domingo, 15 de setembro de 2019

A filosofia política dos sacos de plástico.





 

         Estou a ler Green Philosophy, do papa do conservadorismo Roger Scruton, e sobre o livro falarei depois, se tiver vagar, paciência, engenho – e vontade.

         Há uma coisa que Scruton diz e que, não sendo muito original (a discussão sobre «externalidades» é antiga e vasta), faz que pensar. A propósito dos plásticos, mas também poderia ser a propósito de outras coisas, como a construção de casas em leitos de cheias ou actividades poluentes. Diz ele, e com razão, que para umas empresas não pagarem por embalagens de vidro ou de outros materiais, para aumentarem o lucro ou pouparem usando o plástico, mais baratinho, todos nós acabamos por pagar – em custos ambientais mas em custos económicos, com as despesas de remoção, tratamento, etc., etc. Quer dizer – e isto não é dito por um marxista, mas pelo nome maior do conservadorismo de direita –, estamos todos a pagar para alguns, poucos, não pagarem. É uma espécie de imposto indirecto, ou oculto, a favor de uns privados, não destinado ao Estado para ser distribuído e gasto em despesas sociais. É um preço adicional que acarretamos. Quando paga mais barato por um produto numa embalagem de plástico, não está verdadeiramente a pagar mais barato; no imediato, parece mais barato, em comparação com uma embalagem de vidro, de cartão, de metal. Mas, na verdade, há um preço diferido, e bem elevado. O que julga que custa três euros se calhar vai custar-lhe cinco euros, o custo que vai suportar no ambiente que o envolve, na remoção e no tratamento, nos serviços de limpeza urbana, no que for. Estou a extrapolar um pouco a partir do que diz Scruton, mas creio que esta é uma injustiça oculta do nosso tempo, mais uma. Injustiça não é apenas vertical, ricos e pobres, ou geracional, de idosos para mais novos. É injusto, parece-me, que, para uns poucos pouparem nos custos de produção e aumentarem os ganhos, todos termos de pagar. Sem nos apercebermos disso, o que torna ainda menos transparentes, claras e leais as regras do mercado. Bom domingo.
 
 
 
 

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