terça-feira, 24 de maio de 2022

Uma memorável recordação da tão enternecedora da literatura de viagens.

 




Fernando António Almeida é nome cimeiro de quem nos convida a andarilhar por lugares apetecíveis, uns ao pé de casa, outros a raiar a fronteira ou a beijar rios ou oceano. Este seu livro intitulado Percursos de Fim-de-Semana, 1992, é uma das suas antologias que quem tem gosto pela viagem deve guardar nas estantes, pelas propostas que faz entre o Minho e o Algarve, são sugestões de alto sabor para Terras de Barroso ou Terras de Miranda ou de Alafões, nos campos do Mondego, até Tavira e seus arredores, depois passar por Lagos e Monchique. Um certo dia, fazendo releitura e à procura de um texto que me deixara vincada impressão, dei comigo a pensar que a descrição que ele faz do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros é texto imorredoiro, se acaso houver um levantamento do que há de melhor na nossa literatura de viagens este texto fatalmente ali terá lugar, possui todo o mérito literário, é digno de qualquer dos nossos grandes prosadores. Dada a sua extensão, aqui ficam alguns extratos expressivos, oxalá o leitor fique acicatado para procurar esta leitura fulgurante em qualquer biblioteca. Intitula-se este percurso “Ao sopro do mar”, vai-se deambular no maciço calcário:

“É um reino de pedra. É o reino da pedra. O reino da secura e da água oculta. O reino do calcário, branco, cinzento – rijo ou brando – seco. Terra de sal, também. Branco. Uma terra que ninguém quis, que ninguém tentou disputar – uma terra ingrata, escassa.

Duas terras principais, Aire e Candeeiros, escudado entre as duas, o planalto de Santo António. À Serra dos Candeeiros, não há ninguém que lhe não reconheça o dorso de pedra, cinza, redondo e alongado, a longa massa de pedra desnudada percorre a nascente da Estrada Nacional 1, entre Rio Maior e a Batalha.

 

Mário Beja Santos





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