A história é incrível, muito ao gosto
da redacção do Malomil. Já temos mostrado imagens da Umbrella Revolution, mas estas são talvez as mais reveladoras de
todas – e, num delicioso paradoxo, apesar de serem falsas...
De visita à província de Hubei, o
Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, fez-se fotografar à
chuva, de calças arregaçadas. É muito típico os dirigentes chineses fazerem-se
fotografar assim, para exaltarem a sua faceta popular, despojada e autêntica, longe
de cultos da personalidade e outros artifícios. No fundo, um artifício para
mostrar que não se é artificial, mas adiante.
A fotografia ganhou, vá-se lá saber
porquê, o prémio de fotojornalismo da China popular. O mais curioso é que, como se conta aqui, houve
logo quem se lembrasse de colocar o Presidente Xi, de guarda-chuva amarelo e calça arregaçada, como
herói das manifestações de Hong-Kong. Actualmente é muito comum fazer-se isto a
dirigentes políticos, colocando-os em lugares caricatos. Hong-Kong, porém, não é um
lugar caricato.
Mais: há coisas neste episódio que
mostram até que ponto Hong-Kong não é Tiananmen. Desde logo, estamos em
Hong-Kong, não no coração cerrado da Cidade Proibida. Estamos numa terra aberta, com tradições
democráticas e com uma exposição mediática e uma visibilidade que tornam difícil
reprimir os protestos pela força e com sangue. Do Homem do Tanque, de que já falámos aqui, ninguém mais ouviu falar. A imagem do Homem do
Guarda-Chuva, apesar de falsa, correu mundo.
Depois,
e como esta história tão bem demonstra, existe agora uma realidade muito mais
pujante: a Internet. A Google pode pactuar com a censura e a opressão de
liberdade, mas a imagem do Presidente no centro dos protestos circulou pelo
mundo inteiro. Fizeram, inclusivamente, uma capa em PhotoShop da revista Time. Aqui humor, uma arma letal, A coisa tornou-se «viral», como agora se diz e
dirá cada vez mais, até devido ao pânico instalado à volta do Ébola. Isto é
outra forma de Ébola, contagiante e hilariante. Artificiosa, decerto, mas virtuosa naquilo por que luta e se
bate: a liberdade.
Para o Pedro, amigo grande, que está lá, no centro do tufão,
António Araújo
Não posso estar mais de acordo.O humor é uma arma terrivel quando usada com senso e arte.Os ditadores raramente desconhecem esse fato.
ResponderEliminarEm certas situações, o humor é a única coisa séria.
ResponderEliminarDificil não é fazer humor.Creio que quando se fala em sentido de humor tem mais a haver com poder de encaixe quando somos "nós"(singular ou coletivo)o alvo.
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