terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Estoril, 1940.

 

 
Dejan Tiago Stankovic (1965-)
 
 
 
 
Dejan Tiago-Stanković (Belgrado, 1965) é escritor e tradutor literário nascido na Jugoslávia, actual Sérvia,  e naturalizado português.
Mora em Lisboa e em 2012 estreou-se na ficção com De onde eu era já não sou e outros contos de Lisboa. O seu mais recente livro, Estoril, lançado na Sérvia em 2015, acaba de ser publicado em Portugal, pela Contemporânea. Um romance com um «fundo real» – e alusões a múltiplas personagens históricas – cujo enredo se passa no Portugal dos anos 1940. Aí o subtítulo («Um Romance de Guerra») de uma obra que mergulha nos mares turvos do Estoril, povoados de espiões, refugiados ilustres, agentes da polícia política portuguesa, príncipes falidos e milionários em fuga para outras paragens.  

 
 
Hotel Palácio. Estoril
 
 
Quem navega por mar rumo a Lisboa, pouco antes de entrar nas águas calmas do Tejo, avista ao fundo, do lado esquerdo, a silhueta azulada de uma montanha. É a serra de Sintra. Ela corta o caminho das nuvens que carregam chuva. É por isso que o Estoril oferece aos seus visitantes mais dias de sol por ano do que qualquer estância balnear no Velho Continente. Assim consta, pelo menos, na brochura da Junta de Turismo que se refere a estas praias com o nome comercial de «Costa do Sol». É um nome bonito, mas nunca chegou a pegar. Na linguagem do dia-a-dia, a nossa pequena Riviera continua a ser referida por «Costa do Estoril» ou, mais frequentemente, como «a Linha».
         A ladeira ligeiramente ondulada por cima da baía é virada para sul e dá para o mar aberto. Nela estão espalhadas moradias e casas de férias de famílias abastadas da capital portuguesa. No sopé da ladeira as ondas lavam as areias e sopra sempre vento: é a praia do Tamariz, com as falanges de guarda-sóis, cabines de lona e espreguiçadeiras. A orla do oceano é seguida pela linha férrea recém-aberta e, paralelamente a esta, também recentemente inaugurada, a Estrada Marginal: à direita, a meia hora de carro, fica Lisboa; à esquerda, tão perto que se consegue ver, está Cascais.
         Quem estiver a chegar de comboio deve sair na estação do Estoril. Não na de São Pedro do Estoril, não na de São João do Estoril, nem sequer na do Monte Estoril. Quem quer chegar ao Hotel Palácio deve sair naquela paragem onde diz apenas Estoril. De seguida, tem de atravessar os carris e a estrada até chegar a um amplo parque de formato rectangular arranjado à francesa. No cimo do parque, no meio das palmeiras, ciprestes e arbustos multicoloridos, encontrará a maior atracção da estância balnear – o Grand Casino Estoril. Ao lado do casino fica um edifício monumental, todo branco, com fileiras de janelas de bela vista; umas dão para o parque, outras para o oceano. No topo do telhado há um grande letreiro que diz: Hotel Palácio. Na época, havia muitos mais hotéis no Estoril, mas vamos tentar não falar deles mais do que o necessário. E não é por serem mais pequenos ou menos luxuosos, mas porque cada um deles mereceu um papel principal e não secundário e, neste filme, já temos o Hotel Palácio como protagonista.
 
Dejan Tiago-Stanković
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário