segunda-feira, 18 de julho de 2022

São Cristóvão pela Europa (186).

 



Semur-en-Auxois, na Idade Média o Bailio de Auxois, fazia parte do território feudal do Ducado da Borgonha. Ainda hoje, pertencendo ao departamento de Côte d’Or, é uma relíquia do património medieval.

 


 



 

O Museu Municipal é de visita obrigatória. Qual não foi o meu desânimo quando inesperadamente o encontrei fechado para obras. Só que a amável directora, Alexandra Bouillot-Chartier, permitiu que ele abrisse por uns momentos para o Malomil.

É que o Museu possui um extraordinário fresco representando São Cristóvão. Ele foi objecto de um estudo aprofundado da historiadora Fabienne Joubert, professora da Sorbonne e antiga conservadora do Museu de Cluny em Paris (o Museu Nacional da Idade Média). Citarei o seu estudo.

 


Este fresco foi descoberto em 1977. Encontrava-se oculto pelo retábulo da Árvore de Jessé na Igreja de Notre Dame de Semur-en-Auxois nas fotografias a seguir:

 



Em baixo do fresco, uma frase. Muito sumida, foi assim reconstituída:

Christofori sancti speciem quicunque tuetur

Illa namque die nullo languore tenetur

Em português :

Quem vir a imagem de São Cristóvão

Não será atingido no mesmo dia por nenhuma doença.

 

O estilo da pintura situa-a na segunda metade do Século XIV.

Tem alguns elementos muito distintivos, nomeadamente um fundo vermelhão ornado por um sinal muito curioso e enigmático composto por duas letras S de um lado e de outro de um pequeno tronco.

Há também a assinalar a atitude muito confortável do Menino Jesus que expõe as plantas dos seus pés, os redemoinhos provocados na água pelas pernas do santo e pelo seu cajado, as espécies de peixes, nomeadamente uma enguia.

A qualidade da pintura permite pensar num autor como Jean de Bruges que esteve activo na corte da Borgonha do duque Filipe o Audaz, bisavô de Carlos o Temerário.

Encontram-se os mesmos S em obras deste pintor. Na primeira ao alto à direita, na segunda no fundo:




Fotografias de 25 de Maio de 2022

 

José Liberato





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