, como se conta aqui, houve logo quem se lembrasse de colocar o Presidente Xi, de guarda-chuva amarelo e calça arregaçada, como herói das manifestações de Hong-Kong. Actualmente é muito comum fazer-se isto a dirigentes políticos, colocando-os em lugares caricatos. Hong-Kong, porém, não é um lugar caricato.


 

 
 
         Mais: há coisas neste episódio que mostram até que ponto Hong-Kong não é Tiananmen. Desde logo, estamos em Hong-Kong, não no coração cerrado da Cidade Proibida. Estamos numa terra aberta, com tradições democráticas e com uma exposição mediática e uma visibilidade que tornam difícil reprimir os protestos pela força e com sangue. Do Homem do Tanque, de que já falámos aqui, ninguém mais ouviu falar. A imagem do Homem do Guarda-Chuva, apesar de falsa, correu mundo.
Depois, e como esta história tão bem demonstra, existe agora uma realidade muito mais pujante: a Internet. A Google pode pactuar com a censura e a opressão de liberdade, mas a imagem do Presidente no centro dos protestos circulou pelo mundo inteiro. Fizeram, inclusivamente, uma capa em PhotoShop da revista Time.  Aqui humor, uma arma letal, A coisa tornou-se «viral», como agora se diz e dirá cada vez mais, até devido ao pânico instalado à volta do Ébola. Isto é outra forma de Ébola, contagiante e hilariante. Artificiosa, decerto, mas virtuosa naquilo por que luta e se bate: a liberdade.      
 
 
Para o Pedro, amigo grande, que está lá, no centro do tufão,
 
António Araújo
 

3 comentários:

  1. Não posso estar mais de acordo.O humor é uma arma terrivel quando usada com senso e arte.Os ditadores raramente desconhecem esse fato.

    ResponderEliminar
  2. Em certas situações, o humor é a única coisa séria.

    ResponderEliminar
  3. Dificil não é fazer humor.Creio que quando se fala em sentido de humor tem mais a haver com poder de encaixe quando somos "nós"(singular ou coletivo)o alvo.

    ResponderEliminar