quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A Casa da Praia.


 
 
Eu também estive lá. Subia-se a um andar alto da Galeria Zé dos Bois, a Anabela esperava-nos na sua salinha dos feitiços, a luz quebrada de lupanar ou vidente, ficámos sentados ao quadrado da mesa como numa aula de crianças ou num workshop universitário. Ela serviu os copos, tropeçou no gelo, whisky e amendoins, vivências coloniais, e lá começou a contar a história – a sua história. E o que depois se seguiu é tão mágico e tão comovente que nem dá bem para descrever, só chorar por dentro ao ver ali, naquele belíssimo texto, nas fotografias antigas ou nos vídeos de agora, ao ver ali, dizia, o retrato de um país inteiro, contado por uma filha, em gesto do mais puro amor. Na praia da casa, a família reuniu-se há pouco, foram dar ao mar. Dar-lhe coisas preciosas e secretas que cada um tinha de seu, tão íntimo que esta história nem é contada pela Anabela Almeida, autora, criadora, encenadora e actriz deste sortilégio puro e tão bom. A Anabela não irá repetir em novos trabalhos algo tão autobiográfico. Razão suplementar para implorarmos, para exigirmos, novas e mais representações de A Casa da Praia, em Lisboa e pelo país todo – pois, como disse, é um país que ali está todo, mais o seu povo. Obrigado, Anabela.
 
 
 
 

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