sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Sobre o bife académico (2)

 
 




Fonte: FAO/Nações Unidas, aqui


 
         Não sei quem é o economista Ricardo Pinheiro Alves, que assina no Observador um artigo intitulado «Coimbra: Especulações sobre um Bife».


         O texto abre assim: «há um mês e meio uma faculdade obscura do Reino Unido, a Goldmsiths, anunciou que iria proibir o consumo de carne de vaca nas suas instalações».
 
         Suspeito que Ricardo Alves, um defensor de Boris Johnson e de um Brexit rápido, seja doutorado numa universidade menos obscura. Cambridge, por exemplo. Recomendo que veja o que fez Cambridge (desde 2016!), decerto uma universidade de terceira para os elevados padrões académicos do Prof. Alves. Leia aqui o que fizeram a Ulster University, a University of East Anglia e diversos colleges em Oxford, ou o que fizeram a Universidade de Edimburgo e a Westminster University. OK, doutor Alves?
 
      E não, não se proibiu o consumo de carne bovina em instalações nenhumas: nas ementas da cantina deixou de ser servida carne de vaca, mas quem quiser pode comê-la à vontade. De uma vez por todas: não está proibido o consumo de carne de vaca, a carne de vaca deixou de ser servida nas ementas da universidade.  Abstenho-me de comentar as afirmações de Assunção Cristas, segundo as quais «querer banir o acesso das pessoas, por exemplo, à carne de vaca, é tão ilegítimo como banir refeições vegetarianas», lembrando tão-só que, segundo sei, não existem recomendações da Organização Mundial de Saúde (Agência Internacional para a Investigação em Cancro) e da nossa Direcção-Geral de Saúde sobre moderação no consumo de vegetais, ao contrário do que sucede com a carne de vaca.

 
O melhor trecho do colunista Alves, porém, é a insinuação brincalhona de que o Reitor da Universidade é «sócio de um McDonald’s em Coimbra». Talvez não tão brincalhona assim, pois logo a seguir se diz: «Não seria a primeira vez, muito longe disso, que um lugar público era usado para benefício pessoal.» Lindo, não?
 
Também bom, muito bom: «O reitor é da área farmacêutica, pelo que não terá especiais conhecimentos sobre as questões ambientais

 
Melhor ainda, o colunista do Observador questiona as alterações climáticas, perguntando: «O alarmismo sobre a degradação do ambiente é justificado e há um ponto de não retorno a partir de 2030, como nos querem fazer crer? Ou há um aumento da temperatura média principalmente porque estamos num período interglacial quando a dita temperatura aumenta naturalmente? Ou ainda, há uma agenda anticapitalista por trás deste alarmismo, usando as questões ambientais em substituição da revolução para nos impor uma visão totalitária da sociedade?»

 
Sem comentários. Toda a opinião é livre, mas a imbecilidade deve ser denunciada.

 
Foi o que fiz, ou tentei fazer.
 
 
 

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